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Angola: Abel Chivukuvuku, Adalberto Costa e Justino Pinto de Andrade são “opnis”? – Severino Carlos

A inédita conferência que o trio realizou a semana passada passou completamente ao largo das agendas e pautas da imprensa pública e pára-pública.

Objectos Políticos Nacionais Invisíveis

Se já era dado adquirido que o processo de construção democrática no país estava ruim, agora está pior. A propalada liberdade de imprensa é cada vez mais uma balela. TPA, RNA e Tv Zimbo fizeram voo rasante e passaram ao largo daquele que foi, indiscutivelmente, o assunto desta quinta-feira, 18 de Fevereiro: a inédita conferência tripartida que juntou, à mesma mesa, Adalberto da Costa Júnior (presidente da UNITA), Abel Epalanga Chivukuvuku (coordenador do PRA-JA) e Justino Pinto de Andrade (líder do Bloco Democrático).

Numa democracia de verdade, seria tiro e queda: as imagens, os nomes e as declarações destes líderes políticos da oposição angolana teriam preenchido os telejornais e noticiários do dia de ontem. Os editores de imprensa escrita (jornais) teriam competido para arranjar títulos com as parangonas mais impactantes para as edições desta manhã.

Mas já se sabe que a amnésia (ou miopia?) das grandes redacções públicas se deve às habituais ordens superiores. As costumeiras correias de transmissão que começam na Cidade Alta e desembocam nas próprias redacções.

É claro, porém, que diante de qualquer chamada de atenção que se ouse fazer a esse respeito, os nossos inefáveis responsáveis das referidas redacções dirão, a pés juntos, que não obedeceram a quaisquer “ordens superiores”. Argumentarão qualquer coisa como terem a liberdade de determinar o que é digno de figurar como notícia nas respectivas agendas e pautas.

Apetece, no entanto, perguntar se nas agendas e pautas de tais redacções — impolutas e imunes a interferências do poder político — não teria valor-notícia um evento com a dimensão da conferência realizada pelos líderes da UNITA, PRA-JA e BD. O Telejornal da TPA passou literalmente ao largo do acontecimento. Na edição de hoje do Jornal de Angola há um “apagão” autêntico sobre o assunto. Apenas a Tv Zimbo dedicou-lhe um escasso minutito com uma tosca matéria que esteve longe de focar os aspectos relevantes e que realmente contam do referido evento.

Muito estranha realmente essa agenda. De resto, uma agenda assim faz lembrar aquela clássica estória que se conta aos principiantes de jornalismo acerca dos critérios para distinguir notícia do que não é notícia.

Ou seja, já parece a história do jornalista principiante que é incumbido de cobrir um importante casamento da “socialite”.

Quando o aspirante a jornalista retornou à redacção, quedou-se cabisbaixo na sua banca, sem conseguir escrever uma única linha do assunto que lhe foi pedido. Questionado entretanto pelo chefe da redacção sobre o porquê da falta da notícia, o jovem caloiro, quase inundado em lágrimas, contou que o casamento não se realizou. Isto porque a certa altura da cerimónia entrou na capela, armado, o ex-namorado da noiva, que se pôs aos disparos matando e ferindo uma data de convidados, incluindo os noivos.

Ora, mal ouviu isso, o chefe da redacção, um astuto farejador de notícias, correu para a sua mesa. Ajeitou a máquina de dactilografar e escreveu uma suculenta notícia que foi a manchete do jornal, um vespertino.

PS — Por tudo isso só posso concluir que Adalberto da Costa Júnior, Abel Chivukuvuku Justino Pinto de Andrade, três comprovados colossos da oposição angolana, são afinal autênticos OPNIs — Isto é: Objectos Políticos Nacionais Invisíveis.

Severino Carlos

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