O MIREX: A dívida das Missões Diplomáticas Angolanas vão muito além dos 48 Milhões de Dólares

As coisas estão completamente fora do controle dentro do Ministério das Relações Exteriores de Angola, essa Administração não é apenas impreparada, é que não têm ideia de como dirigir esse super Ministério, todos olham um pro o outro esperando que um milagre vindo directamente de Jesus Cristo aconteça em prol do MIREX e as coisas mudem.

A falta de competência e os vícios excessivos dos dirigentes do MIREX, dos embaixadores, dos cônsules gerais e dos diplomatas angolanos no geral, faz com que a nossa diplomacia se torne moribunda e incapaz de dar passos significativos na arena internacional. Não é e nunca será normal um Ministério que gasta rios e rios de milhares de dólares e ainda assim estar endividado.

Em base o Documento Oficial denominado: Projecto de Programa Integrado de Redimensionamento das Missões diplomáticas e Consulares da República de Angola (documento elaborado pelo MIREX), diz que Angola gasta anualmente: 291.376.342,36 USD com as nossas Missões Diplomáticas. Em base à este mesmo Documento o nosso País tem obrigações financeiras com 162 Organizações Internacionais na qual contribuimos anualmente 101.700.000,00 USD, e outros Organismos na qual gastamos anualmente 74.880.000,00 USD.

Tanto dinheiro gasto a favor das Missões Diplomáticas Angolanas como é possível ainda assim estarmos endividados? Onde vão os 291 milhões de dólares? Onde está o dinheiro e os investimentos gastos para manter activos as nossas embaixadas e consulados? Na verdade a grande pergunta é: quais são os dirigentes e os agentes diplomáticos que desviaram os milhares de dólares que são destinados para as nossas Missões Diplomáticas? A resposta é simples ao mesmo tempo complexa, mas é fundamental salientar que, a dívida das Missões Diplomáticas Angolanas (48 milhões de dólares) anunciada recentemente pela Secretária de Estado para o Orçamento e Investimento Público (Aia-Eza da Silva) vão além desse valor, na verdade a dívida das nossas Missões Diplomáticas estão muito à cima dos 60 milhões de dólares.

O Documento elaborado pelo MIREX (Projecto de Programa Integrado de Redimensionamento das Missões diplomáticas e Consulares da República de Angola) faz referência há uma dívida de 60 milhões de dólares, mas esta dívida não foi paga, e tendo em conta o aumento da corrupção (sobrefacturação) dentro das nossas Missões Diplomáticas (em base às minhas pesquisas recentes) levou-me a concluir que actualmente a dívida Missões Diplomáticas Angolanas está entre os 70 a 80 milhões de dólares, aproximadamente 100 milhões de dólares.

O grande problema das nossas Missões Diplomáticas podem ser resumidas em Quatro (4) factores fundamentais:

1 – Nomeação de diplomatas (embaixadores, ministros conselheiros, cônsules, secretários, adidos) mal preparados, incompetentes, irresponsáveis e corruptos. Esses quando chegam nos seus postos de trabalho (Embaixada ou Consulado), chegam sem programas de trabalho, chegam sem projectos de mandato, preocupando-se 100% com os seus interesses pessoais e negócios privados, usam a Embaixada e o Consulado para benefícios próprios, desviam dezenas e centenas de mil dólares/euros através da prática da sobrefacturação.

2 – Nomeação de diplomatas a fim de carreira política ou governativa. O nosso governo tem cabeça dura, ainda insistem em mandar para o exterior embaixadores e cônsules gerais a cima dos 60 e 70 anos de idade, gentes sem capacidade intelectual e sem forças para darem uma dinâmica positiva de 360 graus, em prol da nossa diplomacia.

Por outra muitas dessas nomeações além das nomeações de diplomatas velhos que deviam ser já pensionados, é evidente o fluxo de tráfico de influência dentro do MIREX, o amiguismo, o familiarismo e o nepotismo elevado em volta dessas nomeações traduzem-se em fracasso total da diplomacia angolana, porque enviam diplomatas que quando chegam nas embaixadas e nos consulados olham pra as paredes e nem sequer sabem o que fazer, não sabem por onde começar, por fim preferem passar quase o tempo todo na internet vendo filmes, novelas, futebol, Fórmula 1 entre outras séries irrelevantes, gastando ao mesmo tempo os créditos (saldos) dos telefones das embaixadas e dos consulados, sem terem noção e conhecimentos de como se faz um projecto de tipo econômico, de tipo comercial, de tipo educativo, de tipo político-estratégico, e isso nem sequer passa pela cabeça dos nossos diplomatas porque não são tecnocratas, mas é aí onde está muitas das vezes a solução para o crescimento e desenvolvimento econômico de uma Nação.

3- Falta de jovens na cadeira de comando do MIREX. O MIREX precisa de dirigentes jovens, a nova geração de angolanos competentes e bem formados em matérias político-diplomáticas, em matérias de economia internacional, comunicação e marketing (e outras matérias semelhantes), deveriam sim e com urgência ocupar os postos chaves de toda a Administração do MIREX, porque diplomacia exige muito empenho, dinâmica e entrega total.

O Presidente da República deveria promover jovens qualificados e competentes para as funções de Ministro das Relações Exteriores, assim como o Secretário de Estado para esse mesmo Ministério, funções de embaixadores, de cônsules gerais e outros cargos de natureza diplomática. Os jovens precisam assumir estas responsabilidades, para poderem mudar o rumo triste da nossa diplomacia, porque até o momento as nossas instituições diplomáticas só servem para acomodar figuras do governo, políticos em fim de carreiras, pessoas velhas que deveriam cuidar dos seus netos e bisnetos, mas por causa do orgulho exagerado e olho aceso no dinheiro do Estado, insistem em ficar nas embaixadas para sobrefacturar e catalizar meios para alavancar os seus negócios pessoais. Essa gente além de mal formada e mal preparada, não pensam e nunca pensaram o País. É preciso pensar ANGOLA.

4 – Angola precisa mudar a sua forma de fazer Diplomacia. Na verdade precisamos de um novo Modelo diplomático. Ainda continuamos com a mentalidade muito virada no passado, de perseguir tudo e todos que pensam contrário ao governo, a nossa diplomacia é completamente ligada à espionagem, e mesmo essa esta tal espionagem é mal feita pelos nossos diplomatas, porque no verdadeiro sentido da palavra a espionagem é feita para proteger o Estado dos inimigos externos e internos, mas quem faz o uso da sua liberdade de expressão, de pensamento ou liberdade de consciência e de opinião esse não é inimigo.

Às nossas embaixadas e consulados estão cheios de militares e agentes do SINSE (Serviços de Inteligência e Segurança do Estado): embaixadores, ministros conselheiros, adidos da cultura, adidos financeiros, adidos da comunicação, adidos militares, secretários e cônsules. Muitos deles independentemente da função que ocupam dentro das embaixadas e dos consulados, uns são militares, outros são militares ao mesmo tempo são dos Serviços Secretos ou seja dos Serviços de Inteligência Externa, um pequeno grupo são diplomatas civis (um número muito reduzido) mas esses também indirectamente fazem espionagem.

Muitos desses nossos diplomatas que de diplomacia não entendem quase nada, passam o tempo todo colectando informações dos cidadãos angolanos residentes no exterior, escrevem e apontam tudo sobre você: o que fazes, o que estudas, se tens partido, os lugares que frequentas, quem é tua namorada, o que pensas sobre o Ministro A, B o Y. E muitas dessas informações que colhem sobre ti são falsas, porque nem eles nem as pessoas na qual vão pedir informações te conhecem de verdade, mesmo assim eles apontam tudo sobre ti mesmo não sendo informações verdadeiras. E nem sequer sabem que tu as vezes és duas vezes ou sete vezes mais inteligente do que eles, no sentido que, tu estás e queres evoluir mas eles continuam como se estivessem a viver no passado perseguindo a vida dos outros.

Esse tipo de fazer diplomacia está na verdade ultrapassada, hoje a diplomacia moderna tem outras exigências, motivo pelo qual o governo angolano precisa criar uma nova forma de fazer diplomacia, espionar o próprio angolano no estrangeiro retarda o País.

Há um ano desenvolvi um Modelo denominado Modelo Político-Diplomático «Progressista». Este Modelo se funda na diplomacia moderna, e tem como características principais: a Cooperação ao Desenvolvimento, Cooperação Econômica, boa governação, Direitos humanos, Projectação educativa e científica, investimentos sociais, Cooperação cultural, Cooperação político-estratégico, etc.

No projecto apresento as directrizes de como este Modelo deve ser implementado e executado por parte de um governo (neste caso pelo Ministério das Relações Exteriores) com o intuíto de catalizar investimentos e financiamentos em prol de uma Nação, através da criação de vários tipos de projectos econômico-comerciais e projectos de cooperação internacional ao desenvolvimento.

Portanto a competência, a tecnocracia, a responsabilidade, a transparência, a supervisão, a inspecção e a meritocracia, constituém a base essencial e principal do Modelo Político-Diplomático «Progressista». Se o MIREX decidir um dia fazer reformas concretas e pontuais, e se houver vontade política por parte do nosso governo no que concerne a nossa diplomacia, então na qualidade de «técnico diplomático» altamente qualificado, poderia ajudar o MIREX a fazer grandes reformas, reformas sérias, reformas que poderiam mudar por completo a nossa forma de fazer diplomacia, e se necessário como angolano e patriota que sou, doaria ao Estado o meu Modelo Político-Diplomático, apenas se for necessário.

Mas tudo isso só seria possível caso se decida fazer reformas sérias e concretas no MIREX, fora disso não se pode esperar nada da nossa política externa, porque essa Administração do MIREX incluíndo os embaixadores e os demais diplomatas, para além da sobrefacturação que fazem, e falta de patriotismo ao colocarem o Estado num buraco, com essas dívidas das Missões Diplomáticas que vão muito além dos 48 milhões de dólares, só demonstra que o MIREX carece de estratégias político-diplomáticas.

O.B.S: Estou decepcionado com o MIREX, é hora dos jovens precisam assumir o comando.

Eu e a Diplomacia a Diplomacia e Eu

 Leonardo Quarenta – O Diplomata

Doutorando em Direito Constitucional e Internacional

Mestrado em Relações Internacionais e Diplomacia

Master em Direitos Humanos e Competências Internacionais

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