Esta semana, o presidente do MPLA partilhou com colaboradores muito próximos o seu desapontamento com a estratégia comunicacional do seu partido.
Superiormente comandada por Paulo Pombolo, secretário-geral, a actual estratégia comunicacional do MPLA deverá, a curto prazo, sofrer uma profunda reformulação, a qual pode, entre outras nuances, custar o cargo de secretário do Bureau Político para a Informação a Albino Carlos.
A Albino Carlos é reconhecida alguma incapacidade de questionar ou mesmo rejeitar algumas imposições de Paulo Pombolo.
O Correio Angolense apurou que a nova estratégia comunicacional que João Lourenço desenha para o seu partido deverá contemplar, ainda, o silenciamento de algumas vozes que causam mais prejuízos do que benefícios à imagem do MPLA. Tal passará, nomeadamente, por inibir que os órgãos de comunicação públicos, principais correias de transmissão do MPLA, continuem a estender os seus microfones a militantes que têm pregado o racismo e a xenofobia. O MPLA também sente imenso desconforto com militantes que têm dificuldades de se fazer perceber em português, sobretudo o escrito. .
O comunicado do Bureau Político do MPLA da última sexta-feira, que, ao que se diz, também teve as “impressões digitais” do tal militante que comunica mal em português, acionou o alarme e dissipou as dúvidas quanto à errática estratégia comunicacional do seu partido.
Esse comunicado entrou nos anais do MPLA como uma das suas maiores asneiras comunicacionais. “Eu diria que vai ser impossível repetir isso”, conforme ironizou ao Correio Angolense um velho membro do partido.
Naquela comunicação ao país, o partido governante fez algo inédito no seu percurso: incitamento aberto ao racismo e à xenofobia.
“Iluminada” pelo comunicado da direcção do seu partido, na noite desse mesmo dia, uma militante do MPLA foi às antenas da Televisão Pública pregar a teoria segundo a qual os angolanos devem ser divididos em puros e semiputos. Os puros seriam aqueles que teriam uma única nacionalidade – a angolana; os semiputos seriam aqueles que à nacionalidade originária angolana agregaram uma segunda, como a lusa, por exemplo. Esse é, coincidentemente, o caso da “ inventora” do que seria a adaptação à realidade angolana da versão hitleriana do arianismo.
“Contaminado” pelo vírus do racismo e da xenofobia, que o comunicado do BP espalhou profusamente, o tal militante que mal se consegue fazer perceber, foi ao limite da sua inteligência para pregar essa “preciosidade científica”: A questão (…) é um debate de cidadania e não um ataque às suas origens, embora a sua antropologia física mostra mais uma caracterista insular ou arquipélagos e não um angolano de matriz Bantu ou afro pela estrutura física e até a dicção onde não se denota a influência de nenhuma língua africana(…)”.
Arrastada pelo efeito cascata do comunicado do Bureau Político do MPLA, na noite de quarta-feira, a TPA reincidiu, ao levar a debate um assunto despropositado e estapafúrdio: Eleições Presidenciais vs. Dupla Nacionalidade.
O pressuposto do debate seria dar “oxigénio” à referida versão angolana do arianismo de Hitler, que visa afastar da próxima corrida às presidenciais angolanas determinados indivíduos por supostamente não serem 100% angolanos..
Como já aqui referimos a semana passada, a Lei de Murfy encaixa-se que nem uma luva ao MPLA: nada está tão mau que não possa piorar. O debate foi um completo desastre para a estratégia comunicacional do MPLA. Esteves Hilário e Fernando Ribeiro, as presumíveis armas secretas do MPLA, foram literalmente trucidados.
Fernando Ribeiro chegou mesmo a suscitar comiseração, tão pendurado estava na única tese de suposto oportunismo.
São autogolos como o de quarta-feira a noite e outros que legitimam as preocupações do líder do partido com a estratégia comunicacional adoptada pelo MPLA.
Num momento em que não saem da agenda do dia os acontecimentos de Cafunfo, as profundas assimetrias e a incapacidade, reconhecida pelo próprio MPLA, de diminuí-las; num momento em que se aprofunda o fosso entre os que tudo têm e os que nada têm; num momento em que Luanda, a capital do país, está sufocada pelo lixo, já nenhum cidadão está afim de engolir balelas.
Lavram em caminhos erráticos aqueles que, ao comando da estratégia comunicacional do MPLA, continuam a acreditar que é infinita a disponibilidade dos angolanos de engolir sapos.
Segundo apurou o Correio Angolense, a reformulação da estratégia comunicacional do MPLA deverá passar também pelo Gabinete de Acção Psicológica e Informação (GAPI), uma estrutura dependente da Casa de Segurança do Presidente da República.
Liderado por Norberto Garcia, um indefectível de José Eduardo que João Lourenço resgatou do ostracismo após ser absolvido no julgamento do rumoroso caso conhecido como “Bula Tailandesa”, é do GAPI que se supõe saírem os fundos que sustentam mediocridades contra desafectos políticos postadas nas redes sociais.
Entre essas mediocridades, sempre subscritas por pessoas sem rosto, destacam-se a apologia a um terceiro mandato presidencial para João Lourenço, ataques racistas adversários políticos e insultos a jornalistas.
Tem-se como quase certo que o presidente do MPLA encorajará o reforço do “team” comunicacional com quadros de reconhecido valor, abundantes no MPLA.
A actual cúpula comunicacional não tem sido capaz de interpretar correctamente as instruções dos assessores brasileiros aos quais o MPLA paga principescamente.