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Angola: “O eterno problema da gestão do lixo em Luanda” – Hilaria Vianeke

O problema da gestão do lixo em Luanda é tão antigo como as pirâmides, permitam-me a comparação. Desde que tenho uso da razão existe este problema. São incontáveis as vezes que a população assumiu modelos novos de recolha de resíduos na capital do país, alguns com certo resultado, embora a curto prazo. Senão todos, a grande maioria dos governadores e governadoras que a capital do país teve, tentou resolver sem êxito o problema da gestão de resíduos na cidade de Luanda.

Falar da gestão dos resíduos é sem dúvida, falar de saúde pública, de saneamento básico e, com certeza, falar da proteção do meio ambiente. Num mundo onde todos os países, sejam eles ricos ou não, a preocupação pelo câmbio climático, o aquecimento global e o que é, mas importante a saúde da população, preocupam em grande medida a todos os governos e são prioridades nas suas agendas, onde se situa o governo de Luanda?

O que é que acontece com Luanda? Por que é que nenhuma das inúmeras empresas de gestão de resíduos foi capaz de acabar com a sujeira na nossa capital? Aonde vai parar o dinheiro das taxas do lixo?

Quero aqui deixar alguns conselhos, não gostaria que se insinuasse que apenas emitimos comentários negativos e não se é capaz de oferecer nenhuma possível solução. Gostaria de convidar a Sra. Governadora da capital a começar a pensar na economia circular. Talvez seja hora de que a ponhamos de moda em Angola, especialmente em Luanda a reciclagem, a reutilização dos produtos, o alargamento da obsolescência programada.

Lembremos, que uma garrafa de plástico poder ter muitas vidas e leva mais de 100 anos para a sua decomposição no meio ambiente. Portanto, o melhor mesmo é aprendermos a dar outra vida e outro uso a todos os produtos, aplicando os cinco Rs, Reciclar, Reduzir, Reutilizar, Recuperar e Reparar. Tentemos conseguir que a população assimile esta ideia. Que ela entenda que o saco de plástico que não se recicle, acabará no estomago do peixe que ela irá comprar na praia da Mabunda, e que o ferro que não se recicla, ao enferrujar-se, poderá aleijar o seu filho ou o da vizinha e provocar-lhe uma infecção por tétano e morrer; em definitiva, o assunto do lixo nos concerne a todos e todas.

Cabe recordar, que o lixo gera muita riqueza, muitos postos de trabalho diretos e indiretos. Os países que conseguiram gerir o lixo com eficiência, de uma só vez resolveram muitos problemas. Conseguiram cidades limpas, população saudável, jovens empregados em postos de economia circular e são países meio ambientalmente sustentáveis. Como exemplo temos o Ruanda, que no ano 2019 recebeu o prêmio de país, mas limpo de toda África abaixo do Sahara. A seriedade na questão da gestão de resíduos é tal, que em março de 2020 a União Europeia aprovou um plano de gestão de resíduos virado à economia circular, tendo como eixos fundamentais a aplicação dos 5 Rs, citados anteriormente.

No caso de Luanda, a melhoria da gestão de resíduos passaria talvez também pela aplicação dos 5 Rs. E como? A ideia é que o GPL (Governo Provincial de Luanda) deve mudar a sua estratégia na sua totalidade. Atualmente em Luanda, todos os resíduos se depositam num só contentor, esta medida impossibilita o processo de reciclagem e tratamento dos resíduos. O melhor é separar. Cada resíduo deve ir ao contentor correspondente e as famílias em casa devem habituar-se a separar. A recolha do lixo, por sua vez, deve ser constante, quero dizer pelo menos de 2 em 2 dias, se não pode ser diária.

O GPL, deve colocar em cada rua segundo a sua extensão em metros, 4 ou 5 contentores de recolha de lixo, cada um deles separado por cores com a indicação do que deve ser depositado em cada um deles: O contentor azul, para os resíduos de papel, o amarelo, para os resíduos de plástico, o vermelho para os resíduos orgânicos e o verde para os resíduos de vidro e assim sucessivamente. Deixo cá um exemplo.

Exemplos de modelo de reciclagem do lixo.

A recolha de cada contentor corresponderia a empresa com quem o GPL, tivesse vendido de antemão esse lixo para o seu tratamento, reciclagem, reparação e correspondente reutilização, aplicando o famoso Life cycle assessment (LCA), empresas que terão contratados desde engenheiros, a economistas, sociólogos, operários de separação, trituração, incineração, etc., gerando como podem ver postos de trabalho em diferentes sectores.

O lixo, como dizia aquela publicidade, pode ter muitas vidas, mas que tipo de vidas pode ter? E que tipo de vida tem o lixo de Luanda? o que é que podemos fazer com ele? Deixo-vos apenas duas possibilidades de vida que se podia dar a uma parte do lixo gerado diariamente na cidade capital.

Copos de plástico fabricados com garrafas de plástico reciclado.

Novo modelo de sapatilhas Adidas, fabricado com plástico reciclado.
Há muito que dizer sobre uma correta gestão dos resíduos domésticos e urbanos, mas neste momento entendo que as palavras sobram. O que é mesmo necessário é a ação, a mudança de paradigma, seriedade, responsabilidade pela vida e saúde dos citadinos, o sentido comum para resolver uma questão que deixa em mau lugar a todos os cidadãos do país, já que não nos podemos esquecer que Luanda, ao ser a capital do país, é o postal de Angola; é a porta principal, de todos os visitantes, e por isso compete a todos mantê-la limpa e cuidada.

Hilaria Vianeke

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