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EUA: “Banquete da paz” de João Lourenço abre mais uma polémica ao afastar protagonistas do processo

Personalidades dizem que Presidente angolano vê adversários políticos como inimigos, ao não convidar líder da UNITA

A exclusão do presidente do maior partido da oposiçao em Angola, Adalberto Costa Júnior, do almoço de celebração da paz, no passado dia 4, realizado pelo Chefe de Estado Angolano, gerou polémica em vários sectores importantes da sociedade que dizem ter colocado em causa a verdadeira reconciliação nacional.

João Lourenço, num comunicado, anunciou que, apesar da celebração ser em prol da paz e reconciliação nacional, o referido banquete contaria apenas com nacionalistas que se bateram na luta de libertação nacional.

Para o deputado da UNITA Raúl Tati, esta postura de tentar inverter o simbolismo da data para afastar os seus adversários políticos destapou sérias preocupações quanto à eficácia do processo de reconciliação nacional, sobretudo por não terem tidos nem achados os subscritores dos acordos do Luena, assim como o líder do “Galo Negro”, enquanto parte da guerra civil em Angola.

“Vejo que está-se a levar este processo para outro rumo, em que não há adversários políticos mas inimigos, que ontem se bateram no campo militar e hoje no campo político, mas sempre inimigos. Quando são inimigos os limites éticos e morais desaparecem. Vi um Presidente convidar várias figuras, mas com uma certa confusão, se a data era do Dia da Paz a prioridade seria chamar os protagonistas deste processo e não nacionalistas. Joao Lourenço ficou mal na fotografia” , salienta o antigo padre e activista pelos direitos humanos, Raul Tati.

No entendimento do analista político, Luís Jimbo, a data que se podia comemorar de forma simbólica com ímpeto da união de irmãos desavindos no período de guerra civil acabou em polémica.

Para Jimbo, a exclusão do líder do maior partido da oposição, Adalberto Costa Júnior, um dos partidos subescritores dos acordos de Luena, veio demonstrar que há um caminho longo por percorrer na conquista da verdadeira reconciliação nacional.

“Há uma manifestação de um mau relacionamento entre o líder do MPLA e o da UNITA, um exemplo triste para um país que saiu de um conflito de guerra civil e que quer manter uma cultura de tolerância e respeito pela diferença” refere Luís Jimbo, para quem é da responsabilidade do Presidente João Lourenço enquanto Chefe de Estado poder abraçar todos os angolanos e não confundir assuntos do partido com os da nação angolana.

“Temos que reprovar este tipo de actos do Presidente da República, que não sejam em detrimento dos angolanos. Os jovens que fazem hoje 19 anos de idade devem perceber que a promoção da paz se faz com tolerância, respeito pelas diferentes ideologias políticas e o multipartidarismo, cuja mensageiro devia ser o Presidente Joao Lourenço”, observa.

Raul Tati é de opinião também que Lourenço resumiu a questão da paz e reconciliação nacional como paz de vencidos e vencedores.

“Não consigo ver uma reconciliação como gostaria que fosse em Angola, embora haja uma fachada, com as instituições, o parlamento, aparentemente temos a democracia multipartidária, porém temos um país sobre a vontade hegemônica de um partido que desde 1975 tem Estado assumir as rédeas”, acrescenta Tati, tecendo duras críticas aos conselheiros do Presidente da República, por permitirem que determinadas falhas ocorram que acabam por manchar a sua imagem e da nação.

“Essa equipa que anda ali no palácio não sei o quê é que faz? Ou ele não se deixa ou então só conselheiros têm medo de o aconselhar, das duas uma”, conclui.

Entretanto, um dos fundadores da UNITA, convidado para o almoço, Samuel Tchiwale, explicou à VOA as razões que o levaram a declinar o convite do Presidente Lourenço.

“A chefia tinha que ser comunicada e esta faria um estudo, o que não aconteceu. Eu não sou nenhuma criança, tenho 77 anos, sou idoso, maduro, não entro nestas brincadeiras, razão pelo qual não fui”, sustenta aquele veterano do “Galo Negro”.

Outra das ausência julgadas importantes pela opinião pública foi a do general Lukamba Paulo “Gato”, na qualidade de secretário-geral da UNITA, a figura mais alta na hierarquia do partido, em 2002, após a morte do vice-presidente, António Dembo, e do líder, Jonas Savimbi.

Como coordenador da então Comissão de Gestão, dirigiu, do lado da UNITA, as negociações para a paz no país.

Dezanove anos depois, “Gato” considera que “o dia 4 de Abril de 2002 devia ter sido melhor aproveitado, para que o país marcasse uma verdadeira viragem, que definisse, sem equívocos, um período histórico antes e um depois”.

A VOA contactou o secretário para Informação da Presidência da República, Luis Fernando, mas sem qualquer sucesso.

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