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Angola/Cafunfo: Rei das Lundas lamenta que recursos naturais sejam “maldição” para angolanos

O rei das Lundas, Muatchissengue Wa Tembo, lamentou hoje que os recursos naturais existentes naquela região, com destaque para os diamantes, não sejam para o povo angolano “uma bênção”, mas sim “uma maldição”.

Muatchissengue Wa Tembo participou hoje numa conferência denominada “Recursos Naturais, uma Bênção para Todos”, promovida pela Tchota, uma plataforma que engloba várias organizações da sociedade civil angolana ligadas à defesa dos direitos dos cidadãos.

“O balanço das atividades de exploração de recursos naturais lá na região é muito negativo, porque nós até dizemos que é uma maldição, os recursos naturais não são uma benção, porque não beneficiam as nossas populações. E, se formos a ver nos locais onde há exploração, há mais índice de pobreza do que desenvolvimento. Nós só beneficiamos dos buracos, das ravinas, da devastação florestal, do meio ambiente poluído”, disse o soberano, em declarações à imprensa à margem da conferência.O rei deu exemplo do recente incidente ocorrido com a Sociedade Mineira de Catoca, localizada na província da Lunda Sul, devido a uma avaria no sistema de drenagem da bacia de rejeitados da mina, que provocou um derrame de poluentes.

“Há tempos acompanharam a poluição do rio Chicapa, são seis rios na região, e quem sofre é o povo. Vimos a distribuição de cesta básica, mas aquilo só foi para dois dias, a população sofreu, até hoje continua a sofrer, porque para recuperarmos aquela quantidade de peixe que acabou por morrer nos rios, as lavras que foram estragadas, não é hoje”, lamentou.

Muatchissengue Wa Tembo destacou que é preciso que o Governo faça mais pela população, reconhecendo que agora as autoridades já começam “mais ou menos” a ouvir as reivindicações do povo.

“Ontem participei no Fórum Empresas e Direitos Humanos, organizado pelo Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos e a embaixada norueguesa. O próprio diretor-geral da Sociedade Mineira de Catoca reconheceu que quando faz aquele trajeto de Catoca à cidade de Saurimo fica muito triste, com muita pena”, disse.

“Esperamos que as coisas melhorem porque no passado nunca houve esses encontros. Os governantes não apareciam, as empresas também refutavam, mas agora a sociedade civil, as autoridades tradicionais, o Governo e as empresas mineiras já conseguem sentar-se para ouvir aqueles que são os principais problemas das populações”, frisou.

O rei salientou que os conflitos entre a população local e as empresas devido à exploração dos recursos naturais persistem, muitos dos quais terminando em mortes.

“As mortes sempre existem, apesar da exploração [de diamantes] por parte de cidadãos ser ilegal, as condições de vida em que as nossas populações vivem, o desemprego, leva muita gente a fazer essa exploração ilegal e depois acabam por chocar com a segurança mineira, que não consegue controlar a situação, e acaba por haver sempre mortes. Isso ainda não parou, ainda continua”, referiu.

Muatchissengue Wa Atembo aponta que o caminho a seguir para a reversão deste quadro é a auscultação da população antes da concessão das licenças de exploração.

“Muitas vezes temos locais históricos, todo o mundo sabe que a cultura Tchokwe é muito rica, muitas vezes desalojam pessoas dos locais que têm uma situação muito histórica, muito forte, e acabam por desfazer a história de um povo. Falo do caso de cemitérios, alguns sítios, não há auscultação”, realçou.

Apesar de, na prática, não haver ainda resultados da exploração dos recursos naturais que beneficiem a população, o rei sublinha que “algumas promessas já se vão cumprindo”, dando como exemplo a escola de formação profissional e o polo de desenvolvimento diamantífero inaugurados em agosto em Saurimo (capital da Lunda Sul).

Segundo o rei, a situação começa a melhorar nas zonas urbanas, mas nas áreas rurais “praticamente nada é feito”. Destacou, no entanto, a requalificação de três bairros pela Sociedade Mineira de Catoca.

A plataforma Tchota é integrada pela Ação para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), Instituto para a Cidadania – MOSAIKO, Mwana Pwo, Associação Mãos Livres, Associação Comunitária para Desenvolvimento de Angola, Centro de Estudos Africanos da Universidade Católica de Angola, Conselho das Igrejas Cristãs de Angola (CICA), AJUDECA, Fórum de Mulheres Jornalistas para Igualdade de Género, AJPD.

 

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