As mais recentes manifestações ocorridas em Luanda, num espaço inferior a 20 dias e no País de um modo geral marcaram, definitivamente, uma viragem no mosaico político nacional.
Nota-se que a juventude se despiu da cultura do medo e mostra-se cada vez mais destemida, inclusive disposta a dar a própria vida pelos seus ideais, pela mudança e pela melhoria das condições de vida da maioria.
A morte do jovem estudante, Inocêncio Matos, fruto dos confrontos com a Polícia Nacional, vai servir de mola impulsionadora e de fonte de inspiração para as novas manifestações pacíficas, como afirmou um dos activistas e organizador das últimas duas manifestações, protestos que se estenderam ao exterior do País.
As ruas de Luanda, por exemplo, poderão encher-se novamente de manifestantes no dia 10 de Dezembro, data da fundação do partido no poder, numa marcha pela cidadania, pelo fim do elevado custo de vida e desemprego e pela realização das autarquias locais em 2021.
O rumo que vem tomando o País com a degradação do nível de vida precipitou a realização das duas últimas marchas, cuja repressão mancha o consulado do Presidente da República e a democracia que se quer consolidar a nível do País.
João Lourenço começa assim a ser citado pelas piores práticas face ao uso excessivo da força contra jovens indefesos, que procuraram simplesmente exercer o direito a manifestação consagrado na Constituição da República de Angola, apesar da situação de pandemia que vive o País. Mesmo assim, o forte aparato policial não intimidou os manifestantes, cujas intenções de alcançar o largo 1º de Maio, em Luanda, foram frustradas pelos agentes. Seja como for, um novo caminho acaba de ser aberto, marcando uma nova era.
A determinação é a sina dominante, mas isto poder ser revertido (para o bem de todos) com o início de acções de concertação e diálogo com a juventude e não, por exemplo, reunir um grupo de kuduristas com promessas de casas nas diferentes centralidades de Luanda, como se essa franja da sociedade representasse a esmagadora maioria da juventude.
Estevão Martins
Vanguarda