O Presidente da República teria preferido que uma companhia de navegação assumisse o terminal multiuso do Porto de Luanda, em vez da DP World.
Segundo apurado, João Lourenço, finalmente, resignou-se a escolha da Dubai Ports, que não poupou despesas para ganhar o seu primeiro grande contrato na região austral do continente.
O terminal é visto como um dos mais apetecíveis projectos estratégicos do sector dos Transportes, pelo que nada poderia prejudicar a sua segunda privatização.
Por mais de uma década, a infra-estrutura foi gerida pelo então chefe da Casa Militar, general Hélder Vieira Dias, também conhecido como “Kopelipa”, antes de ser recuperado pelo governo de João Lourenço e colocado a concurso no final do ano passado.
No dia 11 de novembro, a DP World (Dubai Ports World) saiu vitoriosa num processo licitatório organizado conjuntamente pelos ministérios das finanças e transportes. O grupo dos Emirados obteve a devida adjudicação, apesar das dúvidas do palácio presidencial.
De acordo com o site África Intelligence, colaboradores mais próximo do PR preferiam que o desenvolvimento do terminal fosse confiado à CMA-CGM ou à Italian-Swiss Terminal Investment (65% controlada pela Mediterranean Shipping Co); ambas as empresas de navegação teriam sido capazes de aumentar rapidamente o tráfego no Porto.
Mas segundo fontes do site francês, a CMA-CGM desistiu durante a fase final da licitação, solicitando um período para reflexão.
A Terminal Investment apresentou uma oferta muito baixa, invocando também restrições monetárias em vigor sobre o kwanza que dificultam o repatriamento de lucros para fora de Angola.
Incapaz de atrair gigantes marítimos e sem vontade de intervir no processo do concurso, o Palácio Presidencial aceitou, portanto, a escolha da DP World, embora as relações entre Angola e Emirados Árabes Unidos sejam tensas: Isabel dos Santos – filha do ex-presidente José Eduardo dos Santos, que enfrenta inúmeras acusações em Angola relacionadas com ganhos alegadamente obtidos de forma ilícita e empréstimos preferenciais para desenvolver os seus interesses comerciais – vive no Dubai.
Aposta DP World Por sua vez, o gigante da logística portuária dos Emirados não poupou esforços para assegurar a gestão do terminal de Luanda, que lhe é concedido há vinte anos.
O grupo licitou cerca de $ 190 milhões, muito mais do que qualquer um dos seus rivais, e fê-lo apesar da presença existente em Luanda da subsidiária da Maersk APM Terminals, que gere o terminal de contentores desde 2007.
Ao fazer uma oferta muito generosa pelo terminal multiuso, a DP World estava empenhada em fechar uma grande concessão na região.
Presente principalmente na África Oriental, o grupo perdeu em 2019 para o Terminal Investment sobre o porto de Douala (Camarões), e agora está em desacordo com a administração de Felix Tshisekedi, que quer renegociar o contrato de concessão do porto de águas profundas da Ilha de Banana, Baixo Congo.
A sua única concessão na costa atlântica é para o terminal de contentores de Dakar.