Esta opinião concebida numa análise politológica sobre a realidade que se observa em Angola não pressupõe parcializar factos, pelo contrário, é para clarear a consciência soberana. Pois, como é evidente, um povo que não sabe que é soberano do poder, decerto, como defendeu o Politólogo norte-americano Robert Dahl em sua obra «Sobre Democracia» é um povo silencioso, podendo ser visto como perfeito por governantes autoritários, e desastroso para uma democracia.
Angola é segundo a Constituição e não nos meandros da Ciência Política um Estado democrático, significa que ter um povo contestatário e exigente implica ter verdadeiros arquitetos do processo da democratização.
No entanto, os cidadãos ou desastrosos da democracia não podem existir em países cuja liberdade é vista na constituição como espírito das leis. Deste modo, pretende-se esmiuçar ou opinar que as manifestações políticas em Angola devem ser vistas como uma veia que faz circular o sangue do sistema político, ou seja, como representação da consciência soberana, e não de Angolanos vistos como perfeitos.
A manifestação política, quer seja feita por meio de opiniões fomentadas pela democracia electrónica e confluída nas artes (literatura) ou ir à rua é um direito que impulsiona progresso na prática política. Pois, um político democrata que não a concebe como oportunidade de se rever, não é democrata, e, se não for, em casos de incumprimentos da representação fiduciária ou deliberações inconvenientes, torna-se sempre alvo dos grupos de pressão, com relação aos movimentos sociais.
A teoria dos movimentos sociais e prática política no campo das Ciência Sociais, fundamentalmente da Ciência Política expressa determinados modelos para explicação da acção colectiva ou dos grupos susceptíveis de fazerem abaixo-assinado, petições, greves, manifestações e outras acções sociais e políticas.
Tais modelos, por exemplo, são: “A perspectiva cultural-normativista, modelo de cariz sociopsicológico e outros modelos como o neo-webberiano ou accionalista conservado por Alain Touraine, que alerta o porquê das acções dos partidos e movimentos sociais, particularmente, dos grupos de pressão”.
Os grupos de pressão para Fernando Faria em seu apoio didático (2018), apoiando-se nas ideias de Bruce Cohen, Manuel Castells, Maria Lakatos, Paul Horton, Sousa Martins, Marques Bessa, Mariana Marconi e Adelino Maltez, são grupos organizados que em certos casos provocam manifestações passageiras, duradouras, e em lugares mal preparados; com propósito de defender interesses num sentido amplo de agir por sectores (sindicatos), podendo ser pseudo quando se trata de indivíduos reunidos na rua ou pessoas jurídicas para fazer pressão ou manifestação política.
José Fernando na sua Obra «Introdução a Ciência Política», também, apoia-se nos pensamentos de Jacqueline de Celis, Stanislaw, David Truman, Adriano Moreira, La palombara e outros, e dá um conceito de grupos de pressão muito contextual para Angola e para os Angolanos, isto é:
São grupos que actuam num plano de acção recíproca, tanto pode ser de oposição, como de cooperação face o aparelho do poder, […] que intevêm, assim, em vários escalões do processo político e a sua intervenção reveste graduações diversas, conforme a facilidade ou dificuldade em obter das autoridades políticas as decisões que melhor satisfaçam os seus interesses. Podem exercer pressão sobre o poder, quer de forma directa, quer de forma indirecta, através de partidos políticos, que o detém ou controlam, e da opinião pública, que o influencia.
A explicação deste conceito recai numa perspectiva sistémica ao sistema político Angolano, que ainda carece de amadurecimento político, quer por parte do MPLA-governo, das coligações e partidos políticos da oposição (UNITA, CASA-CE, PRS FNLA). Pois, a sociedade civil (Sindicatos, ONG´s, grupos de pressão e interesses) mostra-se mais evoluída e despertada, quanto a visão do farol que possa orientar os programas e planos políticos para eudaimonia social.
Remete-se a incapacidade dos partidos políticos da oposição porque estão mais preocupados em buscar apoio a sociedade civil para contestarem os actos decisivos do governo e com isto ganharem crédito político e eleitoral. Pois, a sociedade civil (grupos ou pseudo grupos de pressão) são uma menoria estrutural (dentre os 25 milhões de habitantes) que por meio da democracia *electrónica* demonstram o ganho da consciência soberana, e directa ou indirectamente com apoio dos partidos políticos manifestam com propósito de não só verem o governo a cumprir as demandas, como também estimulam uma possível circulação de contra-elite nas eleições (de 2022).
Em democracia não se brinca com a consciência soberana, tal inferência pode ser supérflua para o governo Angolano, que através do poder político goza da violência legítima para reprimir manifestantes, o que não seja uma acção salutar quando se está perante um povo que já percebeu através do próprio Presidente (João Lourenço), que o um grupo de políticos (da máquina MPLA) pilharam o erário ou os bens tangíveis e intangíveis do Estado, ou seja, o fundo soberano há mais de 40 anos.
A consciência soberana, interpretando Jean-Jacques Rousseau em seu «Contrato Social», é um pressuposto básico da democracia, e implica que o povo Angolano está e deve ganhar noção que a verdadeira liberdade reside na obediência das leis que deseja.
A manifestação política é um direito confluído na lei, e que exige a prática eficaz das leis, cujas leis revestem-se em políticas públicas de habitação, educação, emprego e outras (re)distribuições prometidas no processo eleitoral, em que os soberanos autorizam um pequeno grupo para governar. Tais soberanos (povo) têm o poder de desautorizar, como também têm o poder de pedir e exigir (por meio de manifestações) através do contrato sistémico (governar para servir a sociedade e interagir com ela).
Portanto, apenas é uma opinião, cujo tema assenta num artigo em construção, e deixamos como conselho ao governo Angolano que exerça as funções nos meandros da Ciência Política. Pois, há determinadas reações maquiavélicas que só credibilizam os partidos políticos e a opinião pública contraditória. O povo sabe que não há facilidade económica no país, e que nada estão a fazer por causas internas e globais. Apesar disso, é dever do governo servir e ouvir a sociedade nalgumas vezes, e quando haver manifestações políticas, o melhor é deixá-las acontecer pacificamente, porque faz parte dos imputs-outputs da caixa preta (sistema político). Ora, interessa concluir a anotar que a violência policial em Angola e o incumprimento dos compromissos do governo gera consciência soberana, e esta descredibiliza quando os cidadãos se representam […].
Politólogo de facto Dorivaldo Manuel, UAN.