Angola: Centena de pessoas que exigiam a libertação dos manifestantes detidos no sábado

Cerca de uma centena de pessoas que exigiam a libertação dos manifestantes detidos no sábado (24.10) foram dispersadas com gás lacrimogéneo pela polícia angolana. Jovens prometem manifestações contínuas em todo o país.

O dia até começou calmo junto ao Tribunal Provincial de Luanda, onde 100 detidos estão a ser julgados por desobediência ao decreto presidencial 276/20 que estabeleceu medidas mais restritivas no âmbito da prevenção da Covid-19, quatro crimes de ofensas corporais voluntárias e dois crimes de danos voluntários sobre bens da Polícia Nacional. Separados por uma barreira instalada pelos agentes da polícia e a 100 metros do órgão de soberania – tal como exige a Constituição da República – os manifestantes exigiam pelo segundo dia consecutivo a libertação dos réus detidos na marcha de sábado por melhores condições de vida.

Os manifestantes mantiveram-se no local toda a tarde, gritando palavras de ordem contra o MPLA e os “marimbondos” e exibindo faixas com os dizeres “O desemprego marginaliza” e cartazes. “Se lhes condenarem, Luanda pega fogo”, “soltura”, “liberdade” apelaram os jovens, entre apitos e palmas, frente a um cordão policial que foi alargado para o edifício em frente ao tribunal, o Ministério das Relações Exteriores (MIREX).

Ao início da noite, no entanto, “o número de manifestantes começou a aumentar e a polícia decidiu dispersá-los. Disparou gás lacrimogéneo e agrediu algumas pessoas. Ainda não se sabe se há feridos”, relata o correspondente da DW em Luanda, Borralho Ndomba.

Mais protestos à vista

Um desenvolvimento que não demove os jovens angolanos, que prometem “não aceitar uma condenação”. Se isso acontecer, explica o correspondente da DW, “prometem que vão responder com violência às ações da polícia, novos confrontos, pneus queimados”.

A JURA, braço juvenil do maior partido da oposição, a UNITA, – cujo líder foi detido na manifestação de sábado – já instou “a Polícia Nacional a manter uma postura republicana” sublinhando que “não se responsabilizará pelos danos que o país irá registar”.

Num comunicado lido pela secretária-geral adjunta da organização, Sandra Oliveira, a JURA convoca “manifestações contínuas” pela libertação dos detidos e pede à juventude angolana “que esteja presente no Tribunal e em todas as províncias, atenta e vigilante para soar o apito”.

“Quando a pátria sangra, todo o sacrifício é pouco”, sublinha.

COVID-19 marca julgamento

De manhã, a sala de audiências do tribunal, no Palácio Dona Ana Joaquina, na baixa de Luanda, estava cheia. 23 réus aguardavam audição. Até à publicação deste artigo, apenas oito tinham sido ouvidos. O segundo dia do julgamento, que já se adivinha longo, só arrancou depois das 13h00, depois de as instalações serem desinfetadas e terem sido criadas condições sanitárias.

Em plena pandemia de Covid-19, dois dos manifestantes testaram positivo, estando um deles ainda detido e a aguardar julgamento, embora tenha sido entretanto isolado, segundo um dos advogados do processo.

Os manifestantes, no entanto, desconfiam desta notícia, nota Borralho Ndomba: “Muitas pessoas não acreditam que os detidos estejam infetados, falam numa manobra das autoridades para justificar o decreto que proibia a manifestação”.

DW África

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