Angola: “Análise da COP26 à luz das Escolas do Conhecimento” – Dorivaldo Manuel

Na Universidade Agostinho Neto, Faculdade de Ciências Sociais, em que me formei, a Professora Associada de Organizações Internacionais e Regionais Africanas, do departamento de Ciência Política, ADÉLIA DE CARVALHO, convidou-me para de forma introdutória explicar aos estudantes do 2° ano o que é COP26 e por que este fenómeno vai decorrer à 31 de Outubro até 12 de Novembro, em GLASGOW – Escócia.
 
Na verdade, depois da respeitada Professora apresentar-me, diante dos colegas, solicitei que me chamassem de colega sempre que me virem naquela instituição, e remeti que todo estudante de Ciência Política deve obrigatoriamente saber o que está acontecer no sistema político e internacional, deve assistir ao telejornal ou ler jornais e artigos noticiosos, uma vez que ver um Politólogo movido pelas teorias politológicas a fazer análise dos fenómenos políticos é diferente de ver um cidadão actualizado sobre as questões políticas a falar, não obstante haver uma possível compreensão e diferenciação técnica ou profissional entre ambos.
 
Assim;
 
Comecei a dizer aos colegas e numa perspectiva restrita que a POLÍTICA é segundo Marcelo Caetano uma actividade dos órgãos do Estado, cujo fim do Estado é conservar a sociedade política, garantindo a segurança e bem-estar.
 
Deste modo, a ideia de segurança está associada a conservação do meio ambiente à nível internacional, quero com esta premissa dizer que na COP26 o cerne é discutir sobre esta conservação ou uma temática dos Estados que deve ser analisada sem descurar a visão lógica de SEGURANÇA das seguintes escolas:
  • A ESCOLA IDEALISTA;
  • REALISTA;
  • LIBERALISTA;
  • CONSTRUTIVISTA;
  • E CRÍTICA: suas abordagens e tendências etc, que orientam os formados da Ciência Política e Relações Internacionais, não obstante moverem os Estados integrantes da ONU nas suas relações políticas de domínio horizontal no Sistema Internacional.
 
É importante enfatizar essas escolas na análise sobre os fenómenos políticos internacionais, porque não se pode dizer que a ONU é uma ORGANIZAÇÃO NÃO GOVERNAMENTAL DE PROPÓSITO GLOBAL realista, uma vez que cada Estado na COP 26 demonstra sua visão de segurança sobre o meio ambiente, uns são mais idealistas, outros são mais realistas, podendo haver uns mais Liberais, construtivistas e críticos.
 
A escola crítica, por exemplo, descurando a visão de segurança das outras escolas neste texto, teoricamente, mediante a tendência da segurança humana lança a abordagem que “as ideias são importantes desde que levemos em conta os perigos que possam causar”, ou seja esta escola enfatiza a importância de mudar o discurso da segurança estatal e adaptá-lo para segurança humana, passando, assim, da teoria para a prática, como é a tendência pos-modernista.
 
Vejamos que;
 
A reflexão que se pode fazer sobre a escola crítica com pendor realista, estimula-nos a afirmar que a COP é um evento de debate IDEALISTA sobre o meio ambiente, uma vez que já vem desde 1972, a despeito dos eventos causais das revoluções industriais. Pois, foi na conferência realizada na Suecia, que a ONU, em 1972 criou a PNUMA, programa que trata das questões ambientais.
 
Segundo uma Investigadora dos Fenómenos Internacionais e geógrafa Larisa Mesquita, desde 1972 realizaram-se várias conferências internacionais sobre o meio ambiente, mas a ocorrência da COP foi estabelecida pela primeira vez no Brasil, em 1992, onde emergiu a ideia de realizar todos anos uma COP, conforme observamos este ano a COP26, o que seria 27, tendo em conta que não se realizou em 2020, por consequência da COVID 19.
 
A COP26 significa Conferência das partes ou dos países, começando com Afeganistão até Zimbabwe, que integram a ONU mais a União Europeia, e nesta conferência todos Estados, incluindo Angola, discotem assuntos que foram suplantados na COP 21, isto é, na França, em 2021, onde criaram o ACORDO DE PARÍS que tem como objectivo determinar por lei que todos os países articulados a causa ambiental trabalhassem de modo que a temperatura global seja de 1,5 célciu.
 
Remetemos que A COP é um assunto idealista ou sempre do vir a ser, porque os seus objectivos põe em causa a economia de muitos Estados industrializados, que do ponto de vista real são os principais protagonistas do aquecimento global. A divergência de ideia que estamos a ver entre EUA, CHINA E RUSSIA, nesta conferência dá-nos a perceber que nenhum Estado de hoje para amanhã vai preferir substituir as energias fósseis (provenientes do gás natural, carvão , petróleo e energia nuclear), pelas energias alternativas renováveis tal como a energia solar, eólica, hidroeléctrica, energia das marés, geotérmicas e biomassa. Ou de outro modo, tendo em conta que são aqueles recursos energéticos fósseis que mais perigam o meio ambiente e movem a economia mundial, salienta-se que de forma radical, e com mudanças do discurso na prática como defende a escola crítica, não cremos que os Estados, incluindo Angola hão de cumprir com os seguintes objectivos da COP26:
  1. Atingir as emissões líquidas de carbono zero até 2050;
  2. Aumentar o financiamento climático para ajudar os países mais pobres na transiçao para energia limpa e adaptá-la nas mudanças climáticas;
  3. Eliminar de forma gradual o uso do carvão, conservando as florestas;
  4. Conseguir um acordo para a implementação de um sistema de comércio de carbono conforme remete o acordo de Paris (Shirley Inglês , 2021).
 
Decerto, qualquer Estado pode dizer que vai alcançar os objectivos, os políticos são movidos na maioria pelo devir, a ONU por exemplo enquanto Organização não Governamental de propósito global, assevera que as metas da COP26 são fracas e inescapam a 2,7 célciu até o final do século. Pois, com essa visão realista ou pessimista, demonstra que os Estados não estão no caminho certo para alcançarem objectivos, que na possibilidade de não serem atingidos possam causar as seguintes consequências no mundo:
  • Mortes prematuras;
  • Migrações em massa;
  • Grandes perdas económicas;
  • Porções de terras inabitáveis e conflitos violentos por recursos e alimentos;
  • Ciclos de chuvas alteradas;
  • Ciclone e furacões;
  • Temperaturas externas (Inglis e Mesquita, 2021).
 
Ou seja, se os Estados movidos por várias perspectivas políticas de segurança não cumprirem com o acordo de Paris vamos continuar a ver um planeta com Futuro Infernal, como salientou o Secretário das Nações Unidas, Guterres. Deste modo, termino a minha exposição, esperando que os novos estudantes de Ciência Política compreendam que não se pode fazer análise política sem contextualização científica ou da ciência que estuda política interna, externa e internacional.
 
DORIVALDO MANUEL DORIVAL
Cientista Político, UAN-FCS.
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