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Angola: Protesto pacífico em Luanda junta 200 pessoas que pedem melhor governação

Cerca de duas centenas de pessoas manifestaram-se hoje em Luanda pela melhoria das condições de vida e combate à corrupção, num protesto que decorreu de forma pacífica e ficou marcado também pela memória do estudante morto na semana passada.

Ao contrário das duas anteriores de manifestação, que foram reprimidas pela polícia, hoje os manifestantes, na sua maioria jovens, conseguiram concentrar-se no centro da cidade, no Largo 1.º de Maio, e apresentar conforme necessário.

Os jovens circularam pela rotunda do largo, fazendo ouvir palavras de ordem, criticando o Presidente da República João Lourenço, o MPLA (partido do poder) e a polícia e exibindo cartazes.

O mote para a manifestação, convocada por membros da sociedade civil, era o combate a corrupção e à impunidade, mas os jovens quiseram também estar presentes para homenagear o colega morto na manifestação do dia 11 de novembro, Inocêncio de Matos, em circunstâncias ainda por esclarecer.

Moisés Comandala, técnico de telecomunicações de 28 anos, disse à Lusa que aderiu ao protesto por “amor ao próximo”, mostrando-se preocupado com o agravamento das condições de vida, mas também pela “perda irreparável do herói Inocêncio de Matos”.

No seu cartaz lia-se: “Senhor presidente: pessoas precisam de morrer de fome para resolver as questões?”.

“Vemos as condições a agravar-se de dia para dia e agora a desculpa é sempre a cobiça. Temos noção de que uma pandemia está a afetar o mundo, mas não nos podemos calar quando vemos famílias a recorrer ao conteúdo ou do lixo para buscar a sua refeição “, disse o jovem à Lusa, apelando à resolução de problemas como o desemprego.

Feliciano Lourenço, professor de 27 anos, disse, por sua vez, que se juntou à iniciativa para defender os seus direitos e os demais cidadãos angolanos, contestando o “sistema político que tem poderes sobre tudo”.

“Isso não é democracia. Não tem liberdade de imprensa, não tem liberdade de expressão”, criticou, lamentando também “a morte do irmão Inocêncio”.

“Estamos a pedir ao governo que nos devolva ao corpo do nosso irmão, que morreu ajoelhado com as mãos no ar e em momento nenhum atacou a polícia”, afirma, apelando ao bom senso da polícia e alertando para a necessidade do cumprimento dos direitos fundamentais do cidadão, entre os quais o de manifestação, “desde que seja pacífica”.

“A polícia ainda não começou a agredir ninguém porque há câmaras municipais”, comentou.

Muata Sebastião, um dos organizadores do protesto, sublinhou uma colaboração da polícia face ao compromisso de que a manifestação séria realizada de forma pacífica. “É esse tipo de polícia que nós queremos, que colabore, porque os resultados disto não são só para os manifestantes, são para toda a sociedade”, disse.

“Nós estamos a reivindicar direitos de todos os angolanos e os policiais também são angolanos”, sublinhou o ativista.

Questionado sobre se a adesão ficou aquém do esperado, adiantou que a falta de divulgação e o horário da concentração – a partir das 12:00, sob um sol intenso – terá contribuído para dissuadir os manifestantes.

“Esperamos que a mensagem que está a ser passada a quem tem o poder de tomar decisões”, devendo, levar entre as principais anteriores “tornar o combate à corrupção mais sério e menos ativado e permitir o desbloqueio da imprensa nacional”.

“Se isto continuar assim, vamos continuar a sair à rua até que a resposta chegue”, prometeu.

Helena Pereira, outra das promotoras da iniciativa, elogiou a atitude “cordata” e colaborante da polícia que, falou com os organizadores previamente, tendo garantias de que se tratava de “uma marcha pacífica”.

O Largo 1.º de Maio era o objetivo da manifestação anterior, marcada para 11 de novembro, dia da independência de Angola, mas não chegou a ser concretizada, pois a polícia dispersou os grupos de jovens que queriam-se para o local com recurso a gás lacrimogéneo e disparos, garantindo sempre ter usado meios não letais.

Na sequência da manifestação, morreu um estudante de 26 anos, Inocêncio de Matos, mas existem diferentes versões sobre a morte. A versão oficial aponta para que tenha sido vítima de um “traumatismo sangue encefálico” por ofensa corporal com objeto contundente, o que a família rejeita com base em testemunhas oculares, que diz ter visto o jovem a ser atingido por uma bala e culpado a polícia .

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