Antonino Filipe: “Sobrevivíamos da captura de armas quando atacávamos os portugueses”

É tido por alguns, nas hostes da UNITA, como um lendário general devido ao papel que desempenhou nas extintas Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), o antigo braço armado do maior partido da Oposição.

Entrou na UNITA com apenas 14 anos de idade e poucos anos depois já integrava a coluna de Jonas Savimbi como segurança. Aos 67 anos, o deputado Antonino Filipe Tchyulo Jeremias dirige também a Associação dos Antigos Combatentes para a independência Total (ASACiTA), em cuja sede, em Viana, recebeu a equipa deste Jornal para falar sobre a sua participação na Luta de Libertação Nacional. Garante que Angola está hoje longe de ser o país ideal para se viver e que os movimentos não se entendiam antes por causa do excesso de desconfi ança entre as partes

Quem é Antonino Tchyulo Jeremias?

Sou o Antonino Filipe Tchyulo Jeremias. O terceiro nome é tradicional. Na minha língua, o Tchyulo signifi ca ‘poder’. Logo que a luta começou então fi cou o nome Tchyulo para melhor identifi cação.

Liberty Chyaka, actual líder da bancada parlamentar da UNITA, descreveu- o há algum tempo como um ‘general lendário’. É verdade?

Penso que ele falou bem. Conhece-me e é mais novo. São quadros jovens que nos encontraram. Ao falarem isso devem saber por quê. Deve ser mesmo para a história e conhecimento que tenho até ao presente momento.

Nasceu no Moxico, onde está localizada a área de Muangai, palco da fundação da UNITA. Quando é que começou a se envolver na luta de libertação nacional?

Estava a estudar na Missão de Monte Esperança, no Bié, nas proximidades do Cuemba. Quando a guerra começa, sobretudo no vizinho Congo, Lumumba começou a mover, houve agitação, tiveram que mudar para a Missão de Monte Esperança, que fi ca a 13 quilómetros da sede do Moxico, onde continuei os meus estudos. No início de 1960 e no fi m de 1965, começamos a sentir uns ‘zumzum’. Sabíamos que havia outros movimentos, como a FNLA e o MPLA. Em 1966, na Missão de Boma, surgem os primeiros guerrilheiros.

Guerrilheiros de que movimento?

Guerrilheiros da UNITA. Daí começamos a aderir à UNITA. Participamos nos encontros às noites. Éramos alunos, saíamos da Missão para o local em que estavam os guerrilheiros que nos passavam a mensagem. E passamos para militante da UNITA. Mais tarde sentimos que o Dr. Savimbi passou com destino ao Léua. Daí continuamos a aguardar até o tempo das férias para não abandonarmos os estudos.

Quantos anos tinha nesta fase?

Eu tinha 14 anos.

O que sabia do que se vivia em Angola?

Enquanto estudante, pensava apenas numa formação. O meu desejo era ser médico. Tinha em mente que se os angolanos dependessem só de médicos estrangeiros não seria bom. Por isso, pensava que deveria optar por esta formação. Mas não cheguei de concretizar este sonho por causa da guerra.

Disse há pouco que os guerrilheiros passaram em 1965?

Sim, em finais de 1965. A UNITA é fundada um ano depois, isto é, em 1966.

Acompanhou o processo em Muangai, embora fosse mais novo?

O Muangai é mesmo na área em que vivia, embora fosse mais na cidade em que estava por causa da formação. Em 1966, já não havia mais trabalho de clandestinidade.

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