A comissão de gestão da Ordem dos Médicos de Angola (Ormed) anunciou hoje que entra em funções a partir desta quinta-feira, durante uma cerimónia de passagem de pastas, reconhecida como “atípica”, sem a presença da bastonária destituída.
“Estamos a fazer aqui uma passagem de pastas atípica, seja como for o mais importante foi a abertura deste ato. Pretendemos materializar as decisões da assembleia geral extraordinária decorrida no dia 17 de outubro de 2020, a Dra. Elisa Gaspar foi previamente avisada e mesmo assim ausentou-se”, afirmou hoje a coordenadora da comissão de gestão da Ormed, Arlete Nangassole.
Para a responsável, a ausência da bastonária, destituída em assembleia geral extraordinária, configura-se numa “manobra dilatória para impedir que os
O conselho regional norte da Ormed aprovou, em 17 de outubro de 2020, a destituição de Elisa Gaspar, devendo ser promovidas novas eleições em 90 dias.
De acordo com a deliberação aprovada no final da assembleia-geral extraordinária, além da destituição foi também decidido criar uma comissão de
interesses da classe que ela diz defender prevaleçam”.inquérito para analisar as irregularidades e promover uma auditoria independente.
Elisa Gaspar, há mais de um ano no cargo de bastonária da Ormed, é acusada de “descaminho de fundos e gestão danosa” da instituição, entre os quais um alegado desvio de 19 milhões de kwanzas (256.000 euros), e de “outros gastos injustificados”.
A médica Elisa Gaspar nega todas as acusações.
Hoje, a coordenadora da comissão de gestão da Ormed disse, em cerimónia que decorreu no anfiteatro daquele órgão, em Luanda, que os cerca de 20 médicos presenciaram a cerimónia depois de inicialmente lhes ter sido vedado o acesso à sala e apenas entraram “após uma certa discussão”.
“Nós tivemos muita dificuldade desde a entrada porque nem sequer havia protocolo para a receção desta delegação”, lamentou.
Arlete Nangassole disse, na ocasião, que a comissão de gestão começa a trabalhar na Ormed a partir desta quinta-feira, 03 de dezembro, para tratar dos assuntos correntes e preparar as eleições no período de 90 dias.
“Na presença da excelentíssima senhora Elisa Pedro Gaspar, se cá estivesse, teríamos dito que estamos aqui presentes para o cumprimento das deliberações da assembleia-geral extraordinária realizada no dia 17 de outubro de 2020 que desde já foi coberta pela legitimidade e legalidade pela assessoria jurídica de dois escritórios de advogados”, frisou.
Recordou que a “quebra de confiança” entre os médicos e a bastonária justifica que a “classe médica de Cabinda ao Cunene” tenha acabado por destituir a bastonária.
“Salientar que a assembleia também elegeu uma comissão de inquérito, em que Elisa Gaspar terá o direito de se defender e poder candidatar-se novamente se for o caso”, sublinhou.
Uma “comissão de bons ofícios” saída da assembleia extraordinária da Ormed foi “impedida” por efetivos da polícia angolana, em 18 de novembro passado, de se reunir com a bastonária destituída nas instalações do órgão.
Arlete Nangassole recordou e repudiou hoje o episódio, afirmando que os seus colegas foram “destratados pela polícia nacional, fortemente armada”, durante o seu “exercício diplomático de persuasão”.
“Nós não somos um grupo de quatro, como temos sido conotados, como se pode observar somos um coletivo de médicos, a representar os médicos de Cabinda ao Cunene, que pretende devolver o prestígio à nossa Ordem”, notou.
“Com o ato de hoje, vamos agora saber que passo dar, e é preciso saber sobre o património, sobre os recursos humanos, sobre as contas da Ordem, sobre todos os aspetos administrativos”, assinalou.
Por seu lado, a médica Filomena Amaral, coordenadora da comissão de inquérito mandatada pela assembleia geral extraordinária, afirmou que o ato de hoje se traduz num passo de uma classe consciente para a reposição da legalidade.
“Em nenhum momento nos sentimos ilegais, e porque não nos sentimos ilegais e achamos que é justo o trabalho que está a ser desenvolvido, estamos aqui para apoiar”, assegurou.
Efetivos da polícia destacados na sede da Ormed impediram a entrada de alguns jornalistas na sala onde decorria o ato e, no final, questionaram os médicos sobre a presença de outros profissionais no anfiteatro, alegando “não estarem autorizados” para a cobertura do evento.
A situação gerou uma troca de palavras entre a polícia e os médicos, que se manifestaram “indignados” com a postura dos efetivos da corporação.