Portugal: Fernando Teles, Banqueiro

Chegou a Angola em meados dos anos 60, levado pelo irmão que já cátrabalhava. Meses depois de chegar entrou no Banco de Crédito e nunca mais deixou o sector, tendo passado por cinco bancos. Trabalhou durante anos no Banco Borges e Irmão, como economista, mas fez também parte da comissão de trabalhadores e foi líder sindical durante os anos da nacionalização.

O Banco Borges e Irmão foi comprado ao Estado pelo BPI, que também adquiriu o Banco do Fomento Exterior, a primeira instituição bancária portuguesa a abrir portas em Angola e que se tornou no maior banco privado, o Banco do Fomento Angola (BFA).

“Vivo há mais de 20 anos em Angola, onde constituí dois bancos, o Banco do Fomento Exterior, actualmente Banco de Fomento Angola, e o Banco BIC”, disse em entrevista ao Roda Livre de Arouca em 2014.

“Eu sou gestor, mais gestor do que banqueiro, ou até bancário, porque sou reformado da banca, e quando me reformei fi-lo como diretor central, o que quer dizer que, na verdade, sou bancário. Por acaso também sou accionista do BIC Angola e do BIC Portugal, porque já em período de quase reforma decidi arriscar. Em 1992/1993 iniciei um projecto em Angola, que foi o banco de fomento do BPI, e em 2005 apostei num novo projecto e ainda bem, porque hoje o BIC é um banco de referência em Angola”.

O BIC nasceu com capital de Américo Amorim e de Isabel dos Santos, mas é desde o seu início uma criação de Fernando Teles. O banco entrou em Portugal em 2008, com o início da crise financeira e bancária. Foi Fernando Teles quem sugeriu a Américo Amorim que escolhesse Mira Amaral como primeiro presidente executivo do BIC Portugal.

A abordagem ao mercado português foi explicada na comissão de inquérito à venda do BPN em julho de 2012, meses depois de o BIC ter comprado o banco ao Estado.

Nas entrevistas que deu, Fernando Teles descreve-se como um empresário terra à terra e acessível. “Qualquer pessoa que queira falar comigo, incluindo os trabalhadores, sabe que se bater à minha porta eu atendo, mesmo que seja para dizer não. Para mim, as pessoas são todas iguais, independentemente da sua condição social. Dou-me bem com o ministro e com o contínuo. Não me tenho dado mal com essa postura”.

Mas quem lidou com ele de perto diz que também pode ter reacções imprevisíveis quando o contrariam. Fernando Teles tornou-se uma figura incontornável do BIC em Portugal, mesmo quando não era um dos maiores acionistas, o que só aconteceu depois de comprar uma parte a Américo Amorim. Estava em todas as decisões e ao seu lado tinha Jaime Pereira, que era visto como o operacional de Fernando Teles e às vezes quem fazia de “polícia mau”. Foi também fundamental na gestão do banco na compra do BPN.

“O Dr. Jaime Pereira foi, por exemplo, a pessoa da Deloitte que acompanhou a banca toda em Angola durante 18 ou 19 anos: é vice-presidente da comissão executiva porque conhece bem o mercado angolano e está connosco há quatro anos no BIC português porque faz a ponte também”, explicou aos deputados em 2012. Mas o nome de Jaime Pereira viria a ser “vetado” pelo Banco de Portugal por suspeitas de branqueamento de capitais. E foi assim que entrou em cena no BIC Portugal Fernando Teixeira dos Santos,ex-ministro das Finanças e amigo do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa.

Nem só de banca vive Fernando Teles. Na entrevista ao Roda Viva, reconheceu que, economicamente, tem um padrão de vida “confortável” – ainda que diga ser fruto de quem “foi à luta”. Mas tem mais paixões, sendo que uma delas é o Benfica. É amigo do presidente do clube, Luís Filipe Vieira, um velho conhecido do banco: foi um dos clientes do BPN que deixou uma dívida pendurada, que acabou por ficar do lado do Estado. Uma ressalva: quando o BIC – e Fernando Teles – compraram o BPN, o problema já lá não estava.

A agricultura será a sua segunda paixão. Segundo entrevistas que deu, os seus interesses económicos estendem-se da construção civil, à produção de carne, arroz, milho, mas também vinho. Tem várias fazendas em Angola e propriedades agrícolas em Portugal. Além da produção de gado de raça arouquesa, em que apostou na sua terra, tem propriedades no Alentejo. E já em 2019 foi notícia por comprar duas quintas ao antigo presidente da Casa do Douro e ex-deputado do PSD, Manuel António dos Santos, no quadro de um processo de insolvência.

Para o projecto BIC em Angola, Fernando Teles associou-se a três outras figuras do mundo empresarial e bancário de Angola: Sebastião Lavrador, Luís Cortez e Manuel Pinheiro Fernandes.

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