Início de um Novo Ciclo Político em Angola?

Temos estado a seguir com muita atenção, nestes últimos dias, mensagens que circulam nas redes sociais. Preocupa-nos o tom agressivo e o grau de intolerância que é tão alto por parte de alguns internautas que nos transporta para os momentos mais difíceis do nosso passado, quando uns eram chamados de “fantoches, lacaios do imperialismo e outros de caudilhos ao serviço do social imperialismo”, como reflexo do grau das contradições políticas que existiram na época.

Terminada a guerra, virou-se esta página do passado e em 2002 iniciamos um novo capítulo para a construção de uma nova sociedade que se deseja de inclusão, tolerância, transparência e diálogo. Mas depois de mais de uma década do calar das armas, chega-se a conclusão de que o governo angolano continua com dificuldades em ouvir e dialogar com a sociedade civil, e com a juventude em particular.

Quem governa é quem define as regras do jogo. A juventude e os angolanos em geral, têm as suas razões de se manifestarem, vítimas do desemprego, da fome, da pobreza extrema, da corrupção e da falta de perspectivas para as suas vidas.

Por outro lado, a polícia excedeu-se nesta manifestação com o uso da força desproporcional. Exacebaram-se as contradições com o uso de armas de fogo para reprimir e perseguir jovens indefesos de que resultaram mortos, feridos e detidos.

Os actores políticos têm que ter em mente que as mudanças vão mesmo ocorrer em Angola. Disso já ninguém duvidas. Não há regimes eternos. Todos os indicadores políticos apontam para esse desiderato.

O desejável seria que estas mudanças ocorressem num contexto de serenidade política para se preservarem as conquistas de Abril. Mas ninguém duvide. As manifestações, como um direito consagrado na Constituição da Republica, são inevitáveis, à semelhança de muitos países africanos onde milhares de jovens encontram nelas a forma de exteriorizarem os seus sentimentos de descontentamento e revolta.

Que se faça o uso das redes sociais com muita ponderação, responsabilidade e serenidade. Que se utilize uma linguagem que promova a afirmação da cidadania e não o incitamento à violência e ao ódio.

Alcides Sakala
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