Angola: “Proteja-te dos vendedores de manifestações” – Nuno Álvaro Dala

A expansão do activismo de rua em Angola, caracterizado por manifestações, é um processo em que também emergiu uma muito desprezível estirpe de indivíduos que têm vendido manifestações.

Os sucessivos casos de venda de manifestações têm inquietado um elevadíssimo número de cidadãos e cidadãs de tal sorte que, imersos num gigantesco oceano de dúvidas e incertezas, questionam se ainda vale a pena sair à rua.

A resposta é sim. Ainda vale a pena idealizar, conceber e organizar manifestações sempre que a razão pública, o contexto, o interesse público, a conjuntura e a dinâmica da gestão dos problemas sociais o exigirem.

Entretanto, sempre que ouvires ou leres sobre uma manifestação convocada, tome os seguintes cuidados:

1 – Verifique a identidade dos organizadores: obtenha o nome (e alcunha, se houver) e os contactos de cada um dos organizadores da manifestação para teres certeza de que são pessoas reais e localizáveis;

2 – Cheque o perfil dos organizadores: não basta certificares-te de que os organizadores são pessoas reais e localizáveis. Trate de conhecer a reputação dos organizadores, fazendo pesquisas de perfil em redes sociais como Facebook, Instagram etc. Têm foto de perfil própria? O nome e a alcunha conferem? As publicações (textos, fotos e vídeos) revelam que a pessoa é um cidadão ou activista sério? Como os outros usuários referenciam a pessoa? Há rumores sobre a pessoa se ter envolvido em vendas de manifestações, simulação de rapto, simulação de agressão policial etc.? Esses rumores são confirmados pelas evidências? Todo este esforço visa certificares-te de que não vais ser carne de canhão dos mercenários. Caso um dos organizadores seja mercenário, simplesmente não adira à manifestação;

3 – Analise o manifesto: leia cuidadosamente o manifesto e o cartaz da manifestação. A justificação da manifestação é plausível? Onde a manifestação será realizada (ponto de partida e de chegada)? Em que data e horário a manifestação terá lugar? Observe as imagens de fundo do cartaz. Têm relação com o problema que justifica a manifestação? A manifestação é convocada por um grupo ou uma organização? Se constarem como organizadores grupos com denominações extravagantes como «1ª Região Militar», «Movimento Revolucionário», «Comissão Político-militar dos Antigos Combatentes», «Movimento das Manifestações de Angola», «Movimento Angolano Reformador», «Movimento da Revolução Angolana» e «Movimento das Manifestações dos Musseques», não adira à manifestação. São grupos de mercenários do activismo;

4 – Preste atenção ao discurso dos mobilizadores: leia de forma crítica os textos, áudios e vídeos de mobilização. Os mobilizadores recorrem a uma linguagem que revela insegurança emocional, incerteza ética, falta de determinação de causa? A linguagem é ofensiva, ou seja, os mobilizadores fazem ataques gratuitos à dignidade de detentores de cargos públicos? Os mobilizadores apresentam um aspecto de pessoas drogadas? Se sim, não adira à manifestação.

Entrementes, não cometa o erro de «salvar a manifestação». Quando um, alguns ou todos os organizadores vendem uma manifestação, isto significa que não se tratou de um esforço de luta honesta, logo, não faz sentido ires à manifestação. Simplesmente não vá. Não participe da farsa. Ademais, quando a manifestação já está vendida, as autoridades policiais são instruídas pelo poder político para que reprimam quaisquer «salvadores da manifestação», ou seja, surrem, detenham, apreendam ou mesmo baleiem os mesmos.

As recomendações acima plasmadas servem para promover a tua segurança e para ajudar no esforço colectivo de combater os mercenários do activismo, especialmente os vendedores de manifestações.

Cidadãos e activistas foram detidos, surrados e, alguns, foram mortos quando se manifestavam. Esses sacrifícios todos devem ser respeitados.

Não adira a nada em que os vendedores de manifestações ganhem dinheiro com o sofrimento dos Angolanos e Angolanas.

Nuno Álvaro Dala

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