Para que conste, sou a favor das manifestações. Enquanto cidadão consciente dos seus direitos, defino-me como democrata. Apoio a competição política.Em nada me constrange disputar em igual circunstância. Aliás, essa condição em si, força a superação constante diante de eventuais adversidades.
Entretanto, não posso concordar com os incidentes protagonizados por suposta sociedade civil, no passado dia 24/ 10/20. Compreendo, também , que o “levante” só ocorreu porque os manifestantes viram os seus direitos rejeitados. Quem os rejeitou não esteve bem, claro.
O mais grave, quanto a mim, é que a “confusão” foi alargada, tudo porque mais de cem manifestantes ficaram privados da sua liberdade, indiciados sabe-se lá de quê. Para completar a farra, dezenas de cidadãos montaram barricadas, exigindo a reposição da liberdade dos detidos. Ora, o que se dizia que seria uma manifestação espontânea afinal pôde-se tratar de um movimento concebido por um comitê que ensaiou diferentes cenários para embaraçar as autoridades, e podemos dizer que, até ao momento a estratégia está funcionar. Por quê? Porque do outro lado não há uma reação proporcional. Limitam-se acusar a UNITA de manipulação dos jovens. Sim, a UNITA tirou proveito da situação. Há algum mal em um partido político se colocar a favor de uma reivindicação de jovens? Aparentemente não.
Olhando fixamente para o cenário, tendencialmente ficamos com a impressão de que a desordem e a instauração do caos pôde também ter sido uma das hipóteses colocada por cima da mesa por parte dos organizadores da manifestação. Só assim se compreende a pressão sobre o poder judiciário no tribunal provincial de Luanda. Aqui chegados, podemos afirmar que nenhum cidadão no seu perfeito juízo viabilizaria tal projecto. E mais, uma coisa é a disputa do poder, outra coisa é chamar atenção pelas piores razões: instauração da desordem.
O que os manifestantes estão a fazer à porta do tribunal é de todo condenável. Não se pode desrespeitar as instituições, pior ainda tratando-se da justiça. É bom sublinhar, no entanto, que a situação pode ter-se precipitada porque as propaladas reformas não são testemunhadas no plano prático. Talvez não fosse má ideia estudar melhor o perfil dos colaboradores do Presidente.
Rui Kandove