Angola deverá aumentar os gastos com a Defesa e quem mais lucrará é a China e a Rússia, segundo a consultora GlobalData. O general Kamalata Numa, da UNITA, discorda e defende outras prioridades para o exército.
Projeta-se que os gastos de Angola com defesa aumentem para mais de 8,5 mil milhões de dólares cumulativamente, apesar das ameaças à segurança do país serem consideradas relativamente pequenas. Os países que mais irão beneficiar com o negócio do armamento em Angola serão – ao que tudo indica – a China e a Rússia.
De acordo com a consultora GlobalData, entre 2022 e 2026, as despesas de defesa e segurança de Angola crescerão – a uma taxa composta de crescimento anual de 3,2 por cento – de cerca de mil milhões de dólares em 2021 para perto de dois mil milhões em 2026.
Entre 2015 e 2019, a Rússia foi, de longe, o principal fornecedor de armas de Angola, representando 68,3 por cento das importações, de acordo com a GlobalData. Mas a China tem vindo a aumentar contínuamente as suas exportações de armas para Luanda. A título de exemplo a consultora refere o fornecimento de 12 aviões caça de treino, do tipo K-8.
Foi sobre este assunto que a DW África falou com Abílio Kamalata Numa, general na reforma, oriundo das FALA (Forças Armadas para a Libertação de Angola, braço armado da UNITA), e atualmente dirigente do maior partido da oposição angolana, a UNITA, ocupando o cargo de Secretário Nacional para os Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria.
DW África: Angola gasta milhares de milhões na aquisição de equipamento militar estrangeiro. Acha que esses gastos são proporcionais às necessidades do país? Ou será que o país tem outras prioridades?
Kamalata Numa: Da parte dos dirigentes angolanos não há realismo em verificar a situação de Angola. Neste preciso momento, aumentando a questão dos dinheiros roubados com a corrupção endémica no país, estruturas completamente destruídas, a crise da pandemia que se alastra, os empregos completamente destruídos, uma economia apenas dependente do petróleo, não podem, honestamente, fazer valer junto de pessoas ajuizadas que a medida se assume para a compra de materiais se sobreponha a um interesse nacional.
DW África: Há quem diga que os 1.600 km de costa de Angola estão sujeitos a ataques de piratas, que os recursos angolanos são cobiçados por países vizinhos e outros, e que por isso a modernização das Forças Armadas Angolanas é urgente… Concorda?
KN: Neste momento não há grandes necessidades de segurança nacional que nos levem a gastos excessivos. Nós precisamos, primeiro, de ter uma política de segurança nacional devidamente equacionada. Segundo, melhorarmos a estrutura das Forças Armadas na sua organização. Se for olhar para os quarteis das Forças Armadas, fica alarmado de ver que o país gasta biliões de dólares para a compra de material de guerra quando ainda não investiu no setor humano das próprias Forças Armadas, no setor das infraestruturas. Então, tudo isso deixa-nos duvidosos se, de facto, os que fazem essas políticas não sejam angolanos que estejam a atuar dentro da soberania nacional.
DW África: Concorda com o facto do equipamento ser adquirido sobretudo na Rússia e na China? Ou deveria haver outros parceiros? Porquê?
KN: Esses dois países fazem de Angola um país dependente deles por dois motivos: primeiro, por causa do esforço de guerra que se fez de 1965 a 1990. E segundo, com os dinheiros da reconstrução nacional que mal serviram ao país e foram todos eles para o setor do erário roubado, etc. Portanto, é para esses países onde Angola, de uma forma subserviente, diria, para gastos excessivos de dinheiro.
DW África: Como conhecedor do território de Angola e também das forças armadas, quais deveriam ser agora as prioridades do Governo, no sentido de aumentar a eficácia das forças armadas e também o grau de segurança do país?
KN: Primeiro, melhorar a formação dos seus efetivos. Segundo, a sua organização interna. Terceiro, melhorar a sua infraestrutura. Temos política de defesa nacional equilibrada com os perigos que neste preciso momento, tirando a ameaça contra o terrorismo, que não se faz com MIGs, que não se faz com barcos e tanques, mas sim com outros tipos de meios, essas são as prioridades que Angola devia assumir, e não gastarmos meios excessivos em tanques e aviões quando mal temos camiões e outros meios de locomoção interna para a própria tropa ser vista com dignidade. Também melhorarmos os salários das Forças Armadas, porque aida continuamos a ter soldados a ganharem muito mal. E há militares que não estão a ter promoção equilibrada nas suas carreiras.
DW África: E como descreveria a situação dos antigos combatentes?
KN: É desastrosa. Primeiro, não há sentimento de patriotismo da parte do MPLA [o partido no poder] de que foram militares que serviram num determinado momento na história de Angola e ficaram largados.