As dificuldades económicas e as divergências no seu próprio partido, o MPLA, são os principais problemas que o Presidente angolano João Lourenço vai enfrentar em 2022, ano em que Angola vai disputar eleições gerais.
No quarto ano de mandato de João Lourenço, que tomou posse a 26 de setembro de 2017, o académico descreve a atual situação política em Angola como “muito maleável” e caracterizada por graves problemas económicos, apesar do aumento recente dos preços do petróleo.
“Poderá haver ainda turbulência nos próximos 12 meses nos mercados de matérias-primas e, de qualquer modo, não compensa a sangria de recursos que se assiste desde 2014. Isto é uma bola de ferro que João Lourenço tem à perna”, afirmou.
O país continua dependente das matérias-primas, como sempre esteve, não gera emprego e não conquistou a diversificação económica, colocando a situação económica no centro das preocupações dos angolanos.
E mesmo que o Presidente angolano consiga obter financiamento para “alimentar alguns grupos clientelares” que lhe garantam algum apoio a médio prazo, isto não elimina as questões políticas com que o país se confronta.
O especialista em questões africanas olha para o MPLA com um partido “fossilizado” cujas referências ao passado se tornaram obsoletas na mente de 75% do eleitorado angolano, maioritariamente jovem.
“É como se um partido político português fizesse um manifesto eleitoral com referências vivas à Segunda Guerra Mundial”, destacou, sublinhando que a “demonização da oposição” que foi central nos anos 70, 80 e 90 é agora “inútil ou até contraproducente” e não desencoraja as pessoas que querem votar UNITA.
“João Lourenço não se consegue livrar do passivo que vem com o MPLA. O partido é o que existe. As pessoas são o que são, ele pode livrar-se de dois ou três super corruptos porque acha que aquilo vai dar má imagem, mas não são só dois ou três, é uma fatia significativa da liderança do partido”, continuou o investigador, admitindo que esta é também uma das razões pela qual João Lourenço não “limpou” o partido verdadeiramente.
Apesar de entrar na corrida eleitoral com uma situação económica negativa, o peso partidário não representa só desvantagens, mas também um acesso discricionário aos fundos que os partidos da oposição não têm, notou.
Ricardo Soares de Oliveira sugere que João Lourenço poderá vir a dar alguns sinais políticos falar mais da diversificação da economia e da criação de empregos, fazer anúncios do domínio da despesa social, saúde e educação, insistir no discurso de luta contra a corrupção – mas o menu disponível para resgatar a sua imagem “não é muito extenso”.
Por isso, as opções para as eleições de 2022 são mais restritas do que em 2017, realçou.
Além disso, se não resultar numa reconciliação entre José Eduardo dos Santos (JES) e João Lourenço, o regresso do ex-presidente a Luanda pode ser fonte de preocupação adicional, face ao “sentimento difuso, em alguma opinião pública, de que afinal as coisas no tempo de JES não eram assim tão más”.
Um sentimento que, para Ricardo Soares de Oliveira, é essencialmente uma forma de criticar a situação atual.
“As pessoas não estão propriamente a dizer bem de José Eduardo dos Santos, estão a dizer mal de João Lourenço”, sintetiza, explicando que esta forma de embelezar o legado do anterior presidente (que regressou a Angola este mês, depois de dois anos a residir em Barcelona), transformando a anterior presidência em algo benigno, é uma “ficção”, compreensível no contexto atual, mas “perniciosa” face à oportunidade perdida de transformação real do país naquele período.
“Penso que qualquer nostalgia que apague os factos da má governação de JES é inaceitável, mas percebo de onde essas vozes vêm”, disse o analista.
Do lado da oposição, além do discurso mais crítico do MPLA e de “uma certa lucidez na identificação dos problemas do país”, em particular do que foi feito de mal, há também uma “pobreza de ideias” no que respeita a alternativas para o país.
“Como ainda falta um ano para as eleições, seria importantíssimo que a oposição desenvolvesse não apenas o discurso crítico do `status quo`, mas um verdadeiro projeto de mudança”, advogou.