EUA: O Desafio de Angola em diversificar uma economia dependente do Petróleo

Hoje, até os leigos sabem que a economia de angolana depende fortemente do sector petrolífero. Consequentemente, a nossa economia tem sofrido com a queda dos preços do petróleo desde 2014 – que foi então exacerbada pela pandemia COVID-19, empurrando assim os preços do petróleo Brent para seus níveis mais baixos desde o final da década de 1990 e fazendo com que os futuros do petróleo dos EUA ficassem negativos pela primeira vez na história este ano. Muitos analistas como eu, havíamos previsto que Angola sairia da recessão em 2020. O facto inquestionável, porém, é que a contínua dependência do país do petróleo é e continua a ser um risco inerente às suas perspectivas económicas.

Assim, o Executivo de JLO, ao procurar tirar Angola da dependência do setor petrolífero, e aumentar o número de indústrias e setores que podem contribuir materialmente para a recuperação e crescimento económico do país, ao longo da década de 2020 é para mim um desiderato desejável, e merece todo nosso apoio. Precisamos também na medida do possível, apoiar certas reformas impostas pelo FMI e por medidas de transparência e responsabilidade aprimoradas, para que esta estratégia seja um sucesso para Angola.

Assim sendo, Angola, pretende iniciar uma alienação parcial da petrolífera nacional Sonangol e da firma de diamantes Endiama até ao final de 2021 ou início de 2022, possivelmente através de ofertas públicas iniciais, conforme proferiu a ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa recentemente em Luanda.

A meu ver, esta venda, será parte de um esforço do segundo maior produtor de petróleo da África para arrecadar dinheiro e impulsionar uma economia que em todas as formas, continua moribunda. Angola já vendeu mais de 30 empresas através de um programa que vai até 2022. Atualmente, está vendendo participações na ENSA seguradora , um banco comercial e mais de 195 ativos reservados no mesmo plano.

A pergunta esmagadora que muitos angolanos devem estar a cogitar é: O que é uma oferta publica inicial, sigla em Inglês (IPO)? Ainda lembro- me como estudante de Economia em 1993 na minha Alma Matter, London Guildhall University, em como este tema de mercados de valores era novidade para muitos de nós. Só já em 1999 como analista de bolsas de valores na empresa Fidelity Investment em Boston, pude entender com granularidade o que era um IPO.
Assim um IPO em termos terra-terra, é essencialmente um método de arrecadação de fundos utilizado por grandes empresas, em que a empresa vende suas ações ao público pela primeira vez. Após um IPO, as ações da empresa são negociadas em bolsa de valores como por exemplo na Wall Street em Nova Iorque, na London FTSE, na DAX na Alemanha e na CAC em Paris.

Para a Sonangol e Endiama, como empresas que desejam arrecadar capital sem juros do público listando suas ações, estás têm duas opções: Um IPO ou uma listagem direta. Com os IPOs, a empresa utiliza os serviços de intermediários chamados underwriters, que facilitam o processo de IPO e cobram uma comissão pelo seu trabalho. Empresas que não podem arcar com a subscrição, e não querem diluição de ações ou estão evitando períodos de bloqueio muitas vezes escolhem o processo de listagem direta, uma opção mais econômica do que um IPO. Está opção não requer um intermediário, entretanto, não há rede de segurança que garanta a venda das ações quando estas estiverem disponíveis ao público.

As listagens diretas, que também são conhecidas como Colocação direta ou Ofertas públicas diretas, neste caso, a empresa vende ações diretamente ao público sem a ajuda de intermediários. E quanto as vantagens de um IPO? O principal benefício de abrir o capital por meio de um IPO é a capacidade de angariação de capital rapidamente, alcançando um grande número de investidores. Asim a Sonangol e a Endiama poderão então usar esses fundos para promover os seus negócios, seja na forma de pesquisas, infraestruturas ou expansão. Além disso, por meio desta emissão de ações, a Sonangol e a Endiama serão mais conhecidas e poderão gerar publicidade, aumentando assim suas oportunidades de negócios. Há também o prestígio destas serem listadas em uma grande bolsa de valores que o Executivo já deve ter considerado, o que é um motivador para algumas empresas que seguem o caminho do IPO. Finalmente, os IPOs podem ajudar as empresas como a Sonangol e a Endiama no crescimento e a atrair novos talentos, oferecendo vantagens como opções em ações como parte do pacote remuneratório para seus colaboradores.

Agora a contrapartida também existe. Há sim desvantagens em IPOs. Uma grande desvantagem de abrir o capital por meio de um IPO, são o tempo e os gastos necessários que a Sonangol e a Endiama terão que arcar para realizar o processo. É comum que um IPO leve de seis a nove meses ou mais para chegar ao público. Durante esse tempo, a equipa de gestão das nossas duas empresas provavelmente ( se estas são sérias e conhecedoras da matéria) estarão concentradas nesses IPOs, o que poderá prejudicar outras áreas de seus negócios. Além disso, custará dinheiro para realizar um IPO, isso através de gastos com os serviços financeiros envolvendo taxas de subscrição e taxas de arquivamento. Outro perigo, este deve ser bem equacionado em Angola, ( assim se espera de um governo responsável) é que quando uma empresa como a Sonangol e Endiama que são estratégicas para o Estado e o país, abrem o seu capital para o público, elas se tornam sujeitas a uma série de requisitos adicionais de relatórios, e de divulgação de dados, todos os quais também custam dinheiro. Depois os custos comuma contabilidade organizada, aderir aos pactos de não corrupção e auditorias sérias trimestrais e relatórios de conta anuais.

Além disso, quando uma empresa abre o seu capital ao público , ela deve responder aos seus acionistas, facto que as nossas empresas em Angola não estão acostumadas. Quando os acionistas ganharem participações acionárias significativas no caso das nossas duas empresas em foco aqui, eles podem votar para anular as decisões da administração ou votar para se livrar completamente dos gerentes e diretores destas empresas. É por isso que as empresas públicas muitas vezes se sentem pressionadas a ter um bom desempenho para os seus acionistas, e às vezes tomando no processo decisões de negócios ruins, sacrificando o crescimento de longo prazo para por lucros de curto prazo. Isso não será bom para Angola e pode ser pior do que permanecer no cartel da OPEP.

Bem-haja ao Executivo angolano com esta inovadora aproximação na gestão de empresas de renome do nosso país.

Mario Cumandala

Economista

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