Moçambique: Carlos Cardoso, o Jornalista silenciado há 20 anos

O jornalista moçambicano Carlos Cardoso, assassinado há 20 anos, é alvo de uma série de homenagens do Instituto para a Comunicação Social da África Austral (Misa-Moçambique) e do portal Carta de Moçambique.

O ponto alto é o debate “Celebrando a vida e obra de Carlos Cardoso: 20 anos após o seu brutal assassinato”, marcado para segunda-feira, 23.

No dia em que se assinalam duas décadas da sua morte, o MISA-Moçambique considera o assassinato dele uma das “piores manchas” da história do jornalismo e da governação no país.

Ele foi, segundo aquela organização não governamental regional, a “personificação da integridade, cidadania e profissionalismo da classe jornalística moçambicana, cuja profissão coloca a verdade e a justiça acima de quaisquer interesses, a bem de um verdadeiro Estado de Direito Democrático”.

Assassinato

O jornalista foi assassinado a tiros a 22 de novembro de 2000, dentro do seu automóvel, próximo do Parque dos Continuadores, na zona nobre de Maputo.

Na altura, Cardoso, editor do “Metical”, estava empenhado na investigação de uma fraude de 14 milhões de dólares relacionada com a privatização do Banco Comercial de Moçambique, que implicava proeminentes homens de negócios e do poder.

Entre os implicados constam Nyimpine Chissano, filho mais velho do ex-estadista Joaquim Chissano, e os irmãos Satar.

O Metical, fundado por ele e distribuído por fax, tratava assuntos que a imprensa estatal e mesmo a privada nascente não publicava, tais como as relações entre homens do poder e as finanças.

Natural da Beira, Cardoso foi conselheiro do primeiro Presidente da República Samora Machel e trabalhou como editor na agência noticiosa estatal, a AIM, que deixou em 1989, bem como a atividade jornalística.

Em 1992, regressou ao jornalismo integrando a Mediacoop que lançou o jornal por assinatura mediaFAX, que rapidamente se tornou numa referência da imprensa moçambicana pelo seu rigor e interesse noticioso num cenário sob controlo do poder político.

Depois, na busca da liberdade total da imprensa, deixou o mediaFAX e fundou, em 1997, o Metical, no qual viria a publicar nomes de beneficiários da fraude do BCM e desafiar a justiça a fazer cumprir a lei, o que desencadeou a conspiração para o matar.

Depois de muita pressão internacional, em 2003 as autoridades detiveram e condenaram seis pessoas a penas superiores a 20 anos de prisão: Vicente Ramaya, os irmão Ayob Ayub Satar, Momed Abdul Satar (Nini), Aníbal dos Santos Júnior (Anibalzinho), Manuel dos Anjos Fernandes e Carlos Rachide Cassamo.

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