O funcionamento do principal cemitério da província do Bengo está ameaçado. Após vandalismo, serviços funerários já foram suspensos em cinco dos oito cemitérios do Dande. Falta de vigilância é uma das causas apontadas.
“Sumba Futa”, expressão da língua local kimbundu que em português significa “compra e paga”, é o nome do principal cemitério da província do Bengo, que está em franca degradação.
O cemitério do Dande, município a 80 quilómetros de Luanda, foi colocado à disposição da população há cerca de 10 anos, mas funcionários dizem que em breve pode deixar de haver condições para a realização de funerais no local.
A DW África visitou o cemitério e constatou o estado de degradação em que se encontra: portões destruídos, janelas partidas, falta de agentes de segurança, campas desorganizadas.
“Os portões não fecham por causa da vandalização da população. Sempre que a população chega antes do funcionário – cujo turno inicia às 8h da manhã – quer abrir da sua maneira. Rompe o cadeado e acaba estragando tudo”, descreve o técnico de serviço no cemitério do Bengo, Paixão Gomes.
Cerca de cinco áreas foram construídas para acolher os serviços administrativos do cemitério, mas apenas uma sala serve para isso porque várias janelas e portas foram quebradas nas outras.
Paixão Gomes explica que não há vigilantes no cemitério e isso deixa o local desprotegido, favorecendo à deserdação do património. “A população quando chega aqui, entra e faz o que quer. Apenas no nosso gabinete é que as pessoas têm medo de mexer”, constata.
Não há explicação
Cinco dos oito cemitérios com administração da municipalidade suspenderam a realização de funerais. O serviço é essencial e não tem previsão de ser restabelecido.
Diante dessa falta de zelo pelo património comunitário, a pergunta que os moradores fazem é: Afinal o que leva as pessoas a vandalizarem cemitérios?
Hilário Panda, residente do Dande,acha que falta “respeito e amor” aos entes queridos. “Devemos ter cuidado, mas acabamos por vandalizar. Isto não é um bom hábito. É mesmo a falta de respeito e educação”, reclama.
Já outro morador, António Leite, acha que o que ocorre é uma espécie de inconsequência: “Só aquele que não pensa no futuro é que pode ter a coragem de vandalizar um cemitério, porque se você pensa no amanhã, não vai destruir aquilo que é bem público”, interpreta.
Falhas na gestão
Contatado pela DW África, o administrador-adjunto para a Área Técnica do Dande reconhece falhas na gestão do cemitério. Segundo Abeki José, dentro de alguns meses, o cemitério entrará em obras de reabilitação.
“Há um projeto de reabilitação no próximo ano e vai velar por estas questões todas. Depois disto é que se vai colocar agentes de segurança”, explica.
A Polícia Nacional no Bengo nunca recebeu denúncias de vandalização daquele cemitério, avançou à DW África o diretor do Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa, Gaspar Luís.
“Esta é a primeira denúncia que estamos a receber. Aquilo é um bem público, é de todos nós e devemos primar para que aquele local não seja vandalizado. Contudo registamos a preocupação e vamos encaminhar para os órgãos de direto, o SIC assim como o Comando Municipal do Dande”, adiantou.
Texto do DW África