O presidente da Confederação Empresarial de Angola (CEA) criticou hoje o modelo de contratação de empresas para a recolha de lixo em Luanda, defendendo a “contratação de milhares de angolanos para cada um levar o seu tostão”.
“O grande problema é que estamos a querer resolver o problema do lixo contratando grandes empresas para elas levarem milhões. Não é melhor contratar milhares de angolanos para cada um levar os seus tostões e disso fazermos um grande projeto?”, afirmou Francisco Viana.
O lixo, disse o empresário angolano, “pode ser luxo” e “temos que transformar o lixo em dinheiro”, defendeu, considerando que as autoridades devem colocar os jovens, sobretudo em zonas onde não entram camiões, a recolherem os resíduos, em Luanda.
“Pôr os nossos jovens naquelas zonas onde nem sequer os camiões de lixo entram, aquelas motos de três rodas e aí desenvolverem a atividade”, advogou o presidente da CEA.
Francisco Viana, que falava no âmbito da apresentação do II Congresso da Produção e do Setor Produtivo, agendado para 04 a 06 de novembro, defendeu também a “descentralização” da zona de depósito e transformação do lixo.
“Não é só concentrar tudo nos Mulenvos (Aterro Sanitário de Luanda), mas [deve] haver várias zonas onde é modificado o lixo (…) é preciso que haja a mentalidade de ver o pequeno a crescer”, salientou.
“A vocação da CEA é exatamente trabalhar ao serviço dos pequenos, médios e microempresários e esse lixo só se vai resolver ao serviço dos médios e pequenos operadores (…). Isso tem que envolver a população, o Governo sozinho nunca vai conseguir”, notou.
O problema de gestão de resíduos sólidos na capital angolana arrasta-se desde dezembro de 2020, quando o Governo da Província de Luanda (GPL) anunciou a suspensão dos contratos com empresas de limpeza e recolha de lixo, por incapacidade de liquidar uma dívida de 246 mil milhões de kwanzas (308 milhões de euros), indexada ao dólar.
Uma “operação de emergência” para limpar o lixo acumulado em Luanda teve início na segunda-feira, envolvendo empresas de limpeza, de construção civil e efetivos das Forças Armadas Angolanas (FAA).
O plano sob os auspícios de uma comissão multissetorial e apresentado pela ministra de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira, foi criado para apoiar o governo de Luanda e visa auxiliar a resolver os problemas inerentes à acumulação, recolha e tratamento do lixo, a fim de se evitarem males maiores relacionados com a saúde publica e degradação do ambiente.
Os trabalhos vão ser executados por empresas de construção que “voluntariamente se predispuseram a participar na operação de limpeza de grande envergadura” que se iniciou na segunda-feira, bem como operadoras com tradição na recolha de lixo e Forças Armadas.
O ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, Pedro Sebastião, disse que serão “movimentados alguns efetivos da guarnição militar de Luanda”, sem especificar quantos militares estarão envolvidos.
Quanto às empresas de construção foram mobilizadas 12, segundo o ministro das Obras Públicas e Ordenamento do Território, Manuel Tavares, das quais cinco já iniciaram a “atividade de recolha do passivo de lixo existente”.
Em fevereiro, o Presidente da República aprovou uma despesa de 34,89 mil milhões de kwanzas (44 milhões de euros), para aquisição de serviços de limpeza pública e recolha de resíduos sólidos.
Do concurso emergencial entretanto aberto, entre as 39 empresas que se candidataram, saíram vencedoras sete, que vão assegurar a limpeza dos nove municípios de Luanda.
No entanto, apesar de terem sido iniciados os trabalhos no final de março, continuam a ser visíveis os amontoados de lixo em todas as zonas da província.