O reino africano do eSwatini enviou o exército para as grandes cidades para reprimir protestos de jovens pró-democracia, anunciaram esta terça-feira testemunhas e ativistas deste país na África Austral.
Os protestos são raros no eSwatini, um pequeno Estado na fronteira entre Moçambique e África do Sul que até há poucos anos tinha o nome de Suazilândia. Os partidos políticos estão proibidos, mas nas últimas semanas irromperam protestos violentos em partes do território contra aquela que é a última monarquia absoluta de África.
Durante o dia de hoje, terça-feira (29.06), o Governo do eSwatini anunciou a imposição de um recolher obrigatório e o encerramento das escolas.
Testemunhas nas duas principais cidades, Manzini e Mbabane, dizem ter visto soldados a patrulhar as ruas, onde manifestantes queimaram pneus e danificaram carros.
Em Manzini, uma mulher afirmou à agência France-Presse (AFP) que ela e os seus colegas estavam escondidos no restaurante onde trabalhavam e não podiam ir para casa.
“Os helicópteros estão a apagar fogos nas estradas”, afirmou a mulher, sob condição de anonimato, acrescentando que as lojas de móveis estão a ser queimadas desde segunda-feira.
Outras fontes citadas pela AFP relatam também pilhagens e incêndios em Matsapha, uma área comercial a oeste de Manzini.
Lucky Lukhele, porta-voz da Rede de Solidariedade da Suazilândia, disse à agência noticiosa francesa que a noite de segunda-feira foi “a pior noite de sempre”.
“Um jovem foi alvejado à queima-roupa pelo exército e alguns outros estão neste momento no hospital”, precisou Lukhele.
Rei é acusado
O secretário-geral da Frente Democrática Unida da Suazilândia, Wandile Dludlu, acusou o rei do eSwatini, Mswati III, de na segunda-feira ter “libertado soldados e polícias armados sobre civis desarmados”.
De acordo com Dludlu, mais de 250 manifestantes ficaram feridos por balas ou com ferimentos devido a embates.
O primeiro-ministro interino, Temba Masuku, que substituiu Ambrose Dlamini após a sua morte por covid-19 em dezembro, pediu “calma, contenção e paz”.
Masuku negou também os rumores de que o rei Mswati III tenha fugido, apontando que o chefe de Estado está “no país e continua a governar”.
Durante o dia de hoje, Masuku anunciou novas restrições, justificando-as com a necessidade de impor regras para controlar a propagação da variante delta do coronavírus SARS-CoV-2.
“Os acontecimentos dos últimos dias têm sido bastante alarmantes e entristecedores. Temos visto violência em várias partes do país perpetrada por uma multidão rebelde”, apontou o chefe do Governo.
Masuku acrescentou que o Executivo está a trabalhar “incansavelmente para trazer o país de volta a normalidade”, segundo a agência noticiosa Efe, tendo defendido que estas restrições não visam limitar a liberdade de expressão no reino do eSwatini.
Na semana passada, o Governo proibiu manifestações e o comissário da polícia nacional, William Dlamini, alertou que os seus homens iram adotar uma política de “tolerância zero”.
No poder desde 1986, Mswati III, que tem 14 mulheres e mais de 25 filhos, é alvo de críticas pelo seu punho de ferro e pelo seu estilo de vida luxoso num país em que dois terços dos 1,3 milhões de habitantes vivem abaixo do limiar da pobreza.