A UNITA, maior partido na oposição angolana, disse hoje “não estar surpreendida” com o posicionamento do deputado David Mendes, que no domingo anunciou abandonar o grupo parlamentar do partido, aceitando a sua desvinculação, mas contestando as “inverdades”.
“Enquanto grupo parlamentar da UNITA e direção não nos surpreendeu a decisão tomada pelo deputado David Mendes. Já há algum tempo que este deputado vem manifestando posições contrárias ao compromisso político assumido com a UNITA”, afirmou hoje o presidente do grupo parlamentar do partido do “galo negro”, Liberty Chiyaka.
Segundo o parlamentar, qualquer que fosse a posição ou decisão do deputado David Mendes devia, primeiro, ser comunicada ao Grupo Parlamentar da UNITA, à direcção do partido e depois torná-la pública.
Do ponto de vista ético, acrescentou, não é correcto que primeiro vá anunciar publicamente e depois diz que vai formalizar a sua retirada. “Até, do ponto de vista administrativo, não é assim que se faz”, salientou.
Segundo Liberty Chyaka, “a política é uma coisa muito séria e deve ser feita com ética, elevação e decência”. Neste sentido, reforçou, compreendemos que o país vive uma situação muito grave, “há uma crise de credibilidade das nossas instituições”. “Precisamos credibilizar a política e os próprios actores”, acrescentou o parlamentar, considerando importante passar, às novas gerações, um novo sentido de fazer política.
“Hoje precisamos transmitir uma mensagem às novas gerações de que a política é um serviço público, não é oportunismo nem calculismo”, disse.
Atitude reprovável
Liberty Chyaka indicou que foi “reprovável sentir, da parte do deputado David Mendes, uma tentativa de responsabilizar a UNITA por uma situação que não tem absolutamente nada a ver com o partido”, referindo-se às declarações do parlamentar sobre a manifestação do dia 24 de Outubro.
David Mendes afirmou, no espaço habitual de análise da Tv Zimbo, emitido no domingo, que a participação da UNITA na referida manifestação foi “um erro estratégico”.
No que toca às ameaças proferidas por alguns dos manifestantes, segundo Liberty Chyaka, a UNITA solidarizou-se com o deputado David Mendes e rejeitamos essas ameaças. “Mas ele, agora, quer transferir a responsabilidade à direcção da UNITA. Isso, até, cheira a chantagem e a política não é isso”, sublinhou.
O líder do Grupo Parlamentar da UNITA disse, ainda, que a posição de David Mendes estaria enquadrada numa alegada “estratégia de realinhamento dos apoios do Governo”. “Não foi estranho ouvir as declarações de David Mendes há uma ou duas semanas, quando criticou a decisão de cidadania da direcção da UNITA em apoiar a manifestação da sociedade civil”, frisou.
Segundo Liberty Chyaka, o normal, para um deputado da oposição, é defender posições alinhadas com a própria oposição e à sociedade civil e não sair em defesa do Governo. “Tudo isso só transmite que existem outras agendas e nós respeitamos”, sublinhou.
Anúncio de retirada
David Mendes, eleito pela lista da UNITA como deputado independente , anunciou, na noite de domingo, a sua retirada do Grupo Parlamentar daquele partido, tendo prometido formalizar a intenção hoje.
O deputado justificou que a decisão decorre do facto de o presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, ter minimizado as ameaças de morte contra si proferidas por um grupo de manifestantes apoiados pelo maior partido da oposição, na sequência dos comentários que fez relativamente ao posicionamento da formação partidária sobre o assunto.
O deputado considerou, na altura, que “a UNITA cometeu um erro estratégico” ao colar-se aos manifestantes, que saíram à rua no dia 24 de Outubro, tendo protagonizado cenas de vandalismo e destruição de bens públicos e privados.
David Mendes considerou, ainda, que a sua saída do Grupo Parlamentar da UNITA é o corolário de uma série de divergências de pontos de vista que se foram avolumando desde que Adalberto da Costa Júnior assumiu o cargo de presidente.
Como exemplo, relatou a sua discordância em relação à intenção de o actual líder da UNITA querer censurar a intervenção dos deputados, solicitando que todos apresentassem, previamente, por escrito, as suas intervenções, o que – afirmou – sempre recusou terminantemente.