Angola: Advogado vai processar Estado angolano e polícia por morte de manifestante

O advogado Zola Bambi afirmou hoje que vai prestar apoio judiciário à família do jovem morto em Luanda numa manifestação, admitindo avançar com processos criminal e cível contra o Estado angolano e a polícia.

Zola Bambi, que integra o Observatório para a Coesão Social e Justiça, organização que se dedica à defesa dos direitos humanos, declarou à Lusa estar mandatado pela família para avançar com um processo-crime “para responsabilizar aqueles que provocaram a morte do jovem Inocêncio quando participava numa atividade que, legalmente, não podia ter causado o que aconteceu, que foi uma morte brutal”.

Inocêncio Matos “Beto”, de 26 anos, foi declarado morto na quinta-feira, após ter sido conduzido ao hospital, tendo sido alegadamente vítima de agressão física com objeto contundente, segundo os médicos.

No entanto, testemunhas dizem que o estudante foi baleado pela polícia durante uma manifestação frustrada na quarta-feira, Dia da Independência em Angola, e o médico e deputado da UNITA Maurílio Luyele acusou a polícia de “manipular” o corpo clínico do hospital Américo Boavida para prestar informações falsas.

“Estamos solidários com a família, seguindo a nossa tradição de acolhimento para quem deixou este mundo e, posteriormente, no momento certo, vamos dar seguimento ao processo-crime visando o Estado e a polícia angolana”, afirmou Zola Bambi, que hoje se deslocou ao local do óbito para apresentar condolências aos familiares do jovem.

“Na sequência será interposto um processo cível para indemnizar os familiares e ressarcir os danos morais e todos quantos foram causados pelo desaparecimento do Inocêncio”, acrescentou, em declarações à Lusa.

Segundo o advogado, a informação transmitida à família aponta para uma morte “causada por elemento contundente”, versão que disse ser desmentida pelas testemunhas oculares que acompanhavam o jovem.

“Ainda há pouco tempo, falámos com alguém que viu um agente a disparar e disse que a bala bateu no chão e fez ricochete, mas ainda não tivemos acesso, e o que nos interessa é o relatório da autópsia realizada”, sublinhou Zola Bambi, destacando que “há divergências” entre o que afirma a polícia nacional e o que foi relatado sobre os factos no local.

A manifestação, promovida pelos mesmos organizadores que já tinham visto um protesto reprimido pela polícia no mês passado, pretendia reclamar melhores condições de vida e a realização das primeiras eleições autárquicas em 2021, depois de terem sido adiadas este ano devido à covid-19.

Mas a concentração não chegou a acontecer devido às barreiras policiais colocadas nos acessos à cidade, com milhares de polícias a dispersar os jovens com recurso a gás lacrimogéneo e canhões de água.

A polícia garantiu não ter usado meios letais, mas manifestantes alegam que houve uso de munições reais.

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