“O patrão diz que há medicamentos nos hospitais, quando, na verdade, não há nem sequer luvas para os socorrer”
Os profissionais de enfermagem na província de Luanda ameaçam avançar para uma greve a partir do próximo dia 15 de Fevereiro, caso a entidade patronal não tenha em conta as exigências inscritas no novo caderno reivindicativo, que passa pela melhoria das condições laborais, entregue no mês de Dezembro ao Gabinete Provincial de Saúde de Luanda (GPSL).
O secretário-geral do sindicato, Afonso Kilemba assegurou que a greve será um facto no próximo mês, caso a direcção provincial continue a fazer “ouvido de mercador” às preocupações que são levantadas há já algum tempo.
Segundo o sindicalista, a resposta da entidade patronal manifestada através de um documento na última semana, não agradou a classe por não estabelecer garantias e timing para a resolução dos problemas levantados. Daí que o Sindicato dos Técnicos de Enfermagem de Luanda pretende reunir em plenária para ser tomada a decisão da realização da greve no próximo mês.
Afonso Kilemba explicou que a vontade da maioria dos enfermeiros não é a greve, mas sim a satisfação dos principais problemas básicos que afligem os profissionais e que vão beneficiar os próprios, as unidades de saúde e a população que acorre aos hospitais.
De acordo com o líder sindical, a falta de materiais gastáveis nos hospitais faz com que muitos profissionais sejam agredidos física e verbalmente pelos familiares dos pacientes.
“Somos insultados, ameaçados e muitas vezes agredidos pelos pacientes ou familiares quando não há medicamentos para os atender. Porquê? Porque o patrão diz que há medicamentos nos hospitais, quando, na verdade, não há nem sequer luvas para os socorrer, daí a insatisfação de muitos e quem sofre com tudo isso somos nós”, descreveu o sindicalista.
Vários enfermeiros disseram à VOA que desde o começo da pandemia da Covid-19 no país, a classe tem sido muito prejudicada, comparativamente com a classe dos médicos.
Valéria Kuaiela, enfermeira há 18 anos, contou que nos hospitais onde trabalha não há condições para funcionar, e diz que o “Governo engana as pessoas quando afirma que há condições nos hospitais”.
“É tudo mentira, façam visitas surpresa às unidades municipais e verão a realidade. Não há materiais gastáveis e se há então não chegam aos hospitais, dão-nos uma máscara e quatro pares de luvas para 24 horas, isso não é normal. É triste quando um paciente chega ao banco de urgência e não temos nada para o atender”, disse.
Valéria Kuaiela, que trabalha no Hospital Municipal do Cazenga, diz que às vezes são mal entendidos quando solicitam aos pacientes ou aos familiares para que comprem material para serem assistidos, tudo porque o Estado vende a imagem de que está tudo bem, e que há medicamentos para os pacientes, “quando, na verdade, não há”.
“Se não tivermos cuidado levamos um soco. E muitas vezes temos de comprar medicamentos com o nosso dinheiro para acudir aqueles pacientes que chegam ao hospital sem condições e com crianças”, afirmou.
Entretanto, constam do caderno reivindicativo 16 pontos, onde se destacam: o abastecimento regular de fármacos, materiais gastáveis e de bio-segurança em todas as unidades sanitárias da cidade de Luanda; a implementação dos subsídios de horas extras: “o regulamento da carreira de enfermagem; a criação de condições para assistência médica-medicamentosa dos profissionais de enfermagem e os seus familiares; bem como abertura de concurso público interno ou de adequação de categoria e o cumprimento obrigatório das 36 horas e não 44 por semana”.