EUA: Governo angolano não consegui deter “Inflação” na província angolana de Luanda

O custo de vida na capital aumentou 27,7% no último ano, o maior ritmo anual em 42 meses, que deverá obrigar o BNA a rever em alta a meta de inflação actualmente fixada em 18,7%.

O custo de vida em Luanda aumentou 2,3% em Abril face a Março, elevando a taxa acumulada dos primeiros quatro meses para 9,3% e a taxa homóloga ou anual para 27,7%, segundo dados do Índice de Preços no Consumidor Nacional (IPCN) divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Em termos mensais a inflação desacelerou 0,1 pontos percentuais (pp) desaceleração que não retira o ritmo de aumento dos preços da órbita descontrolada em que se encontra há já vários meses.

Em termos acumulados a capital regista a maior alta de preços dos últimos três anos, e a nível da homóloga, a mais elevada nos últimos 40 meses.

Se em Luanda, a inflação mensal abrandou ligeiramente de Março para Abril, a nível nacional aconteceu o contrário com o ritmo de aumento de preços mensal a aumentar 0,3 pp para 2,1%. A inflação acumulada acelerou 0,2 pp para 7,7% enquanto a homóloga estabilizou nos 24,8%.

A inflação anual em Luanda está agora 2,8 pp acima da nacional (27,7% contra 24,8%), o diferencial mais elevado desde que a inflação nacional começou a ser calculada. O ritmo de aumento de preços na capital descolou do nacional a partir de Dezembro.

Depois de Luanda as províncias com maior variação nos preços foram Lunda Sul, com 2,3%, Uíge e Zaire, ambas com 2,2%. Por seu turno as províncias que registaram menor variação nos preços foram: Huambo com 1,7%, Moxico com 1,6%, Bié com 1,6% e Cabinda com 1,5%.

Das 12 classes que servem de base para o cálculo da inflação nacional, a classe alimentação e bebidas não alcoólicas, com 2,6%, foi a que registou o maior aumento de preços, seguida da saúde, com 2,2%, dos bens e serviços diversos, com 1,9%, e dos hotéis, cafés e restaurantes com 1,8%.

Os preços continuam a subir onde mais dói aos angolanos. De acordo com o inquérito às despesas de 2018/19, a alimentação e bebidas representa em média 55,7% dos gastos mensais das famílias. Além de liderar a inflação mensal, a classe de alimentação e bebidas não alcoólicas lidera também a inflação anual com 29,9%. Face a estes aumentos os angolanos quase que não têm dinheiro para outros bens senão a alimentação.

Para 2021, a meta de inflação anual é de 18,7% a nível nacional, meta que o Governador do Banco Nacional de Angola (BNA), José de Lima Massano, admitiu rever quando falava a jornalistas no final da última reunião do Comité de Política Monetária. Com a evolução da inflação em Abril, a revisão é quase certa. Falta saber para quanto.

A causa das coisas

Para o director geral da Score Distribuição, S.A, António Leal, os constantes aumentos nos preços dos produtos alimentares em geral e da cesta básica em particular seguem a tendência de subida de preços a nível internacional que influencia directamente os preços dos produtos, sejam nacionais ou de importação.

O responsável da empresa detentora do Deskontão, apontou ainda a constante desvalorização da moeda nacional e o acréscimo do IVA, como factores que contribuem para o aumento dos preços.

Já para o economista Heitor Carvalho, atribui as culpas às medidas definidas pelo Executivo para proteger a produção nacional. O licenciamento das importações gera escassez que pode ser agravada por factores como a chuva em abundância, a seca, o mau estado das estradas, a cerca sanitária, etc. que afectam a produção nacional e consequentemente os preços. A falta de concorrência no comércio é a cereja no topo.

A escassez de que fala Heitor Carvalho é notória nos principais supermercados onde faltam produtos agrícolas de origem nacional como é o caso do alho, cebola, batata-doce, mandioca, entre outros.

“O número de camionistas reduziu-se em resultado do mau estado das vias, do custo das reparações das viaturas, do excessivo controlo da polícia, agravado pela cerca sanitária em Luanda. Tudo isso leva os camponeses a produzirem apenas o necessário à sobrevivência gerando por sua vez escassez nos produtos”, garante o economista.

A produção nacional está muito condicionada pelos factores climatéricos, principalmente na altura das chuvas, em que a destruição das plantações é uma constante, e logísticos, como as dificuldades de transporte para fazer chegar os produtos frescos ao mercado, concorda António

Leal.

O economista lamenta ainda o facto de não haver condições para a conservação da produção nacional.

Os comerciantes e camionistas não possuem meios e procedimentos de conservação necessários para regularizar a oferta ao longo do ano. A produção nacional é de época, em alguns períodos existe produção em excesso, no resto do ano a produção escasseia.

Para o director geral da Score Distribuição, ainda há um grande caminho a percorrer por parte dos produtores nacionais, principalmente nos pequenos, no que diz respeito à capacidade de abastecimento de todo o mercado da grande distribuição, o que, por vezes, se traduz na escassez dos produtos perecíveis.

“Poderemos dizer que há mais procura do que oferta”, garante Leal. “As empresas agrícolas vão gerando algum produto, mas não é suficiente para compensar a perda da produção comercial dos camponeses tradicionais e a redução das importações”, reforça Heitor.

5 medidas para estabilizar os preços

Segundo Heitor Carvalho o controlo dos preços passa entre outras pelas seguintes medidas:

1 – Criar uma pauta aduaneira que eleve os preços dos produtos importados até ao limite que se ache necessário para proteger a produção nacional;

2 – Eliminar as licenças de importação;

3 – Aumentar a concorrência incentivando muito mais importadores que façam concorrência entre eles e não permitam a cartelização;

4 – Priorizar o funcionamento das estradas principais. As secundárias e terciárias têm de ser deixadas para outra fase;

5 – Eliminar licenças de transporte e comércio fixando poucas regras, fáceis de cumprir que sejam exigidas aos camionistas e comerciantes apenas pela ANIESA.

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