O Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA) disse hoje que o ensino superior público no país “retrocedeu vários passos” e enfrenta ainda problemas básicos como falta de carteiras, computadores e internet, contestando o anúncio das autoridades sobre “progressos inegáveis”.
O presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), Francisco Teixeira, afirmou que ouviu atentamente o discurso do ato solene de abertura do ano académico 2023-2024, proferido na quinta-feira pela vice-presidente de Angola, referindo que esperava por um discurso “mais realista” de Esperança da Costa.
“Não concordamos com muita coisa que foi dita. Esperávamos por um discurso muito mais realista da senhora vice-presidente e que fosse mais de encontro com os problemas que os estudantes vivem”, disse.
Em declarações sobre a abertura oficial do ano escolar no ensino superior em Angola, cujas aulas se iniciam na segunda-feira, 02 de outubro, Francisco Teixeira contestou o anúncio sobre progressos no ensino superior público nos últimos anos.
“Não acreditamos e não aceitamos, porque qualquer indivíduo com sanidade mental e o mínimo de conhecimento sobre o ensino superior público em Angola sabe que não é verdade que houve progresso no ensino superior público, retrocedemos vários passos”, declarou.
De acordo com o líder do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), falta quase tudo nas universidades públicas angolanas: “O ano passado a Universidade de Luanda teve dificuldades durante um ou dois meses de aulas por falta de carteiras, temos faculdades que não têm mais de cinco computadores”, apontou.
“Temos faculdades com dificuldades de tinteiro, com dificuldades de internet, logo não é verdade que assinalamos grandes progressos e só não vê quem não quer”, insistiu o responsável.
O Governo angolano considerou “inegáveis” os progressos do país na expansão e acesso ao ensino superior, nas últimas duas décadas, admitindo a necessidade da formação de profissionais mais qualificados e capazes face às exigências atuais e futuras.
A vice-presidente de Angola, Esperança da Costa, disse quinta-feira, na abertura do ano académico, que “são marcantes os esforços do executivo angolano e são inegáveis os progressos que o país tem feito no plano da expansão e do acesso ao ensino superior nas duas últimas décadas”.
“Mas, precisamos de converter esta expansão na formação de profissionais mais qualificados e capazes de corresponderem às exigências dos tempos atuais e dos próximos desafios”, afirmou.
A vice-presidente da República de Angola, que proferiu o discurso de abertura da cerimónia, em Luanda, reafirmou o compromisso do executivo com a melhoria da qualidade do ensino, nomeadamente no subsistema do ensino superior, colocando este “ao serviço da inclusão, da inovação e do desenvolvimento sustentável”.
Em relação à necessidade de tornar o ensino superior angolano digitalizado, como assinalou Esperança da Costa, o presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA) disse não acreditar no alcance desta meta, sobretudo pelo investimento que é feito no setor.
“Pensamos que, pelo investimento que o Estado faz, pela forma como o Estado olha para o ensino superior público, como analisa e orçamenta a educação, penso que isso não é possível nem daqui a dez ou vinte anos”, frisou.
Francisco Teixeira considerou, ainda, existir em Angola uma educação “totalmente primitiva”, onde, nas faculdades públicas, faltam carteiras, computadores, impressoras, investigação científica e livros, físicos e digitais, nas bibliotecas.
Estão matriculados no ensino superior, para o ano académico que se inicia, cerca de 360.000 estudantes distribuídos pelas instituições do ensino superior públicas e privadas, com uma oferta formativa de 1.356 cursos.