Nos últimos 40 anos o regime russo cultivou Donald Trump como um “ativo” valioso na disseminação de propaganda anti-Ocidente nos EUA. A revelação é de um antigo espião do KGB, num novo livro.
Nos últimos 40 anos o regime russo cultivou Donald Trump como um “ativo” valioso na disseminação de propaganda anti-Ocidente nos EUA. A revelação é de um antigo espião do KGB, que é entrevistado no novo livro “American Kompromat”, da autoria do jornalista Craig Unger. Ao jornal britânico The Guardian, este antigo operacional dos serviços secretos russos – Yuri Shvets – comparou Donald Trump o ex-Presidente norte-americano aos “Cinco de Cambridge”, um conjunto de espiões britânicos que ficaram na História por passarem informações a Moscovo durante a Segunda Grande Guerra e no início da Guerra Fria.
Trump era “o alvo perfeito”, na descrição deste ex-espião agora com 67 anos. O KGB “jogava o jogo como se estivessem impressionadíssimos pela sua personalidade”, explica o ex-espião que nos anos 80 foi enviado para Washington para trabalhar como correspondente da agência noticiosa TASS mas que, na realidade, produzia informação para o KGB. Shvets obteve cidadania norte-americana nos anos 90 e foi próximo de Alexander Litvinenko, ex-espião que morreu envenenado em Londres em 2006.
O ex-Presidente norte-americano “era um daqueles casos em que as pessoas são recrutadas quando ainda são estudantes e, depois, ascendem a cargos relevantes – foi isso que aconteceu com Trump”. As várias entrevistas que podem ler-se no livro, a antigos espiões russos e norte-americanos, dão detalhes sobre a forma como o KGB tentou, nos anos 80, “alimentar” empresários norte-americanos que pudessem revelar-se bons “ativos” para a Rússia, mesmo que não soubessem que estavam a ser instrumentalizados dessa forma.
Trump terá sido identificado como alvo na viragem para os anos 80, quando era um empresário em ascensão, no setor imobiliário – um empresário que entrou no radar do KGB em 1977 quando casou com a sua primeira mulher, a modelo checa Ivana Zelnickova. “Ele era um ativo. Era um alvo perfeito por muitas razões: pela sua vaidade, o seu narcisismo – foi cultivado ao longo de 40 anos, até à sua eleição”, diz o ex-espião.
E como é que Trump era “cultivado”? Um exemplo que surge no livro de Trump, publicado em 1987 (A arte do negócio), é a visita do magnata a Moscovo para estudar a possibilidade de construir um “grande hotel de luxo do outro lado da rua do Kremlin, em parceria com o governo soviético”. Na realidade, diz Yuri Shvets, essa viagem foi usada por operacionais russos para elogiar Trump e incentivá-lo a seguir uma carreira na política. “Sabiam que ele era extremamente vulnerável do ponto de vista intelectual e psicológico, e era sensível à bajulação”.
“Era isso que eles [os operacionais russos] aproveitavam. Eles jogavam um jogo como se estivessem impresionadíssimos com a personalidade deste tipo, dizendo que eram pessoas como ele que iam mudar o mundo e que devia pensar em concorrer à presidência dos EUA”, descreve Yuri Shvets. Passado algum tempo, após regressar aos EUA, Trump publicou em vários jornais um anúncio muito crítico para os EUA e para a sua política de defesa.