A PLACIDEZ DE EXPLORAÇÃO HOLÍSTICA E A MARGINALIZAÇÃO DE CERTOS BLOCOS IDIO-CULTURAIS NA LITERATURA ANGOLANA
Desde a Pré-História, a arte tem representado uma actividade fundamental do ser humano, constituindo-se em uma forma de comunicação que tem estado presente desde os primeiros passos dados na construção da cultura.
A abordagem sobre a presença da holisticidade na literatura angolana, encaminha-nos nos meandros da cultural especial. Há cidadãos angolanos que não podem se comunicar nem absorvem a literatura como às pessoas ditas “normais”. São os surdos, muitas vezes vistos como meros deficientes pela comunidade, são, no entanto, um grupo com características estruturante de uma étnia.
Estima-se que Angola tem mais de dois milhões e meio de cidadãos surdos. Estas pessoas possuem um paradigma comum de construção cultural (a surdez), uma língua (a Língua Angolana de sinais, LAS), uma filosofia (que define o sujeito surdo angolano como um ente dotado de identidade própria), uma cultura (hábitos, costumes, estereótipos, etc.) e outros elementos de etnia.
Na literatura angolana, os surdos são vistos como vazio-ausente, constituindo, desta forma uma clara placidez de exploração holística da arte literária, se afigurando como uma construção incompleta com a marginalização de certos grupos idioculturais. Isso torna-se mais evidente com a exclusão da língua e da cultura dos surdos angolanos, que não são ouvintes precários. São apenas pessoas surdas, e o paradigma para a construção da sua cultura e linguística é a surdez.
O conceito de literatura surda, definida como a literatura que se ocupa na abordagem dos assuntos surdos, tanto pelo uso das línguas orais como pelo uso da própria língua de sinais, independentemente de o assunto ser sobre o mundo do surdo ou não, desde que se recorra a língua de sinais como idioma de registo, estámos em presença de literatura surda.
Não há na literatura angolana uma área regidos pelos cânones científicos que possamos chamá-la de literatura surda angolana, tanto a nível quantitativo como qualitativo os seus elementos conformadores são de quase-inexistência.
Então vejamos:
- Que autores angolanos (ouvintes ou surdos), já publicaram sobre assuntos surdos?
- Quantos são?
- Qual é a qualidade desta literatura?
Nas faculdades de letras, muitos estudantes e docentes desconhecem o conceito de literatura surda.
Há raros exemplos da literatura surda: o Dicionário Digital da Língua Gestual Angolana (2005) e o Dicionário da Língua Gestual Angola (2008), publicados pelo INEE (Instituto Nacional para a Educação Especial) e o Manual do Interprete da Língua Angolana de Sinais, de Nuno Dala. Portanto, o estudo da literatura não deve, simplesmente, cingir-se apenas nos chamados clássicos universais.
Um estudo transversal e inclusivo das várias literaturas possibilitará que os formados nas distintas instituições estejam munidos dos universais literários necessários a uma produção e crítica literárias munidas de holisticidade e radicadas na ciência.
Fernando Dhyakafunda
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