Dezenas de pessoas que tentaram hoje sair à rua para se manifestarem, mas foram impedidos pela polícia angolana, falam na existência de pelo menos dois feridos e vários detidos, informação não confirmada pelas autoridades.
Amanifestação marcada para um dia de feriado nacional, pela comemoração do 4 de fevereiro, data do início da luta armada em Angola, tinha como ponto de concentração o Cemitério de Santana, para chegar até ao Palácio Presidencial.
Segundo um ativista, Lourenço Dombolo, no momento em que 30 manifestantes chegaram ao local de concentração, pouco depois surgiu a polícia, que dispersou o grupo e deteve 20 pessoas, que foram deixadas na via expressa, um local bastante distante do sítio da manifestação.
“Mesmo assim não parámos, continuámos e concentrámo-nos no beco. Saímos do beco defronte ao comando provincial [Polícia], começámos com a nossa marcha, fomos até aos congoleses, de forma pacífica. A PIR [Polícia de Intervenção Rápida] apareceu e começou a fazer tiros, começaram primeiro a lançar bombas de gás lacrimogénio e por fim tiros de balas reais”, contou o manifestante.
Lourenço Dombolo referiu que enquanto não soltarem os detidos, os manifestantes vão permanecer na rua, acrescentando que dois ativistas foram supostamente “baleados”.
“Um está no Hospital Beiral e o outro no Américo Boavida. Infelizmente, não estamos a conseguir entrar em contacto, porque os números estão desligados”, afirmou.
O manifestante salientou que além dos 20 detidos iniciais há mais pessoas que foram levadas pela polícia, mas não consegue dizer quantas, por estarem “todos dispersos”.
O ativista diz não perceber “como é que uma polícia aparece em frente a um grupo de manifestantes indefesos, com armas de todo o calibre”.
“A polícia trouxe material de alto calibre, quer dizer, estão a seguir a ordem do senhor Paulo de Almeida [Comandante-geral da Polícia Nacional], que devia ser um comandante da Polícia Republicana e é comandante da Polícia do MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, partido no poder]”, criticou.
Por sua vez, Nelson Bartolomeu disse que a data de hoje foi escolhida para se manifestarem por ser “um dia de reflexão”.
“Faz 60 anos desde que lutamos pela libertação desse país e há 45 anos que a gente conseguiu, a nossa expetativa era chutar o colono [português] e entre nós, os irmãos, dar avante a um país, construir uma nação. O que se passa não é a construção de uma nação, o que se passa é que um grupo partidário governa o país a seu bel prazer”, queixou-se.
O jovem manifestante acusou o partido no poder de privilegiar apenas os amigos e de não construírem “uma política de não inclusão”.
“Extraem quem não é do partido, quem não é do partido não beneficia de nada, não tem privilégio a casa na centralidade, emprego, [para] muitas coisas tem que haver um cartão do partido”, disse.
Já Salomão Inocente disse que o objetivo da manifestação é exigir que o MPLA saia do poder, que detém desde 1975.
“Os manifestantes não têm armas, não têm objetos contundente, mas a polícia está a reprimir. Já houve relatos no [cemitério] Santana que foram alvejados a tiro dois manos, isso está a nos deixar preocupados, já não queremos que aconteça conforme nos aconteceu lá em Cafunfo”, frisou.
“O nosso objetivo é estar solidários com os manos em Cafunfo e não só, exigir os 45 anos do MPLA fora já do poder, que estamos cansados com esse regime”, sublinhou.
Um forte aparato policial estava no local, sendo constituído por Polícia de Intervenção Rápida, motorizada, cavalaria, canina, da ordem pública e bombeiros, e igualmente visível no Largo da Independência, onde os manifestantes pretendiam chegar.
Os bombeiros tiveram de apagar o fogo provocado por pneus incendiados na estrada, na Avenida Deolinda Rodrigues, supostamente colocados por manifestantes, que acusam “intrusos do MPLA” de serem os responsáveis.
Em declarações à agência Lusa, o porta-voz do comando provincial de Luanda da Polícia Nacional, disse, ao início da tarde, que a situação “é estável e está controlada” e que pequenos grupos ainda se encontravam no local, sem confirmar o registo de feridos e detidos.
“Não tenho ainda dados exatos, um balanço feito, só depois poderei adiantar com mais dados, mas pelo que saiba até agora não me chegou ainda nenhum dado relativamente a detidos ou não. Vamos aguardar que o dia termine para se fazer um balanço”, informou.