Angola: Entre a (ir)responsabilidade e a coragem na governação

“Há uma linha muito ténue entre a irresponsabilidade e a falta de coragem”. Disse-me um amigo numa reflexão erudita.

Faltam menos de 50 dias para o atípico ano do corona vírus ou simplemente 2020 terminar e os casos vão aumentando. Infelizmente não me refiro aos casos de corona vírus mas aos casos de insatisfação social gritantes. Provavelmente por ser leigo e detentor de um asco descomunal sobre política partidária estarei, nalguns momentos a fazer pronunciamentos opinativos desencontrados sob o ponto de vista dalguns fanáticos defensores do bem estar estomacal e pouco alfabetizados, incapazes de fazer uma leitura social sobre o que Angola neste momento precisa.

Desde o anúncio da “disponibilidade” de João Lourenço para substituir o agora ex-presidente José Eduardo dos Santos, uma luz no final do túnel adentrou os olhos dos cegos e fez com que se reerguessem esperanças moribundas. Angola já estava a caminho do cemitério e muito por culpa de egoísmos exacerbados. E foram os ditos patriotas que destruiram literalmente as esperanças do país. Não estou de maneira alguma a ilibar o atual presidente, João Lourenço, porque sabemos todos que sempre fez parte do sistema governamental e político-partidário do país. Estou a tentar buscar numa reflexão onde foi que falhamos para chegar a este ponto lúgubre existêncial.

A imagem do partido no poder, que desde o início da crise fez “família” no nosso seio, já estava gasta e vimos no atual presidente a boia de salvação. Começou por mexer em personalidades políticas que não são nem um pouco burras. Até eu que tenho bom coração sei que quando quiser ganhar vantagens sobre determinado assunto, faço refém alguma coisa para manter posição em alta. Infelizmente, e sendo minimamente realistas, o atual presidente, de modos a resgatar a mística partidária populista mexeu com pessoas que detinham a chave do país. O fosso era já de 38 anos e tentar resolver em 5 é o mesmo que tentar mostrar ao ocidente que é fácil combater o racismo quando foram 500 e tal anos de imposição de “cores e raças” sob porrada.

Lembro da “festa” que as pessoas faziam quando a cada nome tido como “responsáveis do nosso sofrimento” fossem exoneradas. O mesmo povo que vibrou naquela altura é o mesmo povo que hoje vai para as ruas manifestar-se. O senhor presidente ainda não se deu conta disto? Se ainda não, peço-te: deixe de escutar, um pouco, os seus “discípulos políticos de barriga cheia” e comece a ouvir então nós os “pecadores”. Pecamos por alguma razão e nenhum povo satisfeito, com o estômago cheio, educação e saúde sai às ruas para refilar.

Hoje, aqueles seus amigos que o chamavam de corajoso são os mesmos que o chamam de irresponsável. O país não está bom senhor presidente. O nível de insatisfação é gritante. O que fazer agora? Meu conselho: Renegoceie com os “bandidos”. Sim; aqueles que embora tenham dilapidado o erário público deram emprego às pessoas. Recuar não é ser fraco mas, peço-te que pense nesta hipótese. Com o tempo encontrará o desenho certo para resgatar o país. Para isso terá, obviamente, de enfrentar e quiçá violar alguns princípios do partido. Ali sim será necessário coragem.

E paremos de usar a Covid-19 como desculpa para a nossa desgraça. Essa doença que embora tenha parado o mundo só está a destapar as nossas fraquezas como país falhado.
Ainda falta um ano para que 2022 Angola seja um país estável para se estar. E só para lembrar: Este artigo de opinião é para os dois presidentes: para o presidente do País Angola e para o presidente do partido MPLA.

Estamos juntos… Por Angola.

Edy Lobo

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