“Angola entre a manutenção do cancro político e a alternância” – Nuno Álvaro Dala

Depois da destituição de Adalberto Costa Júnior (ACJ) do cargo de Presidente da UNITA, eis que emerge o problema da vez: a Procuradoria-Geral da República vai levar adiante o processo aberto contra ACJ por Rui Manuel Galhardo, que há meses, depois de ter feito uma conferência de imprensa em sede da qual procedeu a gravíssimas acusações à figura de ACJ tanto como pessoa física quanto como pessoa jurídica, abriu um processo contra ele baseado na acusação de tentativa de assassinato (os advogados de acusação são do escritório do dançarino do canal 3).

Entrementes, afigura-se importante que todos os Angolanos e Angolanas compreendam que não se trata apenas de um problema de ACJ, não se trata apenas de um problema da UNITA nem se trata apenas de um problema da FPU. O problema é todos e de todas que desejam alternância em Angola e a sua viabilização como país.

No século XXI, Angola testemunhou a realização de um eclipse total do Sol a 21 de Junho de 2001, ou seja, há 20 anos. O próximo eclipse total do Sol em Angola só terá lugar em 2041. No século XXI, Angola não voltará a testemunhar outro eclipse total solar. O primeiro foi em 2001 e o próximo e último acontecerá no longínquo ano 2041.

De modo similar, Angola teve condições singulares (extraordinárias) para que a alternância tivesse lugar. Isto foi em 1991-1992. O século XX terminou com Angola a braços com uma guerra que, ironicamente, reforçou a manutenção no poder do grande cancro que tem impedido o progresso de Angola, aquela coisa chamada MPLA.

No século XXI, o período 2021-2022 constitui um momento singular, em que estão reunidas todas as condições para que a alternância seja uma realidade. De um conjunto de semelhanças entre 1991-1992 e 2021-2022, destaco as sistemáticas tentativas de destruir politicamente Jonas Savimbi. Lembro-me claramente de ter lido um pequeno panfleto de banda-desenhada em que Jonas Malheiro Savimbi aparecia como uma figura sinistra com uma enorme cauda. As conversas entre muitos mais velhos eram de que o líder da UNITA tinha mesmo cauda. Naquele período, o regime do MPLA fez de tudo para que a alternância não acontecesse, tanto que até executou um plano de assassinatos por via do qual a delegação da UNITA mandatada para negociar com o Governo no sentido da superação da crise pós-eleitoral acabou chacinada.

Em 2021-2022, ACJ é igualmente combatido até à exaustão. Com a presente nova táctica de destruição política do líder destituído da UNITA, o regime pretende inviabilizá-lo totalmente, ou seja, na sexta-feira próxima, 22 de Outubro, ACJ será interrogado. Na agenda da PGR consta fazer dele arguido imediatamente depois de ser ouvido. Ele sairá já arguido da PGR. Daí, será solicitada à Assembleia Nacional a retirada das suas imunidades para estar à disposição da (in)justiça. ACJ acabaria por estar impossibilitado de ser (re)eleito Presidente da UNITA.

A singularidade do espaço-tempo da política angolana para a alternância de 1991-1992 foi perdida. Irremediavelmente perdida.

Agora, em 2021-2022, temos nós, os Angolanos e Angolanas, a chance real de activamente participarmos no movimento que visa, pelo voto, desalojar o Novo Ditador e seu partido da cadeira do poder.

Outro momento singular para a alternância não ocorrerá tão cedo.

Entrementes, não devemos entrar em desespero. Se a UNITA de Isaías Samakuva acabar por fazer a agenda do regime, a FPU terá de reestruturar-se sob um plano B.

Nem tudo está tudo perdido.

Mas, caso até mesmo o plano B seja inviabilizado, nada sobrará a Angola senão a manutenção do país no pântano da civilização suspensa e do caos.

 

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