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Angola: Reivindicações sociais e políticas “voltam a levar angolanos às ruas em protesto”

Ativistas angolanos convocaram para este sábado (20.03) uma marcha pelo fim do elevado custo de vida e por autárquicas em 2021. “As manifestações não vão parar”, frisou um dos organizadores em entrevista à DW África.

A primeira marcha convocada pelo grupo de ativistas aconteceu a 3 de outubro de 2020 e desde então aconteceram outras duas. Passados quatro meses, desde a última realizada a 11 de novembro, consideram que nenhuma das reivindicações levantadas foi “atendida por quem de direito”.

Assim sendo, os ativistas dizem que veem-se “compelidos a sair novamente às ruas” e partem para a quarta “Marcha pela cidadania, pelo fim do elevado custo de vida e por autárquicas em 2021”.

Dito Dalí, um dos ativistas envolvido na organização, em conversa com a DW África, garantiu que estão “focados” nos seus objetivos e que medidas como a revisão pontual da constituição não vão “distrair a sociedade”.

DW África: O que está a ser preparado para a Marcha da Cidadania em Luanda este sábado?

Dito Dalí (DD): Nós estamos a preparar a manifestação para exigirmos um conjunto de reivindicações, ou seja, um conjunto de reformas. O local da concentração é no cemitério da Santana às 10 horas, com partida ao meio dia, com direção ao Largo da 1º de Maio. Onde estaremos a protestar até que o Presidente da República atenda as nossas exigências. Caso contrário, as manifestações não irão parar.

Segundo Dito Dalí, um dos objetivos continua a ser exigir a calendarização das eleições autárquicas

Haverá manifestações também em Benguela, Huambo, Lubango, Namibe, entre outras províncias assim como também na diáspora. Há angolanos também que saíram à rua para protestar porque o problema todos nós. Quer os que estão dentro e fora de Luanda. Estaremos todos, nesse dia, unidos para lutarmos pelos direitos de todos nós.

DW África:  Esta será a quarta marcha que convocam desde outubro de 2020. As reivindicações são as mesmas e não têm sido atendidas ou o país continua a dar mais motivos para continuarem os protestos?

DD: No ano passado, por exemplo, o Presidente da República convocou aquela reunião da juventude e é sinal de que estão a par das nossas exigências e têm estado a acompanhar. Então, entendemos que vamos continuar a protestar. Eles não podem se fazer de fingidos, como se não estivesse a acontecer nada. Vamos continuar até que tenhamos as coisas resolvidas. Podem vir com essas políticas para distrair a sociedade – como, por exemplo, a revisão da Constituição – para “arrastar” o nosso foco. Nós não estamos preocupados com a revisão da Constituição. Temos um foco e as nossas exigências são claras, temos estado a publicar em manifestos e eles sabem aquilo que nós queremos.

DW África: Um dos vossos objetivos continua a ser exigir a calendarização das eleições autárquicas. Que outras reivindicações vão levar às ruas?

DD: Sim, estamos a exigir que haja a institucionalização das autarquias locais em 2021 porque Angola é o único país da região da SADC [ Comunidade de Desenvolvimento da África Austral] que não institucionalizou as autarquias locais. O segundo ponto tem que ver com a revisão da legislação eleitoral. Angola tem uma legislação eleitoral que praticamente é uma armadilha, favorece o partido no poder e não atende os interesses dos angolanos. Mais do que exigir a revisão pontual da Constituição, o correto é que haja reforma na legislação eleitoral.

Estamos a exigir também a destituição do presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), Manuel Pereira da Silva “Manico“. Foi nomeado para presidir a CNE num processo fraudulento e o próprio tem processos no tribunal. Esse indivíduo não é uma figura idónea para conduzir a CNE.

Alguns dos protestos realizados no país terminaram em confrontos entre os manifestantes e a polícia

Outra das nossas reivindicações prende-se com o afastamento do diretor do Gabinete do Presidente da República, Edeltrudes Costa, envolvido em escândalos de corrupção. Tendo João Lourenço iniciado uma luta contra a corrupção, não pode permitir que o seu diretor do gabinete – a desviar fundos públicos – se mantenha no seu gabinete. Desviou dinheiro para Portugal, dinheiro esse que serviu para comprar apartamentos, carros de luxo e outra parte foi destinado aos “Panamá”. Enquanto isso; temos pessoas a morrer à fome em Angola, pessoas a morrer nos hospitais, por falta de equipamentos.

E, claro, também o custo de vida que temos em Angola. O Presidente deve criar políticas públicas funcionais e concretas para reduzir o custo de vida no país. Um saco de arroz hoje em Angola custa 17 a 20 mil Kwanzas, não podemos aceitar isso. Não se entende.

DW África: Os protestos em Angola têm sido, alguns deles, marcados por violência e repressão por parte das forças de segurança. Estão a precaver-se para evitar que esse cenário se repita?

DD: Da nossa parte apelamos às autoridades que cumpram com as leis. Tal como manda a Constituição da República, a manifestação não carece de autorização. Carece simplesmente de comunicação. Nós já notificámos as autoridades e apelamos a que as forças de defesa e segurança apareçam para proteger os manifestantes e não para brutalizar. Se voltarem a brutalizar, a massacrar, a matar, a responsabilidade voltará a recair sobre a cabeça do Presidente da República. Os poderes estão concentrados numa só figura e é ele que orienta os seus subordinados e que determina o que as forças devem ou não fazer.

Esperamos que cumpram com a lei e nós vamos continuar a monitorar as forças de defesa e segurança nas manifestações. Caso a polícia venha a brutalizar, prender as pessoas, haverá sempre uma equipa que fará o registo no local e esperamos que as autoridades cumpram com a lei e respeitem.

 

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