Angola: O pedido de perdão pelo “27 de maio de 1977” , para continuar a dividir para melhor reinar – Maria Luísa Abrantes

Acabo de ouvir pela voz do Presidente da República João Lourenço, em tom apaziguador que louvo , o discurso em que pede desculpas e perdão em nome do povo angolano, às vítimas do 27 de Maio e seus familiares , pela resposta desproporcional à tentativa de golpe de Estado que causou a morte de 4 Comandantes da FAPLA e de três civis naquela data.

Fiquei porém , muito decepcionada , por ter sido anunciada , apenas a entrega dos restos mortais dos militares e pouquíssimos civis ex dirigentes do grupo, acusados de serem os cabecilhas da intentona e dos artistas/FAPLA muito queridos pelo povo , incluindo por mim , mas excluídos os intelectuais e populares que foram a grande maioria torturada e fuzilada , muitos dos quais sem sequer conhecer Nito Alves .

Sendo que ainda estão em vida vários membros da ex DISA , militares e membros do MPLA ( e bem acomodados com ações em empresas oferecidas pelo MPLA), que participaram nos interrogatórios, nas torturas e nos fuzilamentos , porque razão , já se apressaram a informar , que não será possível entregar todos os corpos ?

Porque não pedem aos Srs. Onambwe ‘, Carlos Jorge , Veloso , Carmelino , Toka , Peliganga , Ruth Mendes , Alcina Dias da Silva ( Xinda Kassanji), etc. , para explicarem o paradeiro das pessoas que mandaram prender , interrogar , torturar, ou fuzilar ?

Estão à espera que morram todos com direito a honras de Estado , como recentemente aconteceu ao General Ludy Kissassunda?

O regime vigente há 45 anos , não pode continuar a dividir para melhor reinar , dando primazia aos Senhores da Guerra , que inclui os Comandantes referidos da UNITA. Não há angolanos de 1a. e de 2a.

Desde o desaparecimento de Tito Luís Teixeira de Araújo Zuzarte de Mendonça , Tilu’ , que enderecei mais de que uma carta à Procuradoria Geral da República, sem qualquer resposta e , pessoalmente na qualidade de vítima do 27 de Maio , não me revejo em nenhum dos grupos criados , pois nem eu nem o Tilu’ fizemos parte de nenhum grupo que pretendia assaltar o poder pela força.

Assim , exijo que seja entregue a família os restos mortais do médico Tito Luís Teixeira de Araújo Zuzarte de Mendonça, nascido em Luanda, aos 28 de Outubro de 1948 , assim como indiquem a todas as famílias , as valas comuns , os rios , ou lagos , ou praias, onde atiraram os corpos dos nossos entes queridos e que retirem as patentes concedidas após 1977, aos carrascos , assim como as ações de empresas , oferecidas a esses torturadores ainda em vida.

Angola é de todos os angolanos.

A bem da Nação!

Por Maria Luísa Abrantes

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