Angola: A cortina de ferro da imprensa angolana

Já lá vão 45 anos desde que este portentoso país implantado na costa ocidental do continente africano, a sul do equador, deixou de ser a jóia da coroa do império colonial português, graças ao sangue derramado pelos melhores filhos da pátria, tendo conquistado o estatuto de estado independente e soberano, proclamado perante a África e o mundo pela voz serena do poeta-Presidente António Agostinho Neto.

Porém, a independência total e completa dos órgãos de comunicação social e a soberania dos jornalistas angolanos, mesmo estando longe das grilhetas controlistas do partido único e das agruras da guerra civil, continuam sendo adiadas. Tal situação deve-se ao instinto policial de determinados actores da cena política, homens e mulheres de corpo sem alma, que ainda não se libertaram da mania doentia de controlar toda e qualquer opinião, não importa a razão, preferindo manter a síndrome da obstipação, ao arrepio da constituição.

A história dos últimos 45 anos tem uma boa explicação para a cortina de ferro que teima em inquinar a imprensa angolana.

Os principais acontecimentos que marcaram a proclamação da independência não escaparam ao faro aguçado dos escribas, narradores e fotógrafos dos jornais, rádios e revistas que constituíam a paisagem mediática da época. Na altura, a televisão era uma novidade de acesso restrito.

Com o reconhecimento e a consolidação da República Popular de Angola, os órgãos de comunicação social foram reconvertidos em Meios de Difusão Massiva (MDM), e os jornalistas enfileirados na categoria de trabalhadores da informação, alguns degraus abaixo dos intelectuais revolucionários.

A revolução varreu todos os diários e semanários herdados da era colonial, como A Província de Angola, Diário de Luanda, O Comércio, ABC, entre tantos outros títulos considerados reaccionários.

A machadada na diversidade foi mais contundente em 1977 com o encerramento da Rádio Ecclésia, na sequência do vendaval do 27 de Maio, que arrastou também alguns bons jornalistas.

Apesar das feridas daquele período de puro canibalismo político, os profissionais da comunicação social, de um modo geral, nunca deixaram de cumprir o seu dever de sacerdócio. Tanto nos corredores cinzentos da política doméstica, como nas tribunas mais reluzentes da arena internacional, os jornalistas angolanos sempre marcaram presença, desde o reconhecimento de Angola como membro de pleno direito das Nações Unidas, confirmado e autenticado em Nova York, no dia 1 de Dezembro de 1976, pelo primeiro titular da pasta das relações exteriores, José Eduardo dos Santos, que viria a ser Chefe de Estado com um consulado longevo de cerca de quatro décadas.

Os peregrinos do jornalismo angolano fizeram vários incursões pelos arranjos incontornáveis na defunta OUA, no Movimento dos Não Alinhados, nos Países da Linha da Frente, na SADCC, nos PALOP, enfim, até na constituição da União Africana, em 9 de Julho de 2002, em Durban, nas praias frias do Índico.

Jornalistas de várias gerações somaram pontos nos estádios dos cinco continentes, em jogos africanos, mundiais e olimpíadas, em que a bandeira Angola foi hasteada ao lado de outras nações geradoras de recordistas e campeões mundiais. Gigantes do jornalismo desportivo como Rui Carvalho, Francisco Simons e António Ferreira, ou melhor, o bem humorado Aleluia de gratas memórias, foram testemunhas oculares. Perguntem ao mestre Arlindo Macedo, ao craque Manuel Rabelais, sem esquecer o distribuidor de todas as jogadas, Mateus Gonçalves, que aos 21 anos de idade fez o relato da final do campeonato do mundo de 1986, o mundial do Maradona, no mítico estádio Azteca 2000, na Cidade do México, em que Argentina bateu a toda poderosa Alemanha por 3 a 2, e El Pibe foi eleito o melhor jogador do mundo. Para todo o sempre.

O jornalismo desportivo foi igualmente abrilhantado com a perícia de Silva Canbembo, o escriba que num belo dia em Abidjan foi convertido em tradutor do eterno Alexandre Gourgel, que mais tarde viria a ser deputado sem nunca perder o charme porque sabia que a política sem graça não tem graça nenhuma. “Dí-la que o meu coração troveja” – assim se pronunciou Alexandre Gourgel, ou melhor, Xandoca, rendido aos encantos de um beldade ivoirense. E o bom do Candembo traduziu fielmente…

Há muitos outros astros do jornalismo desportivo. Mas este artigo é realmente discriminatório porque está limitado à memória do autor, embaciada pelo tempo que não perdoa.

A invencibilidade da selecção masculina de basquetebol, que dominou todas quadras do continente e arredores, os incontáveis troféus do andebol feminino, bem como os dribles e tropeções dos Palancas Negras, foram competentemente autografados com a pena versátil e a voz marcante de respeitáveis jornalistas, que fizeram ecoar as alegrias do desporto em todos os recantos da bela pátria angolana.

Em boa verdade, o desporto foi desde a primeira hora o panteão do pluralismo no jornalismo, distanciando-se da postura monocórdica imposta pelo DIP do CC do MPLA, o omnipresente departamento de informação e propaganda com poderes absolutos para definir quem eram os jornalistas patriotas e quem eram os inimigos infiltrados ou jornalistas ao serviço do imperialismo.

O jornalismo cultural será tema para outra crónica, tendo em conta que é necessário espaço redobrado para a dimensão de grandes cultores das ricas tradições do povo angolano e da universalidade da cultura nacional, como António Fonseca, Jomo Fortunato, Gilberto Júnior, Álvaro Macieira, Norberto Costa, João Miguel das Chagas e José Luís Mendonça, jornalista e poeta de inquestionável verticalidade.

A RNA moldou pelo menos duas gerações de comunicadores de elevada qualidade, desde o distinto Ladislau Silva que conserva em si mesmo o elixir do rejuvenescimento, ao insuperável Afonso Quintas, o único radialista que todas as noites faz concorrência à imponência da televisão.

Os principais protagonistas do jornalismo económico sempre foram vistos como impertinentes e provocadores. Por isso, Carlos Rosado de Carvalho e outros profissionais habilitados a escrutinar milimetricamente as contas públicas, são alvo de indisfarçável censura, em pleno século 21, razão pela qual deverão merecer tratamento especializado num outro artigo.
Convém recordar que não foi por acaso que, somente em 1989, cartorze anos depois da independência, o poder político permitiu que um jornalista angolano podesse exercer a profissão em território nacional como correspondente de um órgão de comunicação social estrangeiro, de um país ocidental. O incontornável Reginaldo Silva, um dos pilares do jornalismo económico e ex-preso político do 27 de Maio, seria finalmente credenciado como correspondente da BBC de Londres. A autorização inédita teve a chancela de Paulino Pinto João (PPJ), o mais temível Director do DIP, que tempos depois se bandeou para a oposição e fundou uma nova força política, a CDNA, que apoiou a candidatura de Jonas Savimbi nas eleições presidenciais de 1992.

O longo conflito armado, particularmente a partir da década de 1980, forjou corajosos repórteres de guerra que mantinham o país informado sobre os avanços e recuos no teatro das operações. A rádio a a televisão produziram programas dedicados inteiramente à intensa actividade militar que decorria em todo o país. O programa OPÇÃO da TPA, produzido pelos irmãos Victor e Carlos Henriques, era campeão de audiência.

Entre os jornalistas que se notabilizaram na cobertura dos episódios mais marcantes e sombrios das várias guerras de Angola, destacam-se nomes de gigantes que partiram precocemente para a eternidade, como Kito Neves da ANGOP, Abel Abraão da RNA, que teve a cabeça a prémio durante o cerco da UNITA à capital do Bié, e Faria Horácio da TPA, que também foi protagonista da resistência na cidade mártir do Kuito.

O maior repórter de guerra foi sem dúvidas Jaime Azulay, um ex-FAPLA que reinventou o jornalismo e hoje pleiteia como advogado e docente no tribunal e na academia, sem se divorciar do bom jornalismo. Vale sempre sublinhar o nome de William Tonet, de quem falaremos mais adiante, assim como Nguxi dos Santos, outro ex-FAPLA que se notabilizou por detrás das câmaras da TPA.

Entre os jornalistas com impressões digitais em memoráveis reportagens de guerra destacam-se igualmente Nelson Pedro da RNA, José Amorim da TPA, Carlos Lousada e Osvaldo Gonçalves do Jornal de Angola, bem como João de Almeida da RNA/Benguela, hoje timoneiro da MFM, estação de rádio inovadora fundada por Bruno Reis, o sonoplasta discreto, mixado e masterizado nos estúdios centrais da Rádio Nacional.

O autor deste artigo posicionou-se durante quase duas décadas entre os mais impertinentes jornalistas despachados para várias frentes de combate, desde as invasões sul africanas no Cunene, passando pelos rescaldo da batata do Kuito Kuanavale, em Abril de 1988, até ao fim da guerra de Angola, ao serviço da RTP, a primeira televisão a mostrar os restos mortais do líder fundador da UNITA, nas matas do Lucusse, um dia depois de ter tombado em combate, aos 22 de Fevereiro de 2002.

A guerra civil, que inflamou os ânimos nativos durante quase 30 anos, revelou a vulnerabilidade dos jornalistas angolanos, visto que, além de serem controlados pelo partido do governo, passaram a ser também vigiados e até alvejados pela rebelião armada da UNITA, que chegou a prometer cortar os pés a todos os profissionais da comunicação social estatal. Não é por acaso que muitos dos mais reputados jornalistas, apesar de não pouparem críticas ao desempenho dos sucessivos elencos governamentais do MPLA, não se revêm, nem de perto, nem de longe, nas teses do maior partido da oposição.

No início dos anos noventa do século passado, depois dos acordos de Bicesse que propiciariam as primeiras eleições livres da história de Angola, o jornalismo ganhou um grande impulso, assistindo-se ao registo de dezenas semanários que mudariam para sempre o ambiente cénico da imprensa angolana.

O passo decisivo foi calibrado pela newsletter IMPARCIAL FAX, cujo director e fundador, Fernando Ricardo Perdigão de Melo Esteves, ou simplesmente Ricardo de Melo, teve um destino trágico com um tiro fatal disparado a queima roupa, numa manhã chuvosa de Janeiro de 1996, nas escadas do prédio em vivia, na Rua Direita de Luanda. Até hoje, não se conhecem os resultados de qualquer investigação criminal.

Com o lançamento do FOLHA 8, obra prima do jornalista e jurista William Tonet, que não escapou aos calabouços da DNIC, predecessora do SIC, quebravam-se as primeiras algemas numa altura em que os jornalistas indígenas não estavam autorizados a fazer perguntas directamente ao Presidente da República.

A pujança da imprensa privada angolana ganharia uma outra dimensão com o SEMANÁRIO ANGOLENSE, liderado pelo inigualável Graça Campos, julgado, condenado e preso por causa de sucessivos escritos incómodos. Graça Campos foi o primeiro editor a estampar na capa de um jornal os rostos dos detentores das maiores fortunas do país, figuras políticas de proa e titulares de importantes cargos públicos.

Na mesma sintonia, surgiram outros semanários como o AGORA, dirigido por um dos mais refinados escribas da imprensa angolana, Aguiar dos Santos, já falecido, autor da mais realista caracterização do estilo de governação adoptado naquela época: “José Eduardo dos Santos insiste em governar na solidão do palácio sem perceber que o povo demanda por uma governação menos solitária, mais solidária”. O Presidente João Lourenço, que na altura era o secretário do partido para a informação, terá fruído com particular atenção os artigos do saudoso Aguiar dos Santos.

Foi precisamente no semanário AGORA que Rafael Marques publicou o célebre artigo intitulado “O Baton da Ditadura”, que lhe custou alguns meses de cadeia, culminando na primeira greve de fome protagonizada por um jornalista e activista angolano. Angola inteira estremeceu e o mundo ficou sensibilizado. Hoje, Rafael Marques é tão somente uma inesgotável fonte de inspiração para as novas gerações.

No mesmo período, um dos mais persistentes profissionais do jornalismo angolano, Américo Gonçalves, fundou o JORNAL ANGOLENSE (não confundir com o Semanário Angolense), na sequência de desinteligências insanáveis com o antigo compagnon de route, Graça Campos. Um assunto que não cabe nestas reflexões. Com o lançamento do Jornal Angolense, foi nomeada a primeira mulher angolana directora de um jornal, Susana Mendes, incansável guerreira de causas nobres.

O saudoso Américo Gonçalves, que se celebrizou com o pseudónimo OCIREMA (Américo ao contrário) fundou igualmente A CAPITAL, semánario de referência que gerou um punhado de jovens jornalistas que hoje dão cartas em diferentes instituições públicas e privadas.
Entre os jovens que despontaram com a mídia privada, destacam-se Tandala Francisco, José dos Santos, Ana Margoso, Mariano Brás e Dani Costa, jovens que já naquela altura questionavam as motivações do governo, que decidiu atribuir aos semanários emergentes o estatuto de inimigos a abater, ao invés de os considerar parceiros imprescindíveis para a construção da democracia.

Se o governo não tivesse torpeado a imprensa privada, Angola seria um país menos desigual e a corrupção não teria atingido a dimensão estratosférica que hoje põe de boca aberta os maiores gangsters dos cinco continentes.

A afirmação da imprensa não estatizada decorreu em perfeita sintonia com um protagonismo mais actuante e abrangente do Sindicato dos Jornalistas Angolanos, sob a liderança de Ismael Mateus, que não poupou esforços numa verdadeira batalha em várias frentes, tanto pelos direitos dos profissionais da classe, como pelo rigor e a ética no exercício da profissão. A dinâmica empreendida por Ismael prosseguiu com a imbatível Luísa Rogério, actual presidente da Comissão da Carteira e Ética, que passou o testemunho ao visionário Teixeira Cândido, cuja capacidade de negociação tem sustentado importantes conquistas para a única classe profissional que nunca fez greve.

Paralelamente aos semanários, as emissoras internacionais Voz da América, BBC e Deustche Wele, com diligentes correspondentes angolanos, também reforçaram a pluralidade emergente. Com o renascimento da Rádio Ecclésia no Dia do Pai,19 de Março de 1997, desabrocharam novos profissionais talentosos e irreverentes.

Graças à Emissora Católica de Angola, os cidadãos de segunda e terceira categorias, que não tinham espaço na imprensa pública, ganharam voz activa. A versatilidade do João Pinto, o actual guru da MFM, marcou o início de uma nova era com o Debate Informativo nas infalíveis manhãs de sábado. A Ecclésia tornou-se sintonia obrigatória, chegando a provocar profundos desencontros entre a Igreja e o Estado, que protelou por muito tempo a extensão do sinal a todo o território nacional.

Um dia, quando se levantar a cortina de ferro, alguém deverá explicar os meandros da migração massiva (ou maciça?), no início de 2007, de valiosos quadros da Ecclésia para a TPA. Mário Vaz, Laurinda Tavares, Cristiano Barros, Alexandre Cose, Benedito Kayela, Neto Júnior e… João Pinto, pois claro. O insuspeito Gustavo Silva, engenheiro agrónomo sacramentado no planalto central com a melhor matéria orgânica do jornalismo, terá seguramente uma palavra a dizer.

A LAC, Luanda Antena Comercial, a sintonia azul da cidade, com o seu toque de modernidade, concebida ainda na vigência do partido único, conseguiu marcar a diferença na pluralidade e no bom senso, com um naipe selecto de profissionais capitaneados pela directora agregadora Maria Luísa, lado a lado com José Rodrigues, entrevistador e pesquisador tarimbado para reescrever sem adulterar a história recente de Angola, e Mateus Gonçalves, o único jornalista angolano credenciado pela FIFA para participar na votação do ballon d’or, galardão atribuído ao melhor jogador do mundo.

Com a ascensão do Presidente João Lourenço, embalado na promessa de corrigir o que está mal, registou-se uma abertura sem precedentes que mudou para melhor a linha editorial dos órgãos de comunicação social públicos.

A TPA passou a retratar a podridão de um regime alicerçado na pilhagem e na mentira. A voz sonante do maior ícone da televisão, Ernesto Bartolomeu, e a eloquência do inconfundível Mário Vaz, encorporaram as denúncias públicas sobre uma série de obras faraónicas que consumiram milhões mas nunca trouxeram soluções.

O Jornal de Angola dedicou páginas inteiras à corrupção institucionalizada. A RNA relatou fielmente as arguições e detenções de gente poderosa que se achava acima da lei.

Novos comentadores e analistas de diferentes sensibilidades ganharam espaço na média pública. Para carimbar o que parecia ser uma nova independência nacional, com uma imprensa verdadeiramente livre, o Presidente da República abriu as portas do palácio a todos os órgãos de comunicação nacionais e estrangeiros, uma iniciativa que se consubstanciou em duas entrevistas colectivas bastante concorridas. Os jornalistas angolanos eram os homens e mulheres mais felizes do planeta.

Mas havia algo que não batia certo. As críticas ao desempenho do novo executivo não mereciam igual destaque e o contraditório continuava a ser ignorado.

O agravamento da crise económica, com a eclosão da pandemia da Covid19, afunilou sobremaneira a margem de manobra dos profissionais da comunicação social. Apesar da vulgarização das tecnologias de informação e comunicação, que possibilitam o teletrabalho em quase todos os ramos de actividade, os órgãos privados estão praticamente em vias de extinção, enquanto a imprensa pública vai dando sinais de recuos injustificados, ameaçando deitar por terra as conquistas alcançadas nos últimos três anos.

A trincheira firme está nos cartoons do indomável Sérgio Piçarra.

A queda da popularidade do Presidente João Lourenço, consequência inevitável da carestia de vida e do crónico défice de comunicação do partido maioritário e do seu próprio executivo, tem propiciado o ressurgimento de propagandistas e agitadores no lugar de jornalistas, facto que tende a desvirtuar o papel da imprensa nos dias de hoje.

Só assim se explica que, 45 anos depois da proclamação da independência e em 18 anos de paz efectiva, ainda não foi completamente removida a cortina de ferro que separa a imprensa pública da privada, qual “muro de Berlim” em plena era da globalização, como se as regras e as técnicas do jornalismo, assim como a ética e a deontologia profissionais, estivessem condenadas a mutações genéticas em função da titularidade dos órgãos de comunicação social.

Parafraseando um dos maiores escribas de todos tempos, Gustavo Costa, apostar no bom jornalismo significa rejeitar a mediocridade e distanciar-se da imbecilidade, dando voz a mentes abertas e descomplexadas que tenham frontalidade e lucidez para alertar os principais decisores, particularmente o Titular do Poder Executivo, para as derrapagens que podem lançar o país para o fundo das ravinas mais profundas deste tempo nebuloso.
A independência nacional não pode ser comemorada com ordens superiores.

Absolutamente.

 

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