Memórias: General angolano Higino Carneiro revela participação na captura de “Nito Alves”

[…] Terminada a campanha militar da minha unidade em finais de 1976, fui nomeado comandante de Reconhecimento e Informações do comando do sector do Bié e mais tarde chefe de Reconhecimento de Informações do IV Região-Militar, cujo comando estava instalado na cidade do Huambo. Estive la muito pouco tempo, nem cheguei a exercer como devia tal função. O comandante da Frente Centro nessa altura era César Augusto Kiluanji, hoje diplomata, tendo sido embaixador de Angola na Argélia, Cabo Verde e Cuba.

Expulsamos os assaltantes e restabelecemos a comunicação

O Soldado da Pátria continuou na guerra pela soberania nacional. Em princípios de 1977, antes do golpe de estado militar de 27 de Maio, por decisão do Presidente António Agostinho Neto, Comandante em Chefe das FAPLA, foi criada no Estado-Maior Geral das FAPLA, a Direcção de Unidade Especiais. O major Marcelino Dias foi nomeado para dirigi-la. Eu já era um militar experimentado nas frentes de combate. Ganhei muita experiência no Batalhão Internacionalista onde estavam militares competentes e com excepcionais qualidades de comando. Com eles aprendi o essencial que um operacional deve saber em tempo de guerra. Foi com honra e muito orgulho que assumi as funções de Chefe de Operações da Direcção de Unidades Especiais, conhecida por DIUE.

A intentona de 27 de Maio de 1977, provocou um grande abalo na Nação Angolana. Perderam-se muitas vidas. Uma delas foi a do famoso comandante Paulo Mungongo “Dangereux”, destacado e querido militar, sem desprimor para os demais que foram assassinados pelos golpistas. Esse infausto acontecimento levou-nos a fazer uma grande operação com o seu nome, nas províncias do Bié, Moxico e Huambo.

A Operação Daugereux levou a que fossem criados sectores militares em sedes municipais e comunais designadamente Camacupa, Andulo, Chitembo, Sambo e Tempue. Estes sectores foram liderados pelos comandantes José Pedro Fernandes da Silva, João de Matos, Luís Faceira, Calenga e eu próprio, Higino, Soldado da Pátria. O Posto de Comando Central foi instalado na Cidade do Cuito tendo como chefe máximo, o comandante David Moisés “Ndozi”.

O Chefe do Estado-Maior era o comandante Marcelino Dias. Integravam ainda a estrutura de direcção e comando vários oficiais muitos dos quais já faleceram, como os generais Ita e Torres.

Falando do general Mário Cirilo de Sá (Ita) ele, com o general José Maria, o brigadeiro Cobra, já falecido, Maneco e eu, cada um em cima de um blindado BRDM-2, desfizemos a manifestação que estava diante da Rádio Nacional, tomada de assalto por golpistas armados, às primeiras do dia 27 de Maio de 1977. Expulsamos os assaltantes e restabelecemos a comunicação oficial do Governo da República Popular de Angola.

Coordenou esta nossa intervenção militar, muito oportuna, o comandante Onambwe. É certo que a onda de violência dos golpistas forçou a que se realizassem operações para perseguir e capturar os responsáveis da intentona. Eu fui enviado para a região de Quibaxe, onde instalei o meu Posto de Comando na Estalagem, na vila do Piri. Juntou-se a mim, dias depois, o comandante Margoso, vindo do Uíge. Pouco tempo depois, capturamos Nito Alves, que depois conduzimos sob prisão a Luanda.

In “MEMÓRIAS Soldado da Pátria”, de Higino Carneiro (pags. 62/63).

 

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