Durante a Revista Zimbo de segunda-feira, 22, o deputado David Mendes propôs que o Presidente da República estabelecesse alianças dentro do seu partido na luta contra corrupção em marcha no país, e apontou nomes de generais como sendo ameaças directas contra esta frente do Chefe de Estado.
Questionado pela jornalista se os elogios dos Estados Unidos pelo trabalho que tem sido feito pela gestão do PR, vem como reconhecimento de algumas das reformas que, apesar de criar mal-estar no seio de algumas pessoas precisam de ser feitas, o deputado foi firme na resposta, avança o Jornal na Mira do Crime
“Reformas têm que acontecer, Angola não tem outra saída, este elogio é como se fosse uma alavanca, porque muitos sentimos que há pessoas que querem que este processo não vá para frente. Não é possível que este processo se consiga de um dia para o outro, estamos a falar de grupos bem estruturados e com economia forte, e com poder de intervenção na política”, sustentou.
David Mendes explicou que, em última instância, quem determina a política é a economia, e na luta contra corrupção compra-se muitos inimigos.
“Vamos assistir no próximo congresso do MPLA, as dificuldades que o Presidente vai ter para fazer passar a sua moção, porque quando ele começa a combater a corrupção no seio do seu próprio partido, vai criando anticorpos. Há pessoas que estão a espera do momento certo para reagirem, não pensemos que estas pessoas estão paradas, estão a se organizar… estão a pensar assim, ou ele (PR) recua, ou se ele avança apostamos noutro projecto”, alertou.
Golpes de Estado motivados pelo combate a corrupção
O político fez referência a conflitos da região da África Ocidental, motivados por tentativas de combate à corrupção, em que no próprio partido cria-se um clima de instabilidade, e outros que acontecem os golpes de estado.
“Porque um grupo que sente os seus interesses em causa, fazem tudo para o manter”, avisou.
Alianças estratégicas
De acordo com também advogado, há necessidades do Presidente da República fazer alianças estratégicas com os militares, para garantir que pessoas externas não influenciam os militares, “porque eram militares que dominavam as dragas de diamantes nas lundas”.
Segundo David Mendes, os donos dos dinheiros que hoje estamos a ver são os generais “Dino, Kopelipa, Zé Maria e Higino Carneiro…estamos a falar de um país de generais. Um general não perde a guerra assim, um general luta até as últimas consequências, então o Presidente tem que saber fazer alianças”.
Higino responde David Mendes
No entanto, o General e deputado do MPLA, Higino Carneiro, respondeu David Mendes, num direito de resposta enviado a TV Zimbo.
Na nota, o general diz que David Mendes ousou falar da sua pessoa envolvendo-o em actos que não estão provados, como sendo um dos protagonistas de acções desestabilizadoras do país.
“O doutor David Mendes disse que”, citamos, “na África Ocidental existem golpes de estados por causa da luta contra corrupção, acrescentando que um grupo que sente que os seus interesses em causa, faz tudo para mantê-los”.
De acordo com o deputado do MPLA, no caso de Angola, David Mendes cita angolanos forte economicamente que podem através de um golpe de estado, atentar contra a Ordem Constitucional, e nomeou vários generais, entre os quais Higino Carneiro.
O deputado afirma que associá-lo a um golpe de estado, é desconhecer a essência de como foram formados politica e ideologicamente pelo glorioso MPLA.
Higino Carneiro afirma também que não é forte economicamente sendo que, apenas com 19 anos, começou a servir o MPLA, e com 20 anos já era um militar das FAPLA com responsabilidades acrescidas.
No seu direito de resposta, o militar diz que o Presidente João Lourenço e os seus auxiliares, estão a trabalhar para alterar as dificuldades sociais que muitas famílias angolanas estão a viver, e diz associar-se a estas dificuldades.
Por essa razão, considera que estas dificuldades não podem servir de pretexto para David Mendes especular e fazer acusações descontextualizadas.
General João Lourenço deixa justiça tratar dos generais ‘intocáveis’
Desde que assumiu para si a luta contra a corrupção, generais apelidados como intocáveis no tempo de José Eduardo dos Santos, como Dino e Kopelipa – foram alvos de processos-crime. Estes dois principais protagonistas da governação de JES, são os mais conhecidos de entre os militares que enriqueceram em grande escala durante o reinado dos Santos.
Higino Carneiro e Cruz Neto também já estão a contas com as autoridades de Angola e Espanha, respectivamente.
Os sectores do petróleo e dos diamantes são elos em comum.
Estiveram todos ligados ao ex-Presidente José Eduardo dos Santos e, ao longo dos anos, acumularam fortunas bastante evidentes, assim como participações em empresas que operam em sectores de controlo estatal.
Petróleo, diamantes, segurança, agropecuária – poucos sectores da economia escapam a esta rede.