Deslocados da fome: Angolanos refugiam-se na vizinha Namíbia devido a “extrema fome”

Fluxo migratório de angolanos que fogem à fome no Cunene e Huíla e se refugiam na Namíbia pode pôr em risco as boas relações diplomáticas entre os dois país, diz especialista em questões internacionais ouvida pela DW África.

Mais de dois mil angolanos refugiaram-se na vizinha Namíbia fugindo à fome nas províncias do Cunene e Huíla. Os dados avançados recentemente pela imprensa pública angolana indicam que mais de metade destes “deslocados da fome”, como são chamados em Angola, são crianças e cerca de 70 mulheres encontram-se grávidas.

Como pode o governo angolano articular possíveis soluções? Emília Pinto, especialista angolana em questões internacionais, propõe que o Estado solicite asilo na Namíbia para os chamados “refugiados da fome”.

“Para mais tarde conseguirem alcançar o estatuto de refugiados e este estatuto é que lhes garante alguma proteção diplomática e alguma garantia de que o Estado se compromete a salvaguardar os interesses destes refugiados e que, de alguma forma, lhes é dado condições mínimas para sua sobrevivência”, explica.

Para a especialista, é urgente a adopção deste mecanismo para contenção do fluxo migratório.

Boas relações em causa?

Emília Pinto receia que, nos próximos tempos, a Namíbia venha a suspender as boas relações diplomáticas com Angola, para garantir os seus interesses a nível nacional, embora exista um acordo de isenção de vistos entre os dois países.

“Ou seja, a Namíbia pode decidir fechar as fronteiras ou suspender a circulação de cidadãos angolanos em seu território para que não haja um número excessivo de refugiados”, alerta.

A especialista não tem dúvidas de que a situação que se vive no sul do país revela a incapacidade do Estado angolano em garantir a proteção aos cidadãos nacionais.

Situação insustentável

O jornalista angolano Hossi Sanjamba trabalhou nas zonas afetadas pela fome ao longo deste mês. No Curoca, província do Cunene, por exemplo, visitou cerca de 10 aldeias e diz que a situação é insustentável.

Destas dez aldeias que visitei (estão) todas elas despovoadas. Nestas aldeias encontrei maioritariamente pessoas idosas, pessoas já de 50 anos para cima. Às vezes, fico com dificuldades de dizer aquilo que eu realmente registei no terreno, mas a situação é grave”, lamenta.

Entretanto, muitas toneladas de bens não perecíveis continuam a ser recolhidas, em Luanda, numa campanha levada a cabo por imprensas públicas e privadas de comunicação social para ajudar os milhares de angolanos com fome nas províncias da Huíla, Namibe, Cunene e Cuando Cubango, região sul de Angola. A iniciativa denomina-se “Um Abraço Solidário”.

 

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