Angola/Cafunfo: Ativistas pedem intervenção do Governo para travar “violência” sobre garimpeiros

A morte recente e desaparecimento de garimpeiros está a preocupar os ativistas da vila mineira de Cafunfo, que denunciaram também casos de tortura e pedem a intervenção do Governo para travar a violência das empresas de segurança.

Em declarações à Lusa, Jordan Muacambiza, morador da vila localizada na Lunda Norte, região rica em diamantes e palco de incidentes com vários mortos no final de janeiro, afirmou que, em abril, se sucederam os atos de violência contra garimpeiros, imputando responsabilidades à empresa que assegura a vigilância da zona de concessão da Sociedade Mineira do Cuango, a Kadyapemba

“A situação é muito preocupante, tem vindo a registar-se um clima de instabilidade crescente naquela zona, continuam a tirar a vida aos cidadãos”, denunciou o defensor dos direitos humanos.

Segundo disse, houve pelo menos dois mortos, cujos corpos foram recuperados pelas famílias, e outros cinco garimpeiros estão desaparecidos “na zona do garimpo”, onde praticam ilegalmente a atividade, sendo procurados por familiares há mais de uma semana.

Na semana passada, o diretor da Sociedade Mineira do Cuango, Helder Carlos, confirmou à Lusa a morte de dois garimpeiros baleados por seguranças da Kadyapemba, que foram, entretanto, detidos, dando nota de outros dois casos em que dois jovens foram baleados nos pés.

Helder Carlos justificou que os seguranças terão disparado em sua defesa depois de os garimpeiros terem reagido com violência à abordagem feita.

Jordan Muacambiza disse que, pelo menos um dos garimpeiros foi torturado até à morte e atirado para uma vala, tendo sido descoberto já em estado de decomposição e outro foi baleado na cabeça pelos vigilantes da Kadyapemba.

O ativista está, em colaboração com outros elementos da sociedade civil a reunir provas para fazer uma denúncia pública e pede a intervenção do Presidente da República, no sentido de tomar medidas contra a impunidade das empresas de segurança.

“Queremos organizar uma manifestação pacífica para chamar a atenção para essas mortes”, declarou.

Questionado sobre o relacionamento atual dos moradores de Cafunfo com a polícia, após os confrontos de 30 de janeiro, que resultaram num número indeterminado de mortos, sublinhou que a relação entre autoridades e sociedade civil “melhorou”, o que atribuiu às iniciativas de promoção de diálogo e substituição de chefias nos postos de comando de Cafunfo e Cuango.

“Temos de felicitar o diálogo com as forças de segurança, foi dado um passo significativo, alguma coisa está a mudar”, frisou.

Em março, a vila mineira acolheu um encontro de cidadania e segurança, para promover o diálogo entre os diferentes intervenientes, organizado pelo Ufolo – Centro de Estudos para a Boa Governação, liderado pelo jornalista, investigador e ativista Rafael Marques.

Jordan Muacambiza lamentou, por outro lado, que não se registem melhorias na relação com a mina do Cuango “que tem um longo historial de assassinatos”.

Para o defensor dos direitos humanos, além da falta de fiscalização da sua atuação, as empresas estão também a recrutar cidadãos estrangeiros aos quais não é dada uma formação adequada e que reagem com violência desproporcional.

“Há muitos congoleses na segurança privada, tem de haver uma investigação séria e travar estas empresas. Isto tem de acabar. Tem de acabar o silêncio do Estado angolano que não está a proteger um bem maior que é a vida. A Luanda Norte não pode continuar a ser um laboratório da morte”, apelou.

 

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