O Ex-Líder da UNITA, Isaías Samakuva disse hoje que o Presidente angolano tomou uma decisão patriótica ao permitir a Fundação Jonas Malheiro Savimbi, ao contrário dos que gostariam de apagar o papel histórico do fundador da UNITA.
Isaías Samakuva, que presidiu à UNITA, principal partido da oposição angolana, durante 16 anos, sucedendo ao fundador e presidente Jonas Savimbi, morto em 2002, proferiu hoje o discurso de encerramento na apresentação pública da fundação.
Isaías Samakuva que é presidente do conselho dos curadores, reconheceu o empenho do Presidente da República, João Lourenço (MPLA, partido no poder deste 1975), “por ter tido a coragem política de romper com tabus e ultrapassar preconceitos para permitir que o parceiro de José Eduardo dos Santos e do governo de Angola na construção da paz democrática em 1991”, tivesse também a sua fundação estabelecida em Angola.
“Foi uma decisão patriótica, politicamente elevada (…) por se tratar de um adversário político muito forte cujo papel histórico na construção da pátria muitos quiseram e querem ainda apagar e outros quiseram e querem silenciar, ou ignorar, e outros procuram deturpá-lo”, disse, acrescentando que ainda hoje se vêm escritos e comentários apregoando “Savimbi, não mais”.
Para Isaías Samakuva, a história apela mais do que nunca à reconciliação nacional e exige coragem política: “Este é o verdadeiro sentido da história e não o da busca de instrumentalização”, frisou, realçando que a UNITA de Savimbi nunca se deixou instrumentalizar e que a fundação “jamais se deixará instrumentalizar por quem quer que seja”.
O político afirmou que a apresentação pública da fundação marca também o simbolismo de reconciliação e que Savimbi e José Eduardo dos Santos, Presidente de Angola durante 38 anos, dos quais 30 em guerra contra a UNITA de Savimbi, “foram os arquitetos dos fundamentos da república de Angola”.
“São dois nomes que não podem ser apagados da história de Angola. Quanto mais cedo os angolanos conseguirem abandonar os seus preconceitos e ressentimentos pessoais e aceitar este facto histórico, mais cedo celebraremos os frutos do perdão mútuo. Angola reclama mais do que nunca pela participação democrática de uma sociedade civil forte e autónoma”, salientou, acrescentando que a fundação arranca com uma ambição imensa e “intensa vontade de servir a curto prazo as comunidades locais e a médio e longo prazo a unidade global”.
“Estou convencido de que os equívocos e temores à volta da fundação ficarão ultrapassados”, rematou.
A apresentação da fundação ficou marcada pela ausência dos principais dirigentes da UNITA, casos de Adalberto Costa Júnior, do líder do grupo parlamentar, Liberty Chiaka, ou representantes das principais organizações do partido.
A Fundação Jonas Malheiro Savimbi tem estado envolvida em polémica desde que foi anunciada a legalização depois do líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, falar em interferências e instrumentalização, embora considere legítima a vontade dos familiares criarem esta entidade.
Isaías Samakuva, por seu lado, negou qualquer intenção de criar um novo partido e afirmou ter informado Adalberto Costa Júnior sobre as suas novas funções na direção da fundação, realçando também que a sua proximidade com o Presidente, João Lourenço, resulta de laços de amizade antigos.
Os mais de dez filhos de Savimbi presentes, e que se fotografaram juntos no final da cerimónia, animada por coros de igrejas, declamação de poemas e miniteatros, insistiram que a fundação surgiu da vontade dos familiares e não tem fins políticos.
Aleluiah Chilala Sakaita Savimbi destacou, ao dar as boas-vindas, que os filhos de Savimbi quiseram encontrar um instrumento necessário para realizar o sonho do pai, constituindo a fundação, uma instituição sem fins lucrativos que se vai ocupar da preservação do acervo histórico sobre o fundador do partido do “Galo Negro”.
A Fundação, sob o lema “Solidariedade. Inclusão. Desenvolvimento”, tem ainda como objetivos apoiar as pessoas portadoras de deficiência, apoiar a erradicação das minas antipessoais, apoiar a mulher rural, promover projetos de alfabetização, saúde sexual e reprodutiva, promover a preservação de valores culturais africanos, conceder bolsas de estudo etc.
O primogénito de Savimbi, Durão de Monte Negro Cheya Savimbi, agradeceu ao Presidente angolano, João Lourenço, e a Isaías Samakuva o apoio à fundação que “não é e nunca será um partido político, nem um sindicato, nem uma instituição religiosa, nem uma empresa”, sendo “expressão da vontade genuína” de realizar o sonho do pai.
“Jonas Malheiro Savimbi deve ser lembrado, estudado até criticado, por que não, mas lembrar-nos-emos sempre de que é um filho de Angola, que serviu Angola, idealizou e encarnou uma causa nobre”, sublinhou.