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Angola: “E se Savimbi aceitasse os resultados eleitorais de 1992” – Malunda Ntchima

O ilustre José Gama, um jornalista angolano que muito escreve sobre os últimos dias de Jonas Malheiro Savimbi (JMS) – líder guerreiro e fundador do partido político UNITA -, tornou público uma reflexão em que dizia que Savimbi “deixou-se matar” para evitar que, a semelhança de 1992, fosse chamado de covarde e acusado de ter sacrificado seus companheiros e a organização.

Para o jornalista, Savimbi percebeu que estava cercado e, em vez de “bater de frente” usando sua tropa contra a do Governo (FAA), decidiu dividir sua equipa, deixando seu cordão de segurança pequeno e sem grandes chances para fazer frente as FAA. Gama esclarece a narrativa nos seguintes termos “(…) O Alvo era ele…, ele dividiu a UNITA em três colunas para que em caso de ser pego, o partido ficasse salvaguardado. Em 92, o Velho salvou se a si e em 2002 salvou o partido deixando-se morrer.” A despeito, disse, num comentário que, é bastante discutível esta abordagem, na medida em que, Savimbi foi vítima de si mesmo, da falta de visão estratégica futurista e, principalmente, do próprio contexto. Pelo que, compreende-se a narrativa mas não pode culpar terceiros, pois teve alternativas.

A notícia da morte de JMS ao chegar na unidade – Aldeia do Hala-Kilembe -, vindo das matas do Kiangala onde, com outros jovens-adolescentes, tínhamos sido destacados a missão de cuidar/patrulhar as mulheres, idosos, crianças e doentes, enquanto os homens (senhores e jovens) perfaziam a frente militar (Defesa Civil) na aldeia. Acabados de chegar, ouvirmos pela rádio a informação. Naltura, muito se dizia, entretanto, o tempo ajudou-nos a explicar que nem tudo que parecia era. Hoje, podemos dizer que, respeitante a JMS, nem tudo deve ser pintado como se de um Deus se tratasse, tal como não podemos ser tão injustos em associa-lo ao Demónio. JMS teve seus altos e baixos e fez o que era necessário fazer (excepto alguns de seus desnecessários excessos), na altura.

Entretanto, se JMS tivesse tido a percepção e visão de JLO, de aceitar vaguear pelo deserto enquanto prepara-se para “assaltar” o poder, teria chegado a Presidente da República depois das Eleições de 1992, onde ficou em 2° lugar e, até diz-se que haviam indicações de que o fariam Vice-presidente da República. Se tudo fosse seguido a risca, JES teria tido sérias dificuldades de ganhar nas eleições seguintes (1997!?) e, efectivamente, teria perdido ou nem teria se recandidatando nas seguintes (2001!?) para sair do poder pela porta da frente. Nesta altura, JMS teria tido todas as condições favoráveis para ganhar e se tornar no 3º Presidente da República de Angola.

A propósito, e só mesmo por por curiosidade: Onde estavam os outros responsáveis seniores da comitiva de JMS, no momento em que Savimbi foi morto? Porque será que uns levaram meses para sair de uma província ao Moxico? Porquê será que os que estavam no Exterior não “brilhavam tanto” naqueles dias? Porque será que se priorizou ir carregar a bateria, para ouvir relato de futebol depois, em vez de ficar ao lado do Líder, naquele momento?

Finalmente, e em jeito de conclusão, JM Savimbi deixou-nos algumas lições, pela positiva e negativo, destacando-se: a necessidade da democracia, do patriotismo, da paciência, de ler os tempos e o contexto, respeitar o adversário, entre outros, são as ilações que podemos retirar da vida e obra de Jonas Malheiro Savimbi.

Att,
Malunda Ntchima,
DE NAMBUANGONGO, 23.02.2021.

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