“Demagogia ou sincericídio do ex-Secretário geral do MPLA”? – Raul Diniz

Fica difícil saber os motivos que levaram o ex secretário geral do MPLA Boavida Neto, a desabafar com tão relevantes verdades. Independentemente dos motivos que estiveram por trás das suas declarações, as palavras tiveram sim o seu peso, por isso valeu apena terem sido proferidas. Percebeu-se, no entanto, que a declaração expressa foi milimetricamente controlada, temendo talvez uma reação reprovadora da parte dos seus companheiros de partido. Apesar da declaração de Boavida Neto, ter sido ousada, elas foram tardiamente expressas.

Porém, elas clarificaram de vez, a verdade negada ao longo de mais de quatro décadas, desde a fundação da república popular de Angola, em 1975.

Ministros, deputados e governadores das províncias, são têm sido dados com elevada frequência como pessoas de pessoas de índole duvidosa, oportunistas gatunos, corruptos e corruptores. Todos eles são membros da super estrutura do MPLA, partido que governa o país há mais de 45 anos. Essas figuras sinistras têm sido constantemente acusadas e denunciadas publicamente de crimes impossíveis de negar. No entanto, e apesar dos indícios robustos, os acusados continuam em liberdade e protegidos pelo presidente da república.

O Presidente da república continua a contar com eles no governo e na assembleia nacional. Aliás, bastos contratos bilionários, foram adjudicados entregues sem concurso público a pessoas indicadas pelo bureau político e segurança de estado. Diante de um silêncio ensurdecedor de toda direção do MPLA, só um amigo pessoal do PR João Lourenço, o actual governador do Lubango, uma empresa sua, foi agraciada com contratos na ordem de mais de 4 biliões e 600 milhões de dólares americanos, sem lisura contratual, ou seja, sem concurso público.

Esse comportamento negativista de João Lourenço, levou sua excelência o povo, a questionar com razão, se o país tem um presidente da república, ou um gatuno da república, que protege e se escuda entre esses ladrões e corruptos profissionais. Desde a criação do MPLA, a sigla sempre teve no seu seio homens corajosos como Mário Pinto de Andrade, Daniel Chipenda, Gentil Viana dentre outros, que corajosamente souberam gerir os seus percursos políticos sem se comprometerem com as práticas potencialmente nocivas e criminosas no seio do MPLA.

Por outro lado, também é verdade que houve continua a existir agentes oportunistas, cobardes e mentirosos na direção do atual MPLA, uma vez ali acomodados nos lugares cimeiros, esses agentes cometem todo tipo de terríficas atrocidades, que até mesmo o diabo dúvida. As declarações do meu camarada Boavida Neto, apesar de terem sido intencionalmente estudadas milimetricamente e ao detalhe, não surpreenderam de modo algum nenhum os observadores atentos dentre a militância honesta do partido, muito menos surpreenderam todos quantos buscam a verdadeira alternância de poder no país.

Pessoalmente dou crédito as palavras expressas pelo camarada Boavida Neto, porém, faltou- lhe a necessária honestidade intelectual, também esqueceu-se de assumir a sua participação nos crimes, sobretudo não se lembrou de fazer a sua mea-culpa. Por outro lado, não teve a necessária coragem de apontar o dedo e chamar os bois pelos nomes.

Também não é dignificante, que o Boavida Neto, depois da sua declaração continue impávido e sereno dentro da direção do MPLA. Qualquer militante sério do MPLA, jamais estaria ao lado da direção desse MPLA bandido, composto por assassinos, corruptos, gatunos e açambarcadores do erário público nacional. O angolano honesto sabe bem, que a malandragem e o banditismo político/econômico, fazem parte do DNA do MPLA. Assim sendo, a pergunto de 1 milhão de dólares que não quer calar é, afinal Boavida Neto, cometeu sincericídio político? Ou apenas quis dar nas vistas e/ou distanciar-se atempadamente do rumo desastroso que o país segue sob comando do incompetente gestor, o presidente João Lourenço?

Talvez o gesto de Boavida Neto, não passe de um acto de contrição afirmativa, reflexo da sua religiosidade precoce! Porém, mesmo não tendo recebido o apoio esperado de camaradas do seu partido, o gesto do ex secretário geral do MPLA, ajudou a desvendar o falso elã que circunda em torno do bureau político do partido.

Uma coisa é certa, em 2022 vai haver muitas e grandes surpresas. Ninguém mais deseja, que em Angola, as eleições sejam continuamente roubadas. As palavras de Boavida Neto, podem ter sido apenas uma encenação populista, necessária para a sua eventual ressureição política no seio do partido dos camaradas, ou então ser apenas e só arrependimento verdadeiro. Mas, de qualquer modo, valeu apenas meu camarada Boavida, agora sinto-me menos só e mais reativo.

 

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