Os trabalhadores da Empresa Nacional de Distribuição de Eletricidade estão em greve há quatro dias. Com o impasse nas negociações, os grevistas insistem em aumentos salariais e melhores condições de trabalho.
Os trabalhadores da Empresa Nacional de Distribuição de Eletricidade (ENDE) entraram em greve na passada segunda feira (09/08) para exigir melhores condições laborais, um aumento salarial de100%, subsídios de alimentação e transporte e denunciar a péssima condição de assistência medica e medicamentosa, segundo nota do sindicato. As reivindicações não são atendidas desde
As negociações entre a comissão sindical e o patronato entraram num impasse. Num encontro na passada terça feira, o sindicato revelou que o Conselho de Administração da ENDE não apresentou contraproposta para assegurar o fim das paralisações, segundo o delegado sindical António Tito.
Em declarações à DW África, Tito faz um balanço positivo da greve, apesar da denúncia de ameaças de despedimentos a funcionários que apoiam o sindicato. O sindicalista diz que muitos trabalhadores sofrem coação por parte da direção da empresa.
Valorização dos recursos humanos
“Estão a ameaçar os trabalhadores, principalmente os colegas da área comercial. Falam que quem aderir vai ser despedido. Os colegas novos, que entraram há menos de dois anos, poderão perder os seus postos de trabalho”, disse António Tito à DW.
Para tranquilizar os associados, o sindicalista sublinha que estão a exercer o seu direito fundamental à greve e que tudo está a ser feito na base da legalidade. Tito diz que a greve é “lícita” e ameaça entrar com processo judicial contra quem faz ameaças aos trabalhadores.
“A empresa tem conhecimento do que fazemos, temos colaborado. Não vemos motivos para ameaças. Estes responsáveis estão bem identificados e a qualquer altura o nosso sindicato e os nossos advogados vão-se pronunciar”, avisa.
Um trabalhador que pediu o anonimato, e é quadro da ENDE há 15 anos, diz que espera apenas que a direção reajuste o salário de todos os funcionários. O técnico não aceita as desculpas da administração de que a empresa está sem dinheiro.
“Assistimos à compra de meios rolantes para o Conselho de Administração e não só. É desmotivante, sabendo que nós, os trabalhadores de base, fizemos entrar dinheiro na empresa”, disse o trabalhador.
Salário é pouco
Outro empregado da ENDE, Agostinho Njila ,afirma que, pelo valor que arrecada, a empresa já devia estar ao nível de outras firmas públicas como a Sonangol e a Endiama. Mas, disse, não isso acontece por falta de condições laborais.
“Recebo 210 mil kwanzas (280,13 Euros). É bom? Com o poder de compra em Angola, em que o saco de arroz está 17 mil Kwanzas (22,71 euros). Não consigo fazer uma compra de 100 mil kwanzas (133,57 Euros). Não sobra nada para a saúde dos meus filhos e nem para mim mesmo. O posto médico da empresa não tem condições”, reclama Njila, que trabalha há 32 anos na empresa.
Outro trabalhador descontente é Alfredo Luís, que trabalha há 23 anos na ENDE e agora vê o seu futuro ameaçado. “Daqui a alguns anos, não sei o que será de mim. Depois desta greve, espero que haja bom senso do Conselho de Administração porque estamos abertos à negociação”, disse.
A greve decorre em todo o país. Na semana passadao, a direção de ENDE considerou a greve convocada pelos trabalhadores “ilegal” e admitiu avançar com uma ação judicial.
Numa nota tornada pública, o Conselho de Administração manifestou “total repúdio pela falta de rigor na fundamentação da greve”, por “não cumprir com os pressupostos” previstos pela lei.
A ENDE, que conta com mais de 4.500 trabalhadores, é tutelada pelo Ministério angolano da Energia e Águas.