Angola: MPLA chegou ao Alvor em 1975 “dividido em três fações”

O gestor António Costa Silva, afirmou hoje que o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) chegou ao Alvor, onde foi negociado, em 1975, o acordo para a independência do país, “claramente dividido em três fações”.

O MPLA, “quando chegou aos acordos do Alvor estava fragmentado, claramente dividido em três fações, com a revolta do Leste, a revolta Ativa e a fação do Presidente Agostinho Neto”, afirmou, numa entrevista à Lusa, Costa Silva, que em maio deste ano foi nomeado pelo Governo português para desenhar o documento-base para o plano de recuperação económica de Portugal.

O Acordo de Alvor – assinado entre o governo português e os principais movimentos de libertação de Angola, o MPLA, a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) em janeiro de 1975 – estabelecia a partilha d poder entre os movimentos e definia regras para um período de transição, em Angola, bem como a data de 11 de novembro de 1975 para a independência.

Nascido no Planalto Central de Angola, Costa Silva ajudou a fundar e integrou os comités Amílcar Cabral que se posicionavam para contestar, não só o que se passava na universidade, em termos do ensino, mas também o regime político português e defender a independência de Angola, com “um apoio claro” ao MPLA.

Para o também presidente da petrolífera Partex, empresa que pertenceu à Fundação Gulbenkian até ser vendida, em junho de 2019, à tailandesa PTTEP, o contexto em que foi negociado o Acordo de Alvor, em janeiro de 1975, “era extremamente difícil”.

Porque “a própria luta de libertação nacional tinha inquinado todo este processo, pela sua longevidade”, sublinhou.

O processo de independência “foi tardio, muito tardio e isso teve consequências drásticas para Portugal e para os próprios países africanos”, afirmou.

Com este cenário, “a complexidade do país começava exatamente na incapacidade de haver uma plataforma que articulasse os diferentes movimentos de libertação, o que levou a tudo aquilo que se passou depois do Acordo de Alvor”.

O Acordo de Alvor acabou, assim, por dar “lugar a uma solução que estava condenada ela própria à partida. Portanto, os governos de transição que foram criados, em que existiam os vários movimentos, eram governos que pura e simplesmente não funcionavam”.

Outro aspeto que não ajudou, foi o facto de Angola ser “um país muito disputado pelas duas superpotências da altura” e que “uma das grandes companhias produtoras de petróleo de Angola, a Cabinda Golf Oil, era americana, e a indústria petrolífera angolana viveu muito ligada a essa empresa, que hoje é a Chevron”, realçou.

Em março de 1976, já a direção da petrolífera estatal “Sonangol estava a dialogar com a Chevron em Portugal e a criar as condições para restabelecer a produção de petróleo, que seria durante muitos anos o grande garante financeiro para o regime do MPLA”, contou.

Hoje, 45 anos depois, o país conta com “14 ou 15 anos do processo de luta pela libertação nacional, dois anos das guerras de intervenção, de 74 a 75, logo seguidas de 77 a 91 de uma espécie de guerra de procuração das grandes potências, em que intervieram, quer os Estados Unidos, quer a União Soviética, através dos movimentos locais”.

Portanto, concluiu Costa Silva, Angola “tem um ciclo grande”, com “pouquíssimas interrupções de períodos de paz”, uma série de “guerras fratricidas. E pagou e paga ainda hoje o preço da guerra de uma forma desmesurada”.

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