Alexandre Massuela, um dentre os meus exímios Professores da Universidade Agostinho Neto (FCS), curso de Ciência Política, fundamentalmente da disciplina de Marketing e Comunicação Política, emprestou a ideia de Michel Bongrand para introduzir retoricamente a sua aula com a seguinte citação: “para chegar ao poder, para exercer o poder e prestar conta aos cidadãos, a política é comunicação”.
Ora, o desiderato deste texto não é só enfatizar a importância da comunicação política permanente que deve ser feita pelo presidente, como também é exercitar a aplicar, consistentemente, a valência aprendida com àquele prestigiado Professor, vejamos.
Em democracias, ou poliarquias como preferiu o Cientista Político norte- americano Robert Dahl, para ser presidente é preciso passar por um processo eleitoral, em que múltiplos ou bipartidos políticos competem a conquista do exercício e materialização do poder político. Pois, para o alcance deste poder, no processo eleitoral os partidos políticos servem-se do Marketing e Comunicação Eleitoral, sem descurar a Propaganda como uma estratégia ou instrumento de venda do “produto” ou imagem de um candidato a presidência ao eleitorado. Deste modo, o candidato presidencial no âmbito eleitoral a procura de votos para exercer o poder político, através do seu Programa de Governo, comunica-se com o povo, eleitoralmente, prometendo que vai garantir os Direitos de terceira geração, isto é, habitação, educação, distribuição de água e energia, emprego e saúde hospitalar etc, caso consiga ser presidente com maior percentagem de votos, aquela comunicação deixa de ser eleitoral e passa a ser, somente, comunicação política.
A comunicação política ultrapassa a comunicação eleitoral por ser caracteritizada de forma geral como permanente, temporal, global e credível, tendo como propósito transmitir uma mensagem no sistema político mediante a “tria officia” de Marcus Tullius Cícero, isto é; comunicar como forma de persuasão para “convencer”, “comover” e “agradar”, todavia, é pela persuasão como uma das formas da comunicação política que entendemos ser o caminho que o presidente João Lourenço ou de Angola deve seguir, permanentemente, transmitindo mensagens aos cidadãos quando estão submetidos a vários problemas ou manifestações, e de forma sincrética anota-se tais problemas em duas classificações:
1 – Manifestação do incumprimento das promessas eleitorais, tais como:
o Garantia de emprego, educação e saúde de qualidade;
o Revitalização de áreas urbanas ou garantia de habitação;
o Distribuição de energia e água;
o Alimentação acessível e a bom preço;
o Convocação das eleições autárquicas para melhor materialização das
políticas públicas etc.
2 – Manifestação de problemas para sua solução e conhecimento de causas, tais como:
o Roubos, assaltos, mortes e assassinatos questionáveis; o Desvio de dinheiros ou branqueamento de capital;
o Surgimento de epidemias e pandemias;
o Fenómenos catastróficos que destroem famílias;
o Comportamentos indecorosos por parte dos governantes e governados.
Como é evidente, política é comunicação. Deste modo, embora haja alguns problemas que o governo lourencista tem vindo a resolver, obviamente, quando há problemas reclamáveis daquela natureza ou promessas eleitorais não cumpridas como prometido no processo eleitoral, o melhor que um presidente pode fazer para ganhar a confiança do povo é, por meio de conferência de imprensa e bem orientado por um assessor, dirigir várias mensagens, com propósito de evidenciar as razões e transparecer mecanismos de solução, não obstante solicitar entrevistas aos órgãos de comunicação como temos observado no CIAM, em que a Comissão Interministerial de Angola “para a saúde” tem como objetivo transmitir mensagens sobre a pandemia do CORONAVÍRUS no país.
Pois, o acto da Comissão Interministerial é frutífero e democrático, mas comunicar-se, directa ou indirectamente com o Presidente da República é mais comovente e importante do que comunicar-se com os governantes que o representam, porque cuja importância assenta na lógica de ser o Presidente ou o responsável maior dos problemas que assolam o país em todos os sectores estruturais.
Observando, holisticamente, a história política do país desde 1979 à 2017, constata-se que o segundo Presidente de Angola José Eduardo dos Santos foi um presidente incomunicável, sereno e muito ignorante, o povo reclamava-se sem interação acerca da pilhagem, alto índice de desemprego, corrupção, branqueamento de capital, assassinatos de jovens manifestantes, execuções sumárias, demolições de residência, deixando famílias em riscos sem habitação, falta de energia e água potável, educação débil, nepotismo, abusos de poder e bajulação excessiva etc, não obstante algumas situações ter ainda acontecido no governo presente.
Como é óbvio, desde que JES herdou e conquistou o poder, nunca comunicou-se de forma democrática com os cidadãos, comovendo-os a reprender e tomar medidas justas aos seus auxiliares pelos actos que cometiam em manifestações políticas ou na política e na distribuição da Renda Nacional. Entende-se que não comunicar-se diante daqueles problemas foi dos grandes erros que fez o antecessor de João Lourenço perder o poder carismático ou a confiança dos cidadãos cautelosos, não só, cidadãos, como também, ou concomitantemente, militantes do MPLA como Marcolino Moco, Lopo do Nascimento e outros temidos que não estando de acordo, só interagiam por uma questão ideológica etc, sem descurar actores não militantes como Rafael Marques, a MOSAIKO e “músicos de Rap sombra” etc, que muito se dedicaram com os seus trabalhos filosóficos, científicos, artísticos ou literários, desmascarando aqueles males que o PR João Lourenço chamou de actos marimbondistas.
Mais uma vez, neste espaço de letras ônticas, alega-se que o grande objectivo é enfatizar que “política é comunicação”, é claro que possa haver deduções que o mais importante não é “toda hora falar e não fazer nada”, mas a verdade é que política é comunicação porque toda e qualquer acção política passa pela comunicação, que é uma das dimensões mais importantes para compreensão da democracia. E a verdadeira materialização da democracia é agradar o povo com boas mensagens e práticas de vidas que a lei estabelece, por isso, é importante que neste contexto que se vive em Angola uma crise económico-financeira e pandemia do Coronavírus, que o presidente comunique-se com os cidadãos permanentemente, e que numa conferência de imprensa responda questões que através das orientações do seu assessor podem ser respondidas algumas e outras não por uma questão protocolar.
Já é hora de fazer história incrível e diferente, começando a responder as preocupações dos cidadãos por meio da comunicação e prática política, e não silenciar- se conforme era o atributo de José Eduardo dos Santos. Quanto mais um cidadão ouve o presidente ou Vice-presidente numa comunicação a falar sobre os problemas do país e as suas razões, sem descurar no discurso os mecanismos de solução, mais o cidadão sente-se próximo do presidente, e se a mensagem for transmitida com realismo e clareza, mais é motivo para conquistar votos e confiança perpétua da maioria.
Seja importante, presidente, comunicando-se com os cidadãos, mas não te esqueça que a prática política também é comunicável, e uma importante prática política não é só garantir o emprego, a saúde, a justiça, a educação e habitação etc, também é, e de forma agradável, comunicar a dizer o porquê que aquelas garantias não se sentem na vida povo, ou de forma mais comovente é importante acalmar os cidadãos por meio de mensagens inspiradoras, consensualizando-os diante de um problema ou pandemia como Coronavírus, uma vez que, a cultura faz a lei, e o Estado de Emergência nunca foi, formalmente, cultura angolana, e como já foi implementada para ser vivida como cultura, comunicar-se com os cidadãos sobre a razão de ficar em casa com fome ou sem fome, sede ou sem sede é um acto muito importante que deve ser feito e permanentemente com mensagens diferentes de consolidação pelo Presidente de Angola, o que não significa que a mensagem dirigida pelos seus auxiliares é um acto desmotivador. Portanto, é sim um acto auxiliador, e muito mais quando feita de forma sistémica entre governantes e governados no sistema político.
POR Dorivaldo Manuel “Dorival”, Estudante Finalista de Ciência Política, na Universidade Agostinho Neto, FCS (2015-2018).
Poeta e Cronista.
dorivaldo- manuel@outlook.com
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