EUA: Vice-Procurador angolano Mota Liz promete “abandonar” o funcionalismo público

O Vice-Procurador da República promete abandonar o funcionalismo público caso ficar provado que tenha cometido o crime de usurpação de imóvel, abuso de poder , tráfico de influência e associação de malfeitores de que é acusado pelo portal A Denúncia.

Mota Liz, fez tal revelação num post publicado este fim de semana através da rede social facebook.

Em 2018, o jornalista e investigador angolano, Rafael Marques, acusou o vice-procurador-Geral da República, Mota Liz, de ter usurpado o terreno de um cidadão onde estaria a construir um centro comercial em Luanda.

Nesta semana, um outro Jornalista de Investigação, Carlos Alberto, acusou igualmente o vice-procurador-Geral da República de ter usurpado um Imóvel, abuso de poder, tráfico de influência e associação de malfeitores.

Em reposta, Mota Liz, vice-procurador-Geral da República, postou uma mensagem nas redes sociais.

Mensagem na íntegra

A semana que findou foi particularmente triste para mim.

Acordei refletindo sobre a vulnerabilidade de valores tão caros e essenciais a natureza humana e a vida em sociedade.

Qualquer ser humano que se queira honrado e respeitado, leva toda uma vida a construir o seu bom nome e reputação que se vão irradiando na sua jornada neste mundo e se transmitindo no seu meio familiar e social.

Entretanto, todo este património, de valor incalculável, pode ser lançado a sarjeta, num clique de uma tecla de um computador ou outro dispositivo, por acção de qualquer pessoa, pouco reflectida e alérgica a sensatez e a verdade.

Nunca escondi e não me envergonho do meu passado, nasci e cresci no seio de uma família muito humilde, numa aldeia rural, em Sanza Pombo. Andei descalço e nunca roubei calçados de ninguém, usei calções rotos e nunca furtei roupas alheias. Não tinha brinquedos de luxo, mas sabia fazer carros de bordão, de latas de sardinha, trotinetas com rolamentos, que divertiram ricamente a minha infância e de que guardo boas recordações. Cacei ratos, grilos, gafanhotos e pássaros, para comer e ainda assim, nunca tirei alimentos de outrem. Cedo, muito cedo tive que trabalhar para sobreviver e construir o homem e a família que hoje tenho. Continuo a batalhar para que meus filhos não passem pelas mesmas carências. Nunca consegui lhes oferecer a abundância, mas apenas o essencial para viver com dignidade mínima, formação e ferramentas para enfrentar a dureza da vida com inteligência, trabalho e muita dignidade.

Entretanto, a nossa pobreza material contrastava com a riqueza moral e espiritual, fruto do rigor da educação no seio da família, da forte influência religiosa e da envolvente comunitária.

Minha Mãe, de eterna saudade, mulher que muito batalhou para sustentar os sete filhos que trouxera ao mundo, com o rigor disciplinar que lhe era característico, ensinava e recomendava veementemente, que nunca nos devíamos apropriar do que não nos pertence. NUNCA apanhar coisas na rua, especialmente dinheiro porque, naquele meio social, nas crenças enraizadas na comunidade, corríamos o risco de apanhar feitiço e levar desgraças para casa.

Na adolescência vivi sob forte influência de missionários católicos, numa comunidade cristã que tinha o catecismo, os Mandamentos Divinos, martelados diariamente, como orientação para o ter, ser e estar na vida.

Respeito, solidariedade e amor ao próximo foram os principais alicerces que moldaram a personalidade que se manifesta em mim.

Dediquei-me ao estudo do Direito e ao seu ensino, o que faço com muito prazer e responsabilidade. Há mais de trinta anos trabalho na prevenção e combate ao crime, o que faço com o máximo rigor técnico, suportado por uma alma humana suplicando sempre por discernimento, para distinguir o bem do mal, o justo do injusto, a verdade da mentira.

Poder auxiliar os injustiçados e responsabilizar os criminosos é algo que faço com prazer e me causa muita satisfação.

Procuro transmitir estes valores aos meus filhos, aos meus alunos nas minhas aulas, em palestras e outras exteriorizações do meu pensamento, em ambiente privado ou aberto á sociedade.

Assim levo a minha vida na esperança de amanhã, assim ser recordado quando, no dia certo, meu corpo perder vitalidade e minha alma retornar a casa do Pai.

De repente, um iluminado da comunicação social, usando das suas ferramentas, altamente potenciadas pelas novas tecnologias, abriu a boca, accionou a tecla e gritou, bem alto, para todo mundo ouvir, afirmando levianamente que estou envolvido numa associação de malfeitores; que abuso do poder que me foi conferido por lei, para o exercício das minhas funções; que tráfico a minha influência social e que usurpo imóveis.

Como é fácil lançar para lama, uma reputação construída em tantos anos, a custa de princípios e valores tão nobres!

Quantas pessoas terão ficado com a ideia de que sou um criminoso?

Aos que me conhecem minimamente, tenho a certeza que o panfleto publicado só despertou sentimentos de revolta, por essa manifestação de ignorância maldosa ou mercenarismo de imprensa.

Como qualquer cidadão, tenho o direito de pedir à justiça que conceda ao autor das imputações/acusações, a oportunidade de fazer prova da sua veracidade.

As acusações para além de ofensivas a minha reputação e a minha dignidade, são susceptíveis de levantar uma corrente de suspeição quanto a minha idoneidade para o exercício do cargo que ocupo e de funções públicas, em geral.

Quero aqui reafirmar aquilo que já terei dito, em carta oficial dirigida ao Senhor Procurador Geral da República, que declino o exercício de funções públicas, se ficar provado que eu tenha cometido alguma crime, nesta história, que se resume, essencialmente, na compra de um terreno, de que resultou um litígio superveniente, do qual nem sequer sou parte principal e que esta a ser tratado em sede dos tribunais competentes.

Não faz qualquer sentido e mostra-se manifestamente infundada a ideia de qualquer usurpação, no caso.

Por mais fome que tivesse, na minha infância, nunca fui capaz de tirar uma mandioca ou um feixe de ginguba em lavra alheia. Para saciar a fome, que suportei inúmeras vezes, apanhava ginguenga, ginbote ou maboque, frutos da natureza, disponíveis para todos.

Não sei me apropriar de coisa alheia, nem mesmo achada, por maior que seja o seu valor, procuro sempre o seu dono.

Tenho consciência que ainda que seja reposta a verdade na justiça, a semelhança dos efeitos de qualquer fofoca, jamais vai reparar, na integra, os danos infligidos a minha personalidade e a minha família.

Sou defensor de uma ampla protecção da liberdade de expressão e de imprensa, especializei-me em direito da comunicação social e procuro transmitir o alcance e os limites legais do exercício destes direitos. Por isso, também não tolero que a luz destes direitos fundamentais se desenvolvam nódoas que desvirtuam a sua essência, atrapalhando, levianamente, outros direitos de personalidade. É mais um cancro social que deve ser controlado, para o bem da humanidade.

Que Deus nos proteja de tanta maldade.

Bom final de semana a todos amigos e “meus manos”, conhecidos e virtuais.

ML (Mota Liz )

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