Como dinheiro não é problema – há por aí uma imensidão de fundos operativos que “Operação Caranguejo” alguma destapará – temos, nos diferentes e concorrentes gabinetes de agitação e propaganda do MPLA, gente a pagar, generosamente, por serviços, sem se importar com a sua qualidade. É gente que nem sequer tempo tem para olhar para o que compra. Nem para consumo animal…
Há poucos dias, algum gabinete do MPLA pagou por uma idiotice como esta: “O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, chamou o primeiro-ministro, António Costa, e pediu, num tom agressivo, explicações sobre o que se está a passar com o governo, quando encoraja a produção de notícias contra as autoridades angolanas e tem os seus membros em conversinhas com jornalistas que mais não fazem, senão manchar a imagem do governo angolano”.
No mesmo embuste lê-se: “Marcelo fez saber a Costa que tem informações privilegiadas- não fosse ele o presidente português- que indicam que os seus ministros estão por detrás do trabalho tanto da SIC como da TVI, e mesmo até do expresso, contra a Angola. A conversa entre Marcelo e Costa está a ser muito comentada nas redacções dos órgãos de comunicação social, e está a provocar divisões entre alguns jornalistas e membros de direcção”.
Há relatos de que nos próximos tempos a TVI pode perder jornalistas, com demissões, por estes estarem contra as manobras técnicas, que passam pela invenção de factos, tratamento insultuoso dos dirigentes angolanos, faltas de respeito ao presidente angolano. O presidente português também convocou os responsáveis dos partidos PSD E CDS- PP. Consta que da conversa saiu uma tremenda reprimenda, com Marcelo a perguntar o que queriam, por que estavam na vanguarda da produção de notícias contra Angola. Os jornalistas portugueses envolvidos na campanha contra os dirigentes angolanos foram pagos com milhões de euros.
Os comprovativos exibidos pelo presidente durante a conversa com os líderes dos partidos envolvidos mostram que já foram gastos milhões de euros na falsificação de documentos bancários, como extratos de contas, movimentações de capital, compra de material jornalístico, como depoimentos falsos, etc.”
No sistema político português não há aqui espaço a que Marcelo Rebelo de Sousa chame o primeiro-ministro para, “em tom agressivo”, pedir-lhe “explicações sobre o que se está a passar com o governo, quando encoraja a produção de notícias contra as autoridades angolanas e tem os seus membros em conversinhas com jornalistas que mais não fazem, senão manchar a imagem do governo angolano”
Quanto o embusteiro quanto o abastado comprador de embustes esqueceram-se de um “pequeno detalho”: o sistema político português combina o semi-presidencialismo e o parlamentarismo, em que cabe ao Governo, chefiado por um primeiro-ministro, a condução da política geral do país.
Num sistema como o português não há qualquer espaço para que o Presidente da República dê bafos ao primeiro-ministro.
Em matéria de relações exteriores, que era aqui que caberia o hipotético ralhete de Marcelo Rebelo de Sousa a António Costa, a Constituição da República Portuguesa estabelece, com suficiente nitidez, as competências do Presidente da República.
Está lá escrito que, nas relações internacionais compete ao Presidente da República,
“a) nomear os embaixadores e os enviados extraordinários, sob proposta do Governo, e acreditar os representantes diplomáticos estrangeiros;
b) ratificar os tratados internacionais, depois de devidamente aprovados;
c) declarar a guerra em caso de agressão efetiva ou iminente e fazer a paz, sob proposta do Governo, ouvido o Conselho de Estado e mediante autorização da Assembleia da República, ou, quando esta não estiver reunida nem for possível a sua reunião imediata, da sua Comissão Permanente”.
Como se vê, não há aqui espaço a que Marcelo Rebelo de Sousa chame o primeiro-ministro para, “em tom agressivo”, pedir-lhe “explicações sobre o que se está a passar com o governo, quando encoraja a produção de notícias contra as autoridades angolanas e tem os seus membros em conversinhas com jornalistas que mais não fazem, senão manchar a imagem do governo angolano”.
Dar bafos ao Governo só é possível neste nosso atípico sistema, que atribui a uma mesma pessoa as competências de Presidente da República, Chefe de Estado, Comandante-em-Chefe das Forças Armadas e Chefe do Governo.
E nem mesmo neste nosso pedaço, muito próximo de uma República de Bananas, seria possível um cenário em que o Presidente da República desse bafos ao primeiro-ministro. Primeiro porque não temos primeiro-ministro e, segundo e decisivo, porque o Presidente da República é, também, o dono (suavizado na Constituição pelo adjectivo titular) do Governo (redundantemente designado poder executivo).
Portanto, alguém vendeu e alguém comprou peixe podre.
Quando ganho sem qualquer esforço, o dinheiro permite-se a “crueldades” como a de ser manuseado por mãos orientadas por cabeças ocas ou ir parar a bolsos imerecidos.
Em Angola, há milhares de angolanos que, se ouvidos, poderiam alertar os GAPIs, CIPRAs e outros que o peixe vendido por um tal Mário António Lisboa nem para consumo animal serve…